Uma crise de enxaqueca pode ser precedida, por alguns minutos, por alterações sensoriais, como estrelinhas no campo visual, que duram habitualmente poucos minutos. Esse é um fenômeno que ocorre em cerca de um quarto das pessoas que sofrem de enxaqueca e é chamado de aura, uma das quatro fases da doença. Outra fase é a própria dor, e ainda existem duas outras que falaremos a seguir.
Antes mesmo dos sintomas de aura, muitas pessoas percebem, até com 48 horas de antecedência, que uma crise está por vir. Os sinais incluem aumento do apetite e sensibilidade à luz e a estímulos sonoros, fadiga, tontura, rigidez e/ou dor na musculatura do pescoço, bocejos, irritabilidade, entre outros. Esses sintomas premonitórios representam a fase prodrômica da enxaqueca. A última fase é chamada de posdrômica, com sintomas semelhantes às da fase prodrômica, e é como se fosse uma ressaca após a fase de dor, podendo durar até 48 horas.
Se a maioria das pessoas com enxaqueca reconhece sintomas premonitórios — um estudo mostrou que esse é o caso em 77% dos pacientes —, por que não usar uma medicação para abortar a crise ainda nesta fase? Teoricamente, isso faz todo o sentido. Esta semana, tivemos a publicação de um estudo na revista Neurology, da Academia Americana de Neurologia, mostrando de forma pioneira que o uso de medicação já no pródromo é mais eficaz do que no início da fase de dor. A medicação utilizada foi o ubrogepant, ainda não disponível em nosso meio, mas os resultados positivos podem se replicados com medicações disponíveis no Brasil e precisam ser testados em novos estudos.
*Ricardo Afonso Teixeira é doutor em neurologia pela Unicamp e neurologista do Instituto do Cérebro de Brasília