Turismo

Belém, a capital mundial das florestas e do futuro sustentável

A capital do Pará, palco da maior manifestação religiosa a céu aberto do país, o Círio de Nazaré, prepara-se para ser a capital das florestas do mundo na Conferência do Clima (COP-30)

A cidade de Belém, no Pará, se prepara para receber chefes de estado, executivos, cientistas e militantes ambientalistas de mais de 100 países, na Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, a COP-30, entre 10 e 21 de novembro de 2025, da qual devem participar 50 mil pessoas. São apenas 15 meses para preparação do evento, que exige a realização de grandes obras de infraestrutura e investimentos de mais de R$ 4 bilhões. Até lá, a cidade passará por dois Círios de Nazaré, a maior manifestação religiosa a céu aberto do Brasil, que se realiza no segundo domingo de outubro, com a participação de dois milhões de peregrinos.

Além da ampliação da rede hoteleira de alto padrão, com a construção de dois hotéis no Porto Futuro II, um prédio antigo da Receita Federal, que sofreu um incêndio em 2012, será transformado em hotel. O governo paraense também abriu negociações com Airbnb para ampliar de 700 para 1.400 o número de imóveis disponíveis na plataforma em Belém. Mas a principal solução será o uso de navios cruzeiros como acomodações para o público. A dragagem do canal da baía do Guajará, que dá acesso ao Porto de Belém, exigirá a remoção de 6,5 bilhões de m³ de resíduos. Será um dos grandes legados da COP-30, porque permitirá que Belém entre no roteiro dos grandes cruzeiros marítimos e receba navios de passageiros de grande porte.

O governador Helder Barbalho, grande responsável por atrair o evento para a Amazônia, durante a COP-28, em Dubai, argumenta: “É preciso promover o protagonismo da Amazônia na luta contra o aquecimento local. Essa é a grande oportunidade para o Brasil reafirmar seu papel na diplomacia ambiental”. 

Para que a floresta possa trazer suas riquezas para o dia a dia da população, é preciso investimentos para que atividades econômicas baseadas nos conhecimentos ancestrais possam ter acesso à tecnologia e à inovação e gerem empregos verdes e oportunidades. “Podemos fomentar a indústria de fármacos, de cosméticos, dando uma escala de uma nova economia para a nossa região, sempre fortalecendo o combate às ilegalidades ambientais, reduzindo o desmatamento e fortalecendo a recuperação de áreas”, destaca Barbalho.

Bruno Cecim/Ag. Pará - Forte do Castelo

Mantendo o legado

A guardiã da Amazônia somente em 1823 veio a se integrar ao Brasil, pela força, na Guerra da Independência. Proteger a Amazônia é uma missão histórica de Belém. Seu fundador, Francisco Caldeira Castelo Branco, recebeu ordens do rei Filipe II, o Pio, de subir o rio Amazonas em 22 de dezembro de 1615, durante a União Ibérica (1580-1640). A Coroa Portuguesa, em alerta com a fundação da cidade de São Luiz, no Maranhão, pelos franceses, três anos antes, decidiu fortificar a entrada do Amazonas, temendo que a Holanda, a França, a Inglaterra ou a Irlanda ocupassem a região, como aconteceu nas Guianas.

Depois de 20 dias rio acima, acompanhado de 120 soldados, Castelo Branco avistou a baía de Guajará, na verdade um grande mangue, no qual se destacava uma região elevada, perfeita para uma fortificação. A cidade de Belém surgiu com a construção do Forte do Castelo do Santo Cristo, também conhecido como Forte do Presépio, e da primeira capela, em 1616, na confluência do rio Guamá com a baía de Guarajá, na foz do rio Pará, complexo estuarino que funciona como canal entre o Tocantins (e a baía do Marajó), Campina Grande (ou baía de Portel) e o Amazonas (delta do Amazonas), além de outros rios menores e igarapés.

 

Pedro Guerreiro/Ag.Pará - Estação das Docas, importante ponto turístico da região

A cidadela edificada a partir de uma praça de armas, com os prédios da igreja e da administração imperial, atingiu seus objetivos, dando origem à atual Cidade Velha. Ao longo do tempo, Belém adquiriu características de cidade portuária e porta de entrada para a região Amazônica. No século 18, a Coroa Portuguesa tomou medidas incentivadoras ao desenvolvimento econômico. 

Seu território incluía o Piauí, o Amazonas, o Amapá e Roraima. Ligava-se diretamente a Lisboa, mesmo após a chegada da família real com D. João VI, em 1808. Somente em 1823 veio a se integrar ao Brasil, na Guerra da Independência. Belém passou, então, a viver um de seus períodos de prosperidade, gerado pela Companhia de Comércio (empresa responsável pela inserção da mão de obra dos escravos negros na Amazônia), que integrou a Região Amazônica à economia do mercado internacional, principalmente com a extração e exportação da borracha.

Vocação gastronômica

Belém é uma joia da arquitetura, da história e da cultura brasileira, mas também da gastronomia. Porta de entrada da Região Amazônica, conta com a exuberância da floresta e do rio para tirar o melhor dos ingredientes dos seus rústicos ou sofisticados pratos. A seguir um roteiro para se deliciar na cidade.

 

 

Manjar das Garças

Pedro Guerreiro/Ag.Pará - Mangal das Garças

No Parque Mangal das Garças, o sofisticado restaurante oferece bufê com ingredientes locais. Bom para provar de tudo um pouco, da maniçoba ao tacacá. À noite, o serviço é à la carte. O filhote é divino. Vale a pena ver o entardecer no parque, quando centenas de garças chegam para se alimentar.

Sushi Ruy Barbosa

Culinária japonesa com ingredientes do Pará. Só em Belém. O cardápio utiliza peixes locais nos sushis e sashimis e frutas tropicais nos drinques incríveis.

Portinha

Em meio ao casario colonial da cidade, o Portinha é opção para excelentes lanches. As esfirras são herança libanesa, mas os sabores são paraenses: pato ao tucupi e camarão com jambu, por exemplo. Tem empada de queijo cuia com creme de jambu, vatapá e torta de frango.

Amazon Beer

Nem só de Cerpa vive o paraense. Stout Açaí, Florest Bacuri, Witbier Taperebá, Red Ale Priprioca, IPA Cumaru são cervejas nas quais os diversos sabores da floresta estão presentes.

Sorveteria Cairu

Nomes exóticos e a quantidade de sabores dificultam a escolha do sorvete, mas todos valem a pena: bacuri, uxi, araçá, cupuaçu, graviola, murici, taperebá, açaí, castanha-do pará. Açaí com tapioca, castanha-do-pará e cairu (coco com raspas de chocolate) são imperdíveis. Tem vários endereços em Belém.

Point do Açaí

O açaí é servido também com comida salgada no Pará. No Point do Açaí, o garçom assessora a degustação da chapa mista paraense. Deve-se intercalar uma garfada do prato salgado, com uma colherada de açaí com tapioca. Misturar tudo no mesmo prato é pecado. Banana? Nem pensar!

Mercado Ver-o-peso

Bruno Cecim/Ag.Pará - Mercado Ver o Peso

Mesmo em reformas, é um grande centro gastronômico popular. No Box da Lúcia, camarão e filhote empanados são imperdíveis, com ingredientes frescos e bem elaborados. Na Barraca da Carmelita, experimente as frutas exóticas e água de buçú (com efeito medicinal para problemas gástricos). 

Expressão de fé

Marcelo Souza/Ag.Pará - Círio de Nazaré: traz mais de 2 milhões de peregrinos para a cidade

A procissão do Círio de Nazaré, que ocorre em outubro, tem 3,6km de percurso, saindo da Catedral, na Cidade Velha, até a Praça Santuário de Nazaré. É um evento que se repete a mais de dois séculos – a primeira saiu na tarde de 8 de setembro de 1793. O Círio passou a ser realizado pela manhã, a partir de 1854. Em 1882, o bispo Dom Macedo Costa, de comum acordo com o então presidente da província, Dr. Justino Ferreira Carneiro, resolveu que o ponto de partida seria a Catedral, o que acontece até hoje. Entretanto, não é o único evento. A programação é extensa, com muitas romarias, missas, e procissão marítima e a motociata, além de feiras e shows.

A Belle Époque

Jader Paes/Ag. Pará - Theatro da Paz

O dinheiro gerado pela comercialização da borracha foi muito importante para a reestruturação urbana de Belém, especialmente a partir de 1897, no governo de Antônio Lemos (1897-1911), que promoveu uma renovação estética e higienista da cidade e de seu porto: a chamada belle époque paraense. Como em outras cidades brasileiras, a reforma urbana teve como modelo a famosa reforma de Paris, do Barão Hausmann, com suas ruas largas ou boulevards, iluminação pública e espaços verdes.

A elite paraense, enriquecida com o comércio da borracha, estava empenhada em mostrar aos investidores que a cidade era salubre e segura, situação que, de certa forma, se repete agora, com a preparação para a COP-30 e a busca de investidores na nova economia verde. À época, Belém tornou-se um centro financeiro, de consumo, luxo e divertimentos. A construção do Boulevard da República, próximo ao cais do porto, simbolizou a mudança:  ruas, rede de esgotos, transportes públicos, bosques, quiosques e praças.

Theatro da Paz

Jader Paes/Ag. Pará - Theatro da Paz

Com 130 anos, o Theatro da Paz é hoje o símbolo dessa época. Foi a primeira casa de espetáculos construída na Amazônia, com 1.100 lugares (hoje tem 900), acústica perfeita, lustres de cristal, piso em mosaico de madeiras nobres, afrescos nas paredes e teto, dezenas de obras de arte, gradis e outros revestidos com folhas de ouro. Está aberto a visitas guiadas, de terça-feira a domingo, sendo gratuitas na quarta-feira..

O neoclássico italiano, presente nas suas sete colunas e sete entradas, foi reformado em 1905, com a retirada de uma coluna e uma entrada, para instalar os medalhões de musas que representam as artes cênicas: comédia, poesia, música e tragédia; nas laterais, a dança; no centro, o brasão do estado do Pará. No hall de entrada, há ferro fundido inglês nos arcos das portas; escadaria em mármore italiano; lustre francês; bustos em mármore de carrara de José de Alencar e Gonçalves Dias.

No Salão Nobre (foyer), além de espelhos e lustres em cristal francês, destacam-se os bustos em mármore de carrara de Carlos Gomes e Henrique Gurjão. No mezanino, a pintura do teto, de 1960, é de Pernambuco Armando Baloni, que retrata as musas da música ladeadas pela fauna e flora amazônicas. Na sala de espetáculos, destaca-se o afresco do teto central, com o deus Apolo conduzindo a deusa Afrodite e as musas das artes à Amazônia. O pano de boca, intitulado Alegoria à República, foi pintado na França, no ateliê de Carpezat, sendo inaugurado em 1890.

Orquestra e banda de jazz

Fundado em 15 de fevereiro de 1878, o teatro foi projetado e construído pelo engenheiro militar José Tibúrcio de Magalhães, com projeto arquitetônico inspirado no Teatro Scala de Milão (Itália). Neste ano, o Festival de Ópera do Theatro da Paz, que se realiza em maio, setembro e dezembro, traz como tema Vozes ecoando Amazônia e faz parte da preparação da cadeia produtiva da cultura local para receber a COP 30, quando haverá uma programação grandiosa.

A Orquestra Sinfônica do Theatro da Paz (OSTP), com 28 anos, é uma de suas atrações. Apresenta-se regularmente, desde janeiro de 2011, sob a batuta do maestro Miguel Campos Neto. Arnaldo Cohen, Arthur Moreira Lima, Miguel Proença, Antonio Del Claro, Emmanuele Baldini, Eliane Coelho, Rosana Lamosa, Ryu Goto, Ji Young Lim, Luís Rossi e Robert Bonfiglio, entre outros, já se apresentaram com a orquestra.

O teatro também mantém a Amazônia Jazz Band. Foi formada, em 1994, com elementos remanescentes da extinta Big Band, grupo artístico da Fundação Carlos Gomes. 

Palacetes e igrejas guardam a cultura e a religião

Forte do Castelo – Berço da cidade construída por Castelo Branco, em 1616, para proteger a Amazônia dos invasores europeus. Possui um acervo com peças de cerâmica marajoara e tapajônica de anteriores à chegada dos portugueses. Guarda intacto os canhões originais. Também chamado de Forte do Presépio.

Bruno Cecim/Ag. Pará - Forte do Castelo

Palácio Antônio Lemos – Construído em 1883, abriga o Gabinete Municipal e o Museu de Artes de Belém, com um acervo de quase mil obras de arte.

Palácio Lauro Sodré – Arquitetada pelo italiano Antônio Landi, a antiga sede da província do Grão-Pará, hoje abriga o Museu do Estado do Pará.

Palácio Velho – Relíquia arquitetônica no complexo do Carmo, com grande importância histórica para Belém, o imóvel possui dois pavimentos e um mirante.

Casa das Onze Janelas – Importante marco urbanístico em Belém, erguido no século 18, por Domingos da Costa Barcelar, um rico senhor do engenho. Em 1768, foi convertida em hospital militar pelo governo do Grão-Pará. A casa teve funções militares até 2001.

Rodrigo Pinheiro/Ag.Pará - Casa das Onze Janelas

Palacete Pinho – Encomendado pelo comendador José de Pinho, foi concluído em 1897, com arquitetura portuguesa revestida de azulejos. A falta de recursos para manter o palacete levou a família Pinho a vender o imóvel, em 1978, que hoje está preservado e aberto ao público.

Solar do Barão de Guajará – Construção de estilo colonial, inteiramente azulejado, foi concluída em 1873, atualmente abriga o Instituto Geográfico do Pará. Abriga a biblioteca José Veríssimo, com 20 mil livros.

Casa Rosada – Construção de 1760, cujo proprietário era o capitão-engenheiro Mateus José Simões de Carvalho. Restaurado, o casarão é voltado para atividades culturais. 

Catedral da Sé – Concluída em 1771, tem parte do projeto do arquiteto italiano Antônio José Landi. Seu altar foi doado pelo Papa Pio XI. Suntuosa, possui 28 candelabros ingleses e 10 altares laterais com belíssimos quadros.

Três pratos tradicionais

Tacacá

Uma experiência sensorial, é o cartão de visitas da culinária nortista, um caldo encorpado que traz o sabor intenso e único da Amazônia. A base do tacacá é o tucupi, um caldo amarelo e azedo extraído da mandioca brava, que passa por um processo de fermentação e depois é cozido por horas. A goma de tapioca confere uma textura sedosa e envolvente ao prato, enquanto os camarões secos, reidratados e dessalgados, adicionam uma camada rica de sabor marinho. O jambu, erva amazônica, é o toque final: ao mordê-lo, sente-se uma leve sensação de formigamento na boca.

Pato no tucupi

Outro prato sofisticadíssimo. É marinado com alho, chicória, alfavaca e limão para absorver os sabores antes de ser cozido no tucupi. Esse caldo dourado é feito de mandioca brava fervida por horas, até que se torne um líquido aromático e levemente ácido. O jambu, colhido fresco, é adicionado ao final.

Maniçoba

É a feijoada da Amazônia. Leva uma semana para ser preparada, as folhas de maniva (mandioca) precisam ser cozidas por dias para perderem a toxicidade. Guisado com carne de porco, linguiça e charque, que se desfazem na boca, liberando camadas de sabor defumado e terroso. É consumido durante eventos e festas, em que familiares e amigos se reúnem para celebrar a vida. 

O chocolate da Ilha do Combu

Pedro Guerreiro/Ag.Pará - Dona Nena

A Ilha do Combu, no rio Guamá, com suas 200 famílias, contrasta ao largo com a cidade de Belém, com seus 1,3 milhão de habitantes. A 15 minutos de barco, é um paraíso ecológico, que vive a experiência de uma economia criativa e sustentável. Área de Proteção Ambiental (APA) desde 1997, seus moradores vivem do extrativismo vegetal, da pesca e do turismo. É impossível não se conectar com a natureza nesse local. A ilha de 1.660 hectares se tornou um polo gastronômico, no qual uma pequena fábrica de chocolate artesanal ganhou prestígio na alta gastronomia e fama internacional: a Filha do Combu.

Seu visitante mais ilustre foi o presidente francês, Emmanuel Macron, que se deslumbrou com os encantos da floresta, ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em sua recente visita ao Brasil. É na ilha que fica a enorme samaúma, árvore da Amazônia, com 400 anos e 45 metros de altura, frente à qual ambos posaram para a foto que ganhou o mundo e ilustra a imponência da floresta.

Izete Santos da Costa, a dona Nena, uma ex-agente de saúde da família, revolucionou a economia de subsistência da ilha. Sua história não seria diferente da luta pela sobrevivência dos vizinhos ribeirinhos se não começasse a produzir chocolates artesanais para completar a renda, com base na velha receita de família. A casa de chocolate Filha do Combu é um “case” da bioeconomia da Amazônia.

Chamado de pão de cacau, devido à forma adquirida quando embalado na própria folha do cacaueiro, há 10 anos, o chocolate rústico da dona Nena faz sucesso na alta gastronomia. Alex Atala, Roberta Sudbrack, Rodrigo Oliveira, Alberto Landgraf e Manu Buffara, chefs famosos, se encantaram com a pureza e a qualidade do produto, que utilizam como matéria-prima para sofisticadas sobremesas. Dona Nena colhe, fermenta, torra e mói todo o cacau produzido nos 15km² de terreno ocupados por ela e mais sete parentes, numa produção que começou com um pilão e um moedor de carne manual para vender chocolate rústico na feira.

Herança cultural

Luiz Carlos Azedo - Cacau

Dona Nena nasceu no Igarapé Piriquitaquara, área de preservação ambiental da Ilha do Combu. Quando criança, ajudava os pais, que plantavam e produziam cacau. Como hábito familiar, produziam o chocolate caseiro: o cacau seco, torrado no tacho e moído no pilão com adição de açúcar. Para crescer e experimentar novos sabores, a produção de dona Nena passou por vários testes. “Comecei vendendo as barras de chocolate 100% cacau, feitas no pilão, na feira de orgânicos e não deu certo. Resolvi experimentar um outro método, com o moedor manual e acabou dando certo”, lembra dona Nena, em referência à compactação do chocolate em barra.

O trabalho ganhou fama na feira e o chef Thiago Castanho adotou a técnica da dona Nena no seu restaurante, Remanso do Bosque. Dessa troca de conhecimentos e experimentos gastronômicos, surgiu o brigadeiro da floresta e outros produtos, como os nibs de cacau e os chocolates em barra. “O Remanso foi nossa vitrine. Já recebi visita de chefs da França, da Argentina, dos Estados Unidos, além de São Paulo e de outros estados brasileiros. O meu trabalho foi crescendo nas redes sociais e em 2017 precisei criar uma microempresa para continuar a crescer”, lembra dona Nena.

Exemplo prático de bioeconomia e desenvolvimento sustentável, a produção familiar mantém a tradição cultural e ancestral na produção de chocolate. “Vejo a floresta como recurso muito importante para o sustento da minha família e das pessoas que colaboram com a produção”, avalia dona Nena, que consegue produzir até 200kg por mês.

Degustação e venda

Hoje, a pequena fábrica mantém as características artesanais, mas tem um “melangers”, equipamento elétrico que mói em velocidade constante as amêndoas de cacau, até formar uma pasta líquida homogênea. A produção foi organizada de maneira a que possa ser visitada, seja por turistas, seja por outros produtores artesanais, com uma sala de degustação de chocolate moído manualmente na hora. Na lojinha, toda a linha de produtos, inclusive alguns com embalagens tradicionais (a folha do cacaueiro), pode ser adquirida a preço acessível. “Há fins de semana que recebemos até 800 pessoas”, diz.

A marca Filha do Combu, criada há quatro anos, tem 15 produtos em linha: brigadeiro de pote ou enrolado, bombons, barra de chocolate refinada (três teores diferentes de cacau), geleia de cacau, licor de cacau e a famosa barrinha rústica, seu carro-chefe. Recentemente, em parceria com a Gaudens Chocolates, de Belém, dona Nena e outros pequenos produtores de cacau da região passaram a produzir barrinhas refinadas com adição de leite.

O pão de cacau costuma ser ralado em água quente com leite em pó para engrossar a textura e ser servido como achocolatado. Chefs o usam como ingrediente para sobremesas, incorporando em mousses, biscoitos e até em drinques. No Remanso do Bosque, a barrinha rústica da dona Nena integra a Jardinagem do Combu, uma “terra” de cacau, e a mousse de chocolate rústico, sobremesa servida em um vasinho de flor e com uma pá de jardinagem. 

Passeio na floresta

Pedro Guerreiro/Ag.Pará - Colheita do açaí

O espaço fundado por dona Nena conta com um passeio turístico especial pela “trilha do chocolate”, no próprio quintal, onde são mostrados a plantação e captação do cacau e posteriormente a produção para que chegue no produto que é o chocolate.

Segundo a criadora, para garantir a sustentabilidade, o negócio alia quatro principais pilares norteadores: respeito ao meio ambiente, às pessoas, aos saberes ancestrais e à cultura do nosso povo. “Essa é a nossa visão de sustentabilidade e como nós enxergamos a bioeconomia. Se nós conseguirmos que esses quatro pilares sejam respeitados, vamos desenvolver verdadeiramente uma economia sustentável", garante.  

Serviço:

Filha do Combu — Visita à produção de chocolates e cacau de várzea de Izete Costa, a dona Nena. Agendamento por WhatsApp: (91) 9 9388-8885

Outras atrações da ilha

Para chegar à Ilha do Combu, é preciso ir de barco. Na Praça Princesa Isabel, no bairro Condor, em Belém, está localizado o Terminal Hidroviário Ruy Barata. Diariamente, diversos barqueiros estão a postos para levar tanto turistas quanto moradores da ilha que precisam atravessar o Rio Guamá para trabalhar em Belém. A viagem dura em torno de 15 minutos. Passar uma tarde na ilha vale a viagem.

Saldosa Maloca

Edney Barros//AgPará - Saldosa Maloca

O erro de ortografia no nome do restaurante existe há mais de 40 anos. Tudo começou quando o pai e dois tios de Prazeres Quaresma resolveram abrir o restaurante na ilha. O fanatismo pelos sambas do paulista Adoniran Barbosa levou-os a escolher o nome do restaurante, que fica numa casa rústica, à beira do rio. Hoje, é um dos points que mais recebem turistas e pessoas da região. Os pratos mais apreciados são: filé de pescada amarela na chapa e pescada branca. Os drinques e petiscos são sensacionais. Além disso, o lugar consegue preservar as riquezas naturais da região, respeitando assim, o meio ambiente.

Telefone: (91) 99982-3396

Aho Ilha do Combu

Localizado à margem do rio, o restaurante permite que os clientes mergulhem nas águas, além de contar com uma piscina pequena na parte interna. Também há redes instaladas para quem preferir descansar. O cardápio inclui peixes de água doce, como o tambaqui, caldo de tucupi, caldeirada vegana de cogumelos, isca de pirarucu e a tradicional unha de caranguejo típico do Pará.

Telefone: (91) 99971-7152

Projeto Street River

É a primeira galeria de arte a céu aberto dentro da Amazônia. Idealizado pelo artista paraense Sebá Tapajós e com a curadoria de William Baglione, reúne grafiteiros de diferentes origens para retratar a vida dos ribeirinhos da Ilha do Combu. Mais de 10 casas receberam intervenção artística. As pinturas foram feitas a partir de um tipo de tinta impermeável, que preserva a madeira das casas de palafitas.

Telefone: (91) 99637.4226/ 98811.3979, Instagram: @ygara_artesanal

Ygara Artesanal

Na comunidade Piriquitaquara, está localizada a Ygara Artesanal e Turismo, uma loja com diversos produtos artesanais para quem deseja levar um pouco do Combu para casa. Canecas, quadros e acessórios são alguns dos produtos disponíveis. Há óleos naturais, usados tanto com objetivo estético quanto medicinal. As moradoras da ilha garantem que o óleo de copaíba é o segredo por trás dos lindos cabelos das mulheres paraenses, entre as quais, Fafá de Belém, frequentadora assídua da ilha.

Telefone: (91) 99637-4226

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