Turismo

Lisboa encantada: as maravilhas da capital portuguesa

Confira o diário de viagem feito pela Revista à capital portuguesa e região. Em quatro dias, a reportagem conheceu segredos da gastronomia e da história dessa cidade encantadora

(...) Lisboa ouviu cantar o fado

Rompia a madrugada quando ela adormeceu.

Lisboa não parou a noite inteira

Boêmia, estabanada, mas bairrista (...)

Cantava, no meio do século passado, a lenda do fado Amália Rodrigues pelas casas noturnas principalmente da Mouraria e da Alfama, bairros boêmio de Lisboa, que até hoje preservam casas de show em que a música portuguesa ecoa perfumada de emoção e de saudade. A capital portuguesa soube se modernizar, sem perder a ternura do bom fado. A convite da Associação de Turismo de Lisboa (ATL), a Revista do Correio fez uma imersão de quatro dias na cidade e se encantou com a diversidade cultural, a história e o turismo dessa metrópole, com 2 milhões de habitantes espalhados pelos 18 distritos que formam a grande Lisboa.

São pequenos recortes de uma cidade repleta de atrações, inclusive a dica é perca-se, saia do roteiro, e encontre a verdadeira capital portuguesa pelas ruelas e pessoas cheias de humor e atenção em cada pastelaria, restaurante, mantegueria, e não se esqueça de um gole de ginjinha bem artesanal. 

A primeira parada, que atrai turistas do mundo inteiro, é o Parque das Nações. Legado da Expo 1998 (leia Para saber mais), a região é o cartão de visitas da Lisboa moderna. Com arquitetura arrojada e uma forte pegada sustentável, o destaque do bairro é a Torre Vasco da Gama, que oferece uma vista de 360 graus e emociona quem contempla o Rio Tejo e a capital portuguesa. Em menos de um minuto, o elevador sobe os 145 metros da torre. À espera do visitante, o descolado barzinho (rooftop bar) com música relaxante dá o recado: "Você está em Lisboa! Aproveite cada momento!"

Feita em aço, a Torre Vasco da Gama, encrustada no luxuoso hotel Miryad, foi desenhada pelos arquitetos Leonor Janeiro e Nick Jacobs, e o conjunto (torre-hotel) simboliza a vela de uma nau prestes a singrar o Atlântico. O espaço abre a partir das 10h, crianças pagam 5 euros e adultos 10 euros, em média. Para chegar ao Parque das Nações, a Estação Oriente (obra icônica do arquiteto Santiago Calatrava) oferece trem e metrô. Táxis e tuk-tuks também são boas opções — o tuk-tuk é uma curtição só, todos são elétricos e de fácil circulação pelas ruelas portuguesas. Tranquilo e favorável nesse finalzinho de verão.

Divulgação - A Torre Vasco da Gama representa a modernidade, sem se esquecer do passado

Oceanário

Depois de passear o olhar por toda Lisboa lá do alto, e pegar um teleférico de 1,2km sobre o Tejo (por volta de 7 euros), a segunda parada é o impactante Oceanário da cidade. Concluído em 1998, a arquitetura é assinada por Peter Chermayeff e Peter Sallogub. Prepare as emoções, pois a cada passo dado dentro desse gigante feito de água de todos os oceanos você vai se deparar com animais marinhos dos quatro cantos do planeta.

São 5 milhões de litros de água salgada rodeado por quatro habitats marinhos representando os do Atlântico Norte, do Antártico, do Pacífico Temperado e do Índico Tropical, sempre focados na sustentabilidade. Do majestoso tubarão branco dos mares do Norte aos peixes-palhaço australianos, famosos pela animação Procurando Nemo.

Há passeios em que os visitantes passam a noite observando e/ou meditando diante dos belos bichinhos. A visita guiada por grupos custa em média de 15 a 25 euros por pessoa. Vale cada centavo. São 8 mil animais marinhos, de 500 espécies diferentes. O passeio pelo espaço, de acordo com informações do Oceanário, ocorre em dois níveis, o terrestre e o subaquático, atravessando as águas temperadas, tropicais e frias dos diferentes oceanos do planeta. Imperdível! 

Divulgação -
José Carlos/CB/D.A Press -
José Carlos/CB/D.A Press -

Um legado

A Expo'98, Exposição Mundial de 1998, recebeu cerca de 10 milhões de pessoas, entre os dias 22 de maio e 30 de setembro, quando foi comemorado o aniversário de 500 anos dos Descobrimentos Portugueses. "A realização da Expo'98, para além de ter constituído uma mostra de Portugal para o mundo, foi uma oportunidade única para reabilitar uma área bastante degradada da cidade de Lisboa, que passou a ser dotada com uma moderna rede de habitação e transportes. A Expo'98 embelezou aos olhos do mundo o rosto de Portugal e de Lisboa", disse à Revista o embaixador de Portugal no Brasil, Luís Faro Ramos.

Visite também

— Legado da Expo 98

— Estação do Oriente

— Pavilhão de Portugal

— Escultura Horas de Chumbo

— Teatro Camões

— MEO Arena (Pavilhão Atlântico)

— Pavilhão do Conhecimento

Gastronomia

Dica imperdível na visita ao Parque das Nações é saborear uma deliciosa sequência de bacalhau da cozinha do chef Júlio Fernandes, do renomado D'Bacalhau. Ele tem um carinho todo especial pelo Brasil, inclusive disse que foi ao programa de Ana Maria Braga. "Temos o bacalhau à brasa, típico de Lisboa, inventado por um cozinheiro chamado Antônio Brás; outro tradicional é o bacalhau com natas, o prato que os jovens mais gostam e o que mais vende; o lagareiro é um bacalhau que tem menos a mão chefe, é grelhado e leva batata ao murro e uma demollha (dessalga) que não é nem salgada nem insossa. Por fim, na nossa sequência, temos o prato que inventei, com espinafre, ovo cozido, batata, depois é coberto com broa de milho e leva também um produto especial, que é a alheira (um saboroso embutido defumado)", detalha para a Revista do Correio. O vinho para harmonizar sugerido pelo chef foi o Marquês de Tomar (15 euros a garrafa). Saúde!

José Carlos/CB/D.A Press - Chef Julio, uma figura

Voos diários 

A TAP Air Portugal aumentou a frequência de voos no Aeroporto de Brasília. Agora, a capital federal está com voos diários para Lisboa. A empresa estava operando seis voos por semana e, por conta da demanda, incluiu mais um voo na malha área do Distrito Federal. Somente no primeiro semestre de 2024, a TAP transportou mais de 70 mil passageiros de Brasília para Lisboa e vice-versa — um aumento de 6% quando comparado com o mesmo período do ano passado, segundo nota da Inframérica, que administra o Aeroporto de Brasília. A TAP completou 17 anos de operação em Brasília no último dia 17 de julho, e hoje é a empresa aérea internacional com mais tempo de serviço na capital do país.

Entre tesouros e poesia

Marque em sua programação uma viagem no tempo, que é o Museu do Tesouro Real de Lisboa. Localizado em uma das alas do Palácio da Ajuda, o espaço foi inaugurado em 2022 e tem um bilionário acervo de mais de mil peças, entre joias da Coroa, pedras preciosas e relíquias da ourivesaria real portuguesa.

"Temos em nosso acervo 22 mil pedras preciosas e, dessas, 18 mil são diamantes. Mas temos também esmeraldas, rubis, safiras, pratarias. Tudo em objetos da coroa ou particulares da família real, principalmente do século 18 até o fim da monarquia, no início do século 20", explica Mariana Fernandes, técnica superior do serviço educativo do museu. 

Nessa, que é uma das maiores caixas-fortes do mundo, o visitante encontrará grande parte da história do Brasil colônia exposta entre as preciosidades e, claro, toda a genealogia da realeza lusitana. Vale destacar uma enorme pepita de ouro encontrada no século 18 em Goiás, no Arraial de Água Quente, que escapou das garras de Napoleão e foi exibida, em 1876, num baile no Paço da Ajuda, por iniciativa de Dom Luís I.

Fotos: José Carlos/CB/D.A Press - A coroa de D. João VI

Objetos

Há também insígnias, condecorações, presentes diplomáticos, moedas e relíquias de arte sacra. Esses símbolos de poder e objetos pessoais de luxo representam uma das mais importantes coleções mundiais, pela sua dimensão, raridade e qualidade, reunidos no espaço. 

De acordo com informações do museu, a exposição tem 11 núcleos, "integrados em três pisos da caixa-forte, numa abordagem aprofundada sobre a origem e o percurso das peças que os compõem: Ouro e Diamantes do Brasil, Moedas e Medalhas da Coroa, Joias, Ordens Honoríficas, Insígnias Régias, Prata de Aparato da Coroa, Coleções Particulares, Ofertas Diplomáticas, Capela Real, Mesa Real e Viagens do Tesouro". O valor médio do ingresso é de 10 euros e as visitas ocorrem todos os dias, das 10h às 18h.

José Carlos/CB/D.A Press -
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Um click na Torre de Belém

Assim como o Cristo Redentor do Rio, a Torre de Belém é parada obrigatória em Lisboa, nem que seja para uma selfie. Entre tantos encantos, vale sentar num dos bancos próximos a esse Patrimônio da Humanidade à margem direita do Tejo e imaginar caravelas sendo preparadas em busca do novo mundo. Para proteção da cidade, o projeto de defesa marítima, a cargo do arquiteto Francisco de Arruda, ficou concluído em 1514.

No bairro de Belém, onde fica o monumento, existem outras atrações como o Padrão dos Descobrimentos e o Mosteiro dos Jerónimos, sem se esquecer da loja dos tradicionais pastéis de Belém. A doçaria, como estabelecimento comercial, iniciou a fabricação desses pastéis de nata em 1837, de acordo com informações contidas no site da empresa.

José Carlos/CB/D.A Press - Torre de Belém, um ícone português

O mais antigo de Portugal

Outro ponto gastronômico incrível é o Café Restaurante Martinho da Arcada, localizado no Terreiro do Paço, em frente a mais bela praça de Lisboa, a do Comércio. O local é carregado de vidas bem-vividas, como a de Fernando Pessoa, assíduo frequentador do lugar, onde sorvia um bom gole de absinto e pensava na amada Ofélia, ou mais recentemente, de José Saramago. Era no Martinho onde vinha com amigos logo após os lançamentos de seus livros. 

Quem conta essas histórias é o atual proprietário, Antônio Barbosa de Sousa, um apaixonado pelo Brasil, que sempre recebe a visita de intelectuais brasileiros em seu restaurante. "Fernando Pessoa deixou aqui seus poemas, seus drinques (risos). Devo minha juventude toda ao Brasil e não tem preço falar bem do seu país", diz seu Antônio, um vascaíno de coração que gosta de relembrar do encontro que teve com Tostão, ex-jogador do time carioca. 

Pelas paredes do Martinho da Arcada, fotos de grandes escritores e celebridades; num canto discreto da casa, onde até hoje fica a mesa em que Fernando Pessoa gostava de se sentar, o poeta observava toda a movimentação da Praça do Comércio enquanto deixava um lápis e um papel sempre pronto para inspirações.

José Carlos/CB/D.A Press - Seu Antônio: histórias de Fernando Pessoa

Vamos às compras?

Sim, Lisboa tem outlets. Destaque para o Freeport Lisboa Fashion Outlet, localizado a cerca de 30 minutos de carro do centro. São mais de 150 lojas que vendem roupas, sapatos, acessórios e artigos para casa de marcas mundiais. Os descontos chegam a 80%. O outlet também conta com uma praça de alimentação com várias opções de restaurantes e cafés. O Freeport fica na Avenida Euro 2004, 2890-154 Alcochete. Para chegar de transporte público, é possível pegar o ônibus 4703 na estação do Oriente. Existe um shuttle que leva você da Praça Marquês de Pombal ao Freeport. Ele sai diariamente às 10h e custa 10 euros (ida e volta). Você ainda ganha um cupom de desconto de 10% em diversas lojas do espaço, segundo informações do outlet.

Para curtir a natureza e a praia

Depois de cruzar o Rio Tejo pela Ponte Vasco da Gama, a mais longa da Europa, com cerca de 18km, o visitante esquece um pouco dos barulhos da cidade grande e passa por pequenos povoados, que também fazem parte da Grande Lisboa. É lá que fica o Parque Natural da Arrábida, uma reserva ecológica situada na península da cidade de Setúbal, e que abrange também as regiões de Palmela, Setúbal e a litorânea Sesimbra. 

Antes de se banhar nas águas do Atlântico Norte, vale degustar o indiscutível queijo do Azeitão, região pacata e conhecida pelos especialíssimos queijos de ovelha, que levam o certificado de Denominação de Origem Protegida (DOP), com uma textura incrivelmente amanteigada e um aroma sedutor, ideal para harmonizar com vinhos tintos, principalmente. Para os amantes da boa gastronomia, vale uma visita na Fernando & Simões — Queijaria Artesanal e conhecer a história e os detalhes da linha de produção desse tradicional elemento da cozinha portuguesa.

Seguindo em frente, a próxima parada é o Mercado do Livramento. Inaugurado em 1876, é considerado pelos portugueses como o mais diversificado e saboroso do país. De peixes recém-pescados a carnes e vegetais, passando por enlatados (sardinhas e bacalhaus), tem de tudo um pouco para quem curte sabores novos e delícias tradicionais. Como saborear pela primeira vez a Alheira, um embutido típico cujos principais ingredientes são carne de aves, pão, azeite, banha, alho e colorau. Com vinho... Hummmm! E as ostras? Maravilhosas.

É isso, Portugal é gastronomia pura. Uma boa dica de cozinha portuguesa e internacional é o Casa da Palmela, um hotel no coração do Parque Natural da Serra da Arrábida. Um segredo, o vinho Moscatel de Setúbal é irresistível. Assim como uma visita à Quinta da Bacalhôa, um dos cartões-postais da Península de Setúbal, região vizinha a Lisboa.

Segundo informações da vinícola, a quinta é classificada como monumento nacional e pertence à Fundação Berardo, do comendador José Berardo. O local, para quem ama instagramar, recebe visita de turistas com agendamento. Além de degustações dos rótulos da casa, o Palácio Bacalhôa é espaço para eventos sociais, como casamentos.

Se o turista ou viajante tiver um tempinho, vale demorar na visita ao palácio. Admirar a decoração, os jardins e contemplar a vista única de Lisboa ao longe. É um espaço que sofreu várias influências, desde os romanos. Uma visita guiada fica, em média, 12 euros.

Agora sim! A praiana Sesimbra! Nada melhor do que pedir uma cerveja Sagres, um tira-gosto e apreciar o mar numa mesinha bem protegida do calçadão. Essa vila charmosa que integra o distrito de Setúbal é uma joia. Com águas de azul intenso, recebe turistas em todo o verão. Bem familiar e com um ritmo suave, Sesimbra é também local para desestressar da cidade grande. Outro ritmo. Outra onda. Por sinal, bem calma, bom para banhistas e passeios de caiaque... A pequena orla oferece ótima infraestrutura, com restaurantes, lojas de souvernirs e bares bem descolados.

José Carlos/CB/D.A Press - Materia sobre Portugal-Lisboa

Mafra, uma delícia de cidade

A 40km do centro de Lisboa, Mafra mantém o ritmo de uma cidade do interior. Bem cuidada, ela também é uma região vinícola e dos tradicionais pães batizados com o nome do pequeno município. Para alegria da Revista, a visita foi justamente do Festival do Pão, que ocorreu entre 5 e 14 de julho, no Jardim do Cerco, um espaço bucólico rodeado de barracas com comidinhas e vinhos inesquecíveis, como o prego especial (um sanduíche feito com pão, um bife bem fino e acrescentado com queijo de ovelha e mel), sem se esquecer de um copo de imperial (o chope português).

Ainda na programação, uma degustação de vinhos da Quinta da Murnalha. Destaque para o a garrafa que leva o nome da quinta, uma mistura de uvas syrah, aragonez e alicante bouschet, que tem cor granada, com aroma de frutas silvestres e especiarias. Indicado para harmonizar com pratos de carne e queijos. O preço? 6,70 euros. Valor justo e vale cada taça.

Depois de experiências gastronômicas, não se esqueça de visita o Palácio Nacional de Mafra. Construído por ordem do rei D. João V, entre 1717 e 1730, o palácio-convento é o maior monumento português e inscrito na lista de Patrimônio Mundial pela Unesco, em 2019. O conjunto arquitetônico é composto pelo Palácio Real, a Basílica, um Convento, o Jardim do Cerco e um vasto bosque. No espaço, voluntários aposentados, com trajes de época, contam as histórias da realeza que vinha para o palácio em épocas de calor, para eventos e caças. O ar úmido que sopra do Atlântico faz da cidade um local ideal para relaxamento e tranquilidade.

José Carlos/CB/D.A Press -
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Na onda do surfe

Depois de Mafra, o destino final da viagem é Ericeira, a 21km da capital portuguesa. Considerada uma das reservas mundiais do surfe, onde a cultura e a economia gerada com o esporte são reconhecidas como uma atividade produtiva que gera riquezas com o turismo e fomenta a sustentabilidade. Ericeira recebeu essa distinção em 2011. 

Toda a Ericeira é um charme, energia boa, ruela animadas no verão e as praias sempre lotadas por surfistas profissionais e alunos de escolinhas de formação do esporte. Uma visita que vale a pena. Obrigado, Lisboa! 

O repórter viajou a convida da Associação de Turismo de Lisboa (ATL)

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