A obesidade é uma condição caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura corporal. Ela pode afetar a saúde de diversas maneiras, aumentando o risco de doenças crônicas como diabetes tipo 2 e hipertensão. Além disso, pode impactar negativamente a qualidade de vida.
Um estudo do periódico Obesity (Gunawan et al., 2024), publicado no final de maio, mostrou que a obesidade também cria um ambiente que causa um déficit no transporte de glicose para o cérebro, o que pode ser potencialmente ruim para a saúde neurocognitiva.
“O cérebro é quase exclusivamente alimentado por glicose. Quando há consumo em excesso de carboidratos, para minimizar os efeitos glicotóxicos nos neurônios, a concentração de glicose no interstício cerebral é ajustada para cerca de 20% da glicose no sangue”, explica a nutróloga Dra. Marcella Garcez, diretora e professora da Associação Brasileira de Nutrologia.
Segundo ela, o suprimento de glicose do cérebro, em condições de repouso, é ajustado a um nível que é apenas suficiente. “O estudo mostrou uma questão preocupante: o transporte de glicose é menor em indivíduos com obesidade, o que afeta diretamente a captação cerebral do seu maior combustível”, alerta.
Prejuízos para a saúde do cérebro
A Dra. Marcella Garcez explica que a necessidade de energia no órgão pode variar. “É importante destacar que a demanda de energia local aumenta amplamente durante a ativação neuronal, por exemplo, durante a estimulação sensorial, o exercício e a atividade mental, porque muita energia é consumida durante a excitação dos neurônios e a neurotransmissão sináptica”, afirma.
Dessa maneira, conforme a médica, a obesidade pode afetar os recursos necessários para um cérebro funcionar adequadamente. Em outras palavras, fadiga mental, esgotamento, falta de foco e concentração, além de perda de memória podem ocorrer.
Impacto da alimentação no cérebro
A relação entre a alimentação e o cérebro é cada vez mais estudada. Diversos nutrientes podem fazer bem ou mal às funções cerebrais, afetando cognição, memória e saúde mental. “Os nossos neurônios, por exemplo, ‘conversam’ entre si através dos neurotransmissores. Diversos alimentos possuem a capacidade de modular, aumentando ou diminuindo certos neurotransmissores, como a serotonina, levando a sintomas diversos para o paciente”, explica a médica.
Contudo, conforme a Dra. Marcella Garcez, além da alimentação, certas doenças também interferem na saúde do cérebro. “No entanto, não é só a questão alimentar que deve ser avaliada. Doenças como a obesidade também podem afetar o funcionamento cerebral, independentemente do suprimento de nutrientes”, ressalta a Dra. Marcella Garcez.
Importância do cuidado
No estudo publicado no Obesity, um total de 11 participantes magros e sete participantes jovens com obesidade (e sem comorbidades relacionadas) foram submetidos a espectroscopia de ressonância magnética acoplada a um medidor hiperglicêmico para medir a glicose no cérebro, a captação e metabolismo da glicose, bem como marcadores periféricos de resistência à insulina. “Indivíduos com obesidade demonstraram uma proporção 20% menor de captação de glicose cerebral em relação à taxa metabólica de glicose cerebral do que participantes magros”, comenta a médica.
Segundo a Dra. Marcella Garcez, descobertas humanas sugerem que a obesidade está “associada à redução da capacidade cerebral de transporte de glicose, mesmo em idade jovem e na ausência de outras comorbidades cardiometabólicas, o que pode ter implicações na função cerebral e na saúde a longo prazo. Isso também adiciona mais uma preocupação que todos devemos ter com relação à obesidade, que é um problema de saúde pública e os médicos devem estar preparados para tratar a condição com uma equipe multiprofissional”, finaliza.
Por Pedro Del Claro
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