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Espaços com histórias e afetos se destacam na CasaCor Brasília 2024

A 32ª edição da CasaCor Brasília celebra a importância de resgatar raízes do passado, como uma forma de legado para o futuro. Por isso, as arquitetas Alessandra Moussa e Mariana Leal decidiram homenagear aqueles que fazem parte do seu caminho na profissão

Por se tratar de uma casa viva, Mariana optou por inserir objetos do acervo pessoal da  família -  (crédito: Edgar Cesar)
Por se tratar de uma casa viva, Mariana optou por inserir objetos do acervo pessoal da família - (crédito: Edgar Cesar)

Origens, referências e inspirações. Há algum tempo, as decorações em lares carregam o intuito de contar histórias e zelar por significados. Aquele filtro de barro que era da avó ou aquela máquina de costura da mãe são, hoje, elementos que podem compor uma ideia de cenário baseada em raízes e afetividade. Este ano, a CasaCor Brasília propõe um resgate à ancestralidade e uma reflexão sobre legado para as próximas gerações.

Foi inspirado no tema De Presente, o Agora, da 32ª edição do evento, que a arquiteta Mariana Leal decidiu homenagear o tio-avô Jenner Augusto, pintor e ilustrador sergipano. Uma decisão que, para ela, foi intuitiva e natural, já que as obras dele sempre estiveram presentes na vida dos familiares. “Produzir esse ambiente foi tarefa extremamente prazerosa, uma vez que grande parte dos objetos e das artes faz parte do acervo da minha família”, completa.

Para a escolha das obras, contou com o apoio do curador de arte Mário Britto, cujo olhar apurado permitiu mesclar obras de família com quadros de diferentes períodos. Mas, claro, não deixou perder a temática semelhante entre cada quadro, com o intuito de harmonizá-las perfeitamente com o local. A homenagem a Jenner se dá, ainda, no nome do espaço reservado a Mariana na CasaCor, intitulado de 11.11.

Isso porque, em 11 de novembro, o tio-avô completaria 100 anos se estivesse vivo. “Por se tratar de uma casa viva, optei por inserir objetos do acervo pessoal da minha família, tapetes em composição e uma parede afetiva com fotos e elementos que ajudam a contar a história do ambiente”, acrescenta. O tom de madeira quente foi escolhido para trazer aconchego, tanto nas paredes quanto no mobiliário, deixando os ambientes mais claros. Como a base é neutra, a atenção se volta para a vibração das cores, dos quadros e dos objetos de arte.

O tom de madeira quente foi escolhido por Mariana para trazer aconchego
O tom de madeira quente foi escolhido por Mariana para trazer aconchego (foto: Edgar Cesar)

Durante o processo de criação e curadoria da homenagem a Jenner, a arquiteta acabou perdendo a mãe. E nada mais justo do que, em um canto especial, reservar sua homenagem para aquela que também lhe ensinou muito sobre arte, já que era uma escritora para lá de talentosa. “Ao longo do desenvolvimento do projeto, ela adoeceu e nos deixou — a necessidade de homenageá-la nessa estreia surgiu de forma muito espontânea e emocional”, acrescenta Mariana.

A mãe, Tereza Leonor Leal Coelho, sempre foi a maior incentivadora. Uma mulher amorosa, batalhadora e que ao longo da vida teve que superar alguns obstáculos de saúde, sem nunca perder a alegria e a resiliência. Para a arquiteta, o resultado foi extremamente positivo. Uma casa viva, repleta de amor, de afeto e de recordações em forma de arte. Um tributo para detalhes que moldaram o olhar da família para o mundo e as belezas que existem nele.

Os quadros pintados por Jenner embelezam o espaço de Mariana Leal
Os quadros pintados por Jenner embelezam o espaço de Mariana Leal (foto: Edgar Cesar)

Lugar de descanso

Andar pela própria casa e visualizar nela as histórias que conta. Mais que isso, poder se emocionar com os obstáculos que foram fundamentais para chegar até ali. Pensando nisso, a arquiteta Alessandra Moussa decidiu homenagear o pai, Nabih Moussa, que morreu em 2003. Um libanês que fugia da guerra do Líbano e chegou ao Brasil com apenas 19 anos. No espaço O Refúgio do Cedro, tudo o que ele mais amava em vida: livros, arte e poesia.

A pintura, segundo a filha, era um hobby. Mas eram as fotografias que mexiam com o coração do pai. Na CasaCor, um dos quadro feitos por Nabih ilustram a beleza do cenário e o legado deixado por ele. “Pedro Ariel, curador desta edição, ao abordar o tema deste ano, foi trazendo fatos ligados aos antepassados Tive uma vontade enorme de fazer um ambiente em homenagem a ele e tudo o que passou”, complementa Alessandra.

Com o apoio do filho, Marcelo Netto, a arquiteta optou por criar uma sala de estar com paletas de cores envolvidas na tela que o pai pintou ainda quando era pequena, quando viviam na cidade de Anápolis, em Goiás. Em uma verdadeira imersão, queria que cada visitante se sentisse dentro desse lugar sentimental, como uma casa de campo ou de montanha. Ainda no ambiente, livros escritos por Khalil Gibran, que Nabih tanto gostava de ler.

  • Alessandra Moussa decidiu prestar uma homenagem para o pai libanês
    Alessandra Moussa decidiu prestar uma homenagem para o pai libanês Fotos: Edgar Cesar
  • A arquiteta optou por criar uma sala de estar com paletas de cores envolvidas na tela que o pai pintou
    A arquiteta optou por criar uma sala de estar com paletas de cores envolvidas na tela que o pai pintou Edgar Cesar

Acima do nicho amadeirado presente no espaço, a frase: A beleza só pode ser compreendida pelo espírito. De acordo com ela, uma das preferidas pelo patriarca. “Nesse nicho, coloquei alguns objetos pessoais de meu pai, como livros em árabe e também o Masbaha, uma espécie de colar de contas marfim que os árabes usam nas mãos, passando conta por conta, entre os dedos.”

Os tons foram escolhidos com base no conceito casa da montanha. Parede de pedras, cimento queimado e madeira. “Um refúgio que expressa o que meu pai mais amava fazer: receber amigos e familiares, ao redor de uma farta e deliciosa mesa de comidas árabes, cercado de boa música e muitas histórias. Tudo era motivo para agradecer. O cedro é uma árvore característica do Líbano e que representa muito os libaneses que saíram de sua terra natal em busca de melhores condições de vida”, finaliza.

Programe-se

A 32ª edição da CasaCor Brasília ocorre pela terceira vez consecutiva na BRB Mané Garrincha. A mostra teve início na última quinta-feira e terá encerramento em 16 de outubro. O funcionamento do espaço é de terça a domingo e oferece acessibilidade total, incluindo para portadores de deficiência visual e auditiva.

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postado em 18/08/2024 10:00
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