Mais do que uma forma de promover a saúde, o esporte também é um jeito de unir e aproximar pessoas, sejam elas estranhos, amigos ou familiares. De fato, compartilhar a paixão por um time, praticar um esporte juntos ou simplesmente torcer no sofá são experiências capazes de criar memórias afetivas inesquecíveis e fortalecer laços familiares. No Dia dos Pais, isso não poderia ser diferente, até porque, muitas vezes, a paixão por um time ou esporte é passada de geração em geração — de pai para filho.
De acordo com a neuropsicóloga Marcella Bianca, desde a infância até a fase adulta, o interesse e a prática de esportes proporcionam uma série de benefícios para a saúde mental e para as relações interpessoais. No contexto dos relacionamentos paternos, é comum que filhos se inspirem nos pais ao escolherem esportes para praticar ou times para torcer.
"A convivência e a admiração mútua influenciam essa decisão. Para filhos de atletas, o contato no dia a dia e a observação do esforço, da dedicação e da paixão por aquele esporte fazem com que a criança, às vezes, desenvolva o comportamento de espelhamento no pai", descreve. Foi mais ou menos isso que aconteceu com Arthur Belchor, 41, e o filho, Gael Bittencourt, 11.
Talento passado para outra geração
Jogador de basquete aposentado desde o ano passado, Arthur é considerado uma lenda do esporte candango. Durante sua carreira, o ex-atleta vestiu a camisa do Brasília Basquete e acumulou uma série de conquistas, destacando-se como um dos maiores jogadores da história da Liga Nacional de Basquete. Ele conquistou três títulos do NBB, dois Campeonatos Brasileiros, cinco Torneios Sul-Americanos e uma Liga das Américas.
O filho Gael já está seguindo os passos do pai: joga e participa de campeonatos de basquete. O contato do garoto com a bola laranja começou cedo, e o esporte esteve presente, literalmente, desde o berço. "Ele sempre ia aos meus jogos, ganhava bolinhas, roupas de basquete e vivia no ambiente em que eu estava. Quando começou a andar, nós compramos uma minitabela e a colocamos no berço dele, para que ele pudesse dar suas primeiras enterradas", brinca.
Com o passar dos anos, o interesse de Gael pelo esporte só aumentou, e quando completou 6 anos, foi matriculado na escola de basquete fundada pelo pai, a AR4. "Depois disso, ele foi evoluindo dentro do esporte. Hoje, ele sonha em jogar no Golden State Warriors, ao lado do Curry", conta Arthur. Para os dois, o basquete vai além de um esporte; é uma forma de conexão entre pai e filho.
Arthur revela que os dois costumam treinar juntos, em média, duas vezes por semana. "Nesses momentos, além de melhorar o jogo dele, podemos curtir um ao outro e criar memórias afetivas", explica. "Eu brinco que ele, além de meu filho, é meu melhor amigo. Quando temos algum jogo que quero assistir, a primeira coisa que penso é em chamá-lo para podermos torcer e comentar os lances juntos. Ele adora, e eu também", assegura.
Para casos como o de Arthur e Gael, em que os filhos seguem o mesmo esporte que o pai, Marcella Bianca explica que a influência é positiva, visto que a relação transmite conhecimentos, habilidades e inspiração. No entanto, ela orienta que os pais prestem atenção redobrada ao emocional dos filhos. "Pais devem apoiar os filhos sem cobranças excessivas. Ter foco na comunicação aberta, evitar comparações, equilibrar a vida pessoal e profissional, ser um exemplo positivo e entender que seu filho não é você", aconselha.
O craque Arthur Belchor ressalta que toma todos os cuidados necessários para preservar o emocional do filho em relação ao basquete. "Ele enfrenta muitos momentos de pressão, frustração e insegurança. Eu o ajudo e tento amenizar todos esses sentimentos, que são normais para um atleta da idade dele", garante. "Quero que ele aprenda a essência do esporte: trabalho em equipe, ganhar e perder, ser forte mentalmente e se divertir", declara.
Emoções compartilhadas
De acordo com a neuropsicóloga, além de ser movido pela inspiração, o interesse compartilhado pelo esporte é capaz de unir pais e filhos por meio da emoção. "Participar juntos de eventos esportivos cria memórias afetivas duradouras, e ter interesses em comum contribui imensamente para o fortalecimento do laço entre pai e filho", afirma.
O servidor público Ricardo Prieto, 47, é flamenguista de carteirinha e sabe bem como essa ligação funciona. Nascido e criado no Rio de Janeiro, apaixonou-se pelo Flamengo nos anos 1980, quando acompanhava a equipe rubro-negra estrelada por Zico em campo. Durante a infância, frequentava os jogos no estádio do Maracanã com os vizinhos. Anos depois, Ricardo se mudou para Brasília e, em 2009, tornou-se pai.
Como bom torcedor, o carioca fez questão de transmitir sua paixão pelo Flamengo aos seus filhos, Alice, 15 anos, e Henrique, 12. De acordo com o servidor público, os dois estão sempre ao seu lado para assistir e comentar os jogos, seja no estádio, seja pela televisão. "Quando os levei pela primeira vez ao Mané Garrincha, o Henrique tinha 5 anos e a Alice 7. Desde lá, eles me acompanham em vários jogos no Mané e no Maracanã."
Para Ricardo, o amor compartilhado pelo Flamengo e pelo futebol proporciona sentimentos únicos para ele e seus filhos. "O esporte gera muitas emoções: alegria, tristeza, ansiedade. Eu acho que nós três nos aproximamos muito porque a gente compartilha juntos essas emoções", afirma. No entanto, ressalta que considera o equilíbrio essencial e ensina os filhos a torcerem sem extremismos. "A gente consegue dosar os nossos sentimentos. Juntos, a gente torce, vibra e se emociona, mas sempre tendo equilíbrio", finaliza.
De olho nas olimpíadas
Nas Olimpíadas de Paris 2024, que terminam hoje, diversos atletas encontraram na figura paterna a principal inspiração para ingressar no mundo do esporte. Abaixo, conheça alguns nomes que seguiram os passos dos pais e também se tornaram grandes atletas:
- Bruninho, vôlei masculino, Brasil: filho do ex-atleta e também técnico da Seleção Brasileira de vôlei Bernardinho.
- Trinity Rodman, futebol feminino, EUA: filha do astro aposentado da NBA Dennis Rodman.
- Martine Grael, vela feminina, Brasil: filha do bicampeão olímpico Torben Grael, também velejador.
- Lebron James, basquete masculino, EUA: não é filho de atleta, mas, na NBA, é companheiro de time do seu próprio filho, Bronny James, no Los Angeles Lakers.
*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte
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