Especial

Sozinhos, mas com muito orgulho: os desafios e as belezas da paternidade solo

Neste Dia dos Pais, trazemos histórias de homens que assumem seu papel com amor e orgulho e criam ou criaram os filhos sozinhos

Eduardo Soares Dutra Vasconcelos e seu filho Eduardo Roriz de Melo Vasconcelos. -  (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)
Eduardo Soares Dutra Vasconcelos e seu filho Eduardo Roriz de Melo Vasconcelos. - (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)

Histórias de um amor avassalador que passa por cima de tudo em exemplos de dedicação. Esse é o amor de pai. Daquele que é presente, troca fraldas, faz comida, leva para a escola, coloca para dormir. Esse deveria ser todo pai, certo? Mas enquanto essa não é, infelizmente, a nossa realidade, é importante contar as histórias desses homens que cumprem o seu papel com o coração aberto. E quando eles precisam exercer esse papel sozinhos e acumular também as funções das mães, o desafio é ainda maior. 

Apesar das dificuldades de criar um filho sozinho, o que esses pais têm em comum é a dedicação total aos filhos e o desejo de ser o melhor que podem, oferecendo tudo o que têm às suas crias. Neste Dia dos Pais, a Revista do Correio convida os nossos leitores a mergulharem nesse universo paterno em histórias que emocionam e são prova viva de que o amor de pai é poderoso e forte. 

Três pais em um 

A experiência do empresário Humberto Marques Santos, 45 anos, com a paternidade pode ser considerada bem completa. Com três filhos, ele foi, para cada um, um tipo de pai diferente. Com a filha mais velha, a professora de inglês Estefani Miranda Scarmucin, 25 anos, foi, na maior parte do tempo, um pai tradicional. Humberto ficou casado com a mãe da jovem até ela ter 16 anos de idade. E depois da separação, tornou-se pai solo. 

Com respeito e compreensão, ele conta que a ex-mulher conheceu outra pessoa e escolheu viver com ele, deixando a filha aos cuidados do pai, com quem ela sabia que Estefani estaria segura. Apesar do apoio de Humberto, a adolescente sofreu bastante e tinha um sentimento forte de abandono. 

Buscando apoio para si e para a filha, Humberto se mudou para a casa de sua mãe, o que foi positivo para a saúde mental de Estefani, que lutava contra a depressão. Ali, os dois se conectaram ainda mais e ele se tornou pai e mãe da, até então, única filha. 

Cerca de nove meses depois da separação, Humberto foi surpreendido com uma ligação do Hospital Materno Infantil (Hmib). “Disseram-me que tinha um bebê que poderia ser meu. Mas não fazia sentido, e eu achei que era um engano”, lembra. Depois de algumas ligações e insistência, ele acabou indo até a unidade de saúde e descobriu que a antiga companheira estava prestes a dar à luz, e ele poderia ser o pai. 

Em contato com a Vara da Infância, Humberto descobriu que a ex-mulher tinha se separado do novo namorado, que fez um exame e descobriu que não era o pai. Assim, Humberto se tornou a principal possibilidade de pai, mesmo que a mãe negasse. 

Quando a bebezinha nasceu, pôde fazer um teste de DNA e não restaram mais dúvidas. Foi somente após o resultado positivo que ele pôde conhecer a filha, até então chamada Nathália, por ter nascido perto do Natal. 

O empresário comenta que nunca vai esquecer do momento em que segurou a filha pela primeira vez. “Foi numa salinha no Conjunto Nacional, onde fomos fazer o exame. No segundo em que eu a peguei no colo, senti um amor muito forte e inexplicável, uma coisa sobrenatural, porque eu ainda não acreditava no que estava vivendo”, lembra. 

Novamente pai solo

Ele assumiu a guarda unilateral da filha e trocou seu nome por Esther Nathália Marques, hoje com sete anos. A escolha do nome não foi à toa, Humberto se inspirou em uma história da Bíblia, de uma mulher que tinha um destino ruim à sua frente, mas com a própria força foi capaz de salvar a si mesma e a todo seu povo. 

A filha mais velha estava prestes a viajar para um intercâmbio e quase desistiu da viagem para ficar com o pai e a irmã, mas ele insistiu que ela não abrisse mão do sonho. Ali, ele permitia que uma filha voasse enquanto reiniciava a jornada da paternidade sozinho. 

No bebê conforto, Esther acompanhava o pai na faculdade, no trabalho e em todos os lugares para onde ele ia. “Não existia a chance de eu estar em algum lugar e a Esther não estar junto. Passei a viver por ela e me redescobri, passei a ver a vida de uma forma diferente, esqueci toda a bagagem que antecedeu o nascimento dela e tudo passou a fazer mais sentido”, declara. 

Quando a filha completou 2 anos, o empresário precisou trancar a faculdade para ter mais tempo para se dedicar a Esther. “Por toda nossa história e pela ausência da mãe, não queria delegar o cuidado com ela para ninguém, queria suprir tudo o que ela precisasse”, conta. 

Abrindo mão de terminar a faculdade na época, de sair, namorar e fazer uma série de coisas que as pessoas da sua idade faziam, ele é categórico ao afirmar que não tem nenhum arrependimento, e faria tudo de novo. “É muito gratificante ser um pai de verdade, se entregar e proporcionar para seu filho ou filha tudo o que ele ou ela precisa para estar bem.”  

Humberto comenta que, atualmente, Esther tem pouco contato com a mãe, mas que ele não se opõe a uma relação entre elas. Para ele, a única preocupação é que a filha esteja bem. Quando perguntada pela mãe, a garota diz que Humberto é seu pai e sua mãe e, embora esteja sempre rodeada de amor e das figuras femininas da tia e da avó paterna, além da atual esposa do pai, ele sabe que ela sofre com essa ausência. Orientado por profissionais, Humberto conta para a filha o que ela procura saber, sempre com cuidado, respeito e delicadeza.

Humberto Marques Santos com a filha Esther Nathália Marques
Humberto Marques Santos com a filha Esther Nathália Marques (foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

Uma nova vivência 

Quando Esther estava um pouco maior, o empresário começou a namorar a atual esposa, uma antiga colega de faculdade. Ele brinca que a advogada Tiffany Vitória Santos Silveira Marques, 25, até ficava brava, pois quando ela tentava flertar, ele nem percebia, pois toda a sua atenção estava voltada para Esther. 

Casados, hoje eles são pais de Daniel Silveira Marques, de 1 ano e 1 mês, e Humberto comenta como a paternidade, quando dividida com a maternidade, é mais leve. Ele acredita que é importante o filho ter mais de uma pessoa com quem contar. Para ele, é importante saber que se ele faltar, os filhos não estarão desamparados. “Quando é só você, não existe escolha. Você faz tudo, porque, se não é você, eles não têm mais ninguém. Tendo uma pessoa junto, você fica mais tranquilo e seguro.” 

Hoje, Humberto diz que curte mais, brinca mais e tem um tipo diferente de paternidade, além de se sentir preparado para qualquer coisa. Ele acrescenta que sempre deixou clara a diferença entre mãe e madrasta e que não esperava que Tiffany se tornasse mãe de sua filha. “Eu continuo sendo o cuidador principal dela, não queria me casar e delegar esse cuidado ou esse papel, que sempre vai ser meu. E ser pai é a coisa mais bela e mais legal que já fiz, poder cuidar de alguém como você gostaria de ser cuidado”, completa. 

Um testemunho de fé 

É com lágrimas nos olhos e voz embargada que o empresário Eduardo Soares Dutra Vasconcelos, 51 anos, conta a história que divide com o filho de 12 anos, que leva o seu nome. Em diversos momentos, Duda, como é conhecido pelos amigos, precisa parar e respirar fundo para continuar o relato. Mas em meio à emoção, quando se lembra dos momentos mais difíceis da sua trajetória como pai, consegue sorrir e ser grato pela vida que pôde dividir com Eduardo Roriz de Melo Vasconcelos, o Dudu. 

Quando o filho tinha 2 anos e 9 meses, Eduardo e a então namorada, mãe de Dudu, estavam em um processo de separação. Foi, então, que se depararam com uma crise na saúde do bebê. Sem explicação, ele não conseguia segurar nenhum alimento, tudo o que comia vomitava em seguida. Em meses, ele foi de 26 para 13 quilos. 

“Era uma criança super saudável até então. Levamos em todos os médicos possíveis e ninguém conseguia descobrir o que Dudu tinha. Foi assustador, a gente não sabia mais o que fazer e, quando ele tinha 3 anos e 1 mês, descobrimos que ele tinha um tumor cerebral”, lembra. 

Eduardo conta que a sorte foi encontrar um pediatra que pensou além de alergias alimentares ou problemas estomacais e pediu uma ressonância magnética. “Lembro de ele dizendo que todos os exames estavam normais até então. Que ia pedir esse exame e desejava muito estar errado, mas que a suspeita era de um tumor cerebral.” 

No dia do exame, Eduardo viu um neurocirurgião e, sem pensar duas vezes, abordou o médico, explicou seu caso e pediu uma orientação. “Ele entrou na sala e saiu em questão de minutos. Disse que não sabia como meu filho ainda estava vivo. Ele tinha um tumor muito grande alojado no tronco cerebral, e o médico disse que iria operá-lo naquele mesmo dia, pois ele podia morrer de um dia para o outro”, conta, emocionado. 

A cirurgia tinha como intuito remover o excesso de líquido no cérebro da criança para que depois o plano de tratamento fosse avaliado. Durante a recuperação, Eduardo lembra que o filho acordou, questionou o “chapéu” diferente em sua cabeça e teve uma conversa carinhosa com o pai. Algumas horas depois, Dudu começou a ter convulsões. Ao todo, foram 26, que levaram a mãe e o pai ao desespero. Foram inúmeros medicamentos e procedimentos para parar as convulsões. No oitavo dia de recuperação, em coma induzido, Eduardo foi informado pelos médicos que ele deveria esperar pelo pior. 

À espera de um milagre

Atordoado, Eduardo saiu da UTI e sentou-se, chorando, em uma sala de espera do hospital. Uma senhora se aproximou dele, colocou a mão em sua testa e pediu que orasse com ela. “Foi um anjo que Deus colocou no meu caminho. Ela disse que eu deveria ir até uma capela perto do hospital e que tudo daria certo porque Ele estaria me esperando de braços abertos.” 

No dia seguinte, seguiu as orientações da senhora. A capela ficava ao lado de uma igreja e era dedicada à Nossa Senhora Desatadora de Nós. “Quando entrei ali, Ele estava me esperando. Sentei, chorei, orei e abri meu coração, e a fé que eu tinha perdido voltou. Fiquei forte e corajoso de novo. Depois, fui à missa e me sentei perto do altar. Quando ela acabou, o padre veio falar comigo”. 

O Padre Valdinei perguntou se podia ajudar, e Eduardo contou sua história. O religioso disse que iria com ele até o hospital rezar por Dudu. Ao descobrir que a criança ainda não tinha sido batizada, faria o sacramento naquele mesmo dia. E assim foi. 

Eduardo lembra que ele, a mãe, os avós e os padrinhos de Dudu se reuniram ao redor do leito da criança. "Fechei os olhos e, quando abri novamente, vi uma luz intensa acima do meu bebê, que estava de olhos abertos, olhando em direção a essa luz. Naquele momento, eu soube que, independentemente do tempo, ele ficaria bem.” 

As preces de Eduardo foram ouvidas. Foram 93 dias de coma induzido, mas Dudu saiu do hospital. “Eu conversava com ele todos os dias, vendi minha lanchonete e passava 24 horas por dia ao lado do Dudu. Dizia que o papai estava ali com ele, que iríamos tomar as vitaminas que ele tanto gostava. Massageava os dedinhos dele, o pezinho e garantia que sempre estaria com ele.”

Eduardo Soares Dutra Vasconcelos e seu filho Eduardo Roriz de Melo Vasconcelos.
Eduardo Soares Dutra Vasconcelos e seu filho Eduardo Roriz de Melo Vasconcelos. (foto: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)

Cuidados diários

Os dias de hospital foram seguidos de um intenso período de homecare. Dudu era alimentado através de uma sonda, passou por mais sete cirurgias ao longo dos anos, inúmeras terapias de reabilitação, acompanhamento no Hospital Sarah e no Hospital da Criança, rádio e quimioterapia. Aos 10 anos, foi considerado curado do câncer. 

A vida de Eduardo, que passou a morar com Dudu e os pais quando o filho tinha 4 anos e pôde sair do hospital, virou de cabeça para baixo. Até o seu atual trabalho, vendendo alimentos no Mercado do Produtor Rural do Jardim Botânico, foi inspirado pelo filho, que todo sábado está com o pai na feira. 

Para que Dudu tivesse uma alimentação saudável, mesmo que através de sonda, que ele só pôde tirar aos 8 anos, o empresário se especializou na produção de orgânicos e até hoje mantém esse foco. Quando o filho estava na escola, Eduardo ia na hora do lanche e, em uma sala separada, colocava os alimentos na sonda. Hoje, a vitamina é dividida entre os dois, que a tomam com prazer. “Dudu é um milagre. Ele está comigo e eu com ele para sempre. É um prazer fazer a vitamina dele todos os dias e garantir um alimento que possa nutri-lo.” 

Além de todos os desafios que uma criança com cuidados especiais traz, Eduardo fazia tudo sozinho. Apesar do apoio da família, que ele faz questão de ressaltar, as funções diárias eram sempre entre pai e filho. Eduardo nunca perdeu uma consulta, e em todas as sessões das diversas terapias esteve presente. Hoje, busca o filho na escola e o leva em todas as atividades extracurriculares. Os dois são parceiros também no lazer, adoram tomar banho de cachoeira, fazer trilhas e andar de bike. 

Eduardo ressalta o apoio do pai, que morreu no ano passado, durante toda a vida de Dudu. E comenta que, mesmo que o filho não tenha uma convivência frequente com a mãe, ele tem na avó e na tia figuras maternas que o cobrem de amor e carinho. Hoje, o garoto está no sétimo ano, tem algumas sequelas, mas vive feliz com o pai e a avó. Ele faz natação, atletismo, catequese e um curso de design de jogos.

Aprender a exercer a paternidade

Além das dificuldades de exercer papel de pai e mãe de uma só vez, o machismo costuma ser mais um obstáculo. Se, por um lado, os homens que exercem a paternidade sozinhos são chamados de heróis, por outro, recebem questionamento sobre a capacidade de cuidar de um bebê ou uma criança tão bem quanto a mãe cuidaria. 

Para a psicóloga e psicoterapeuta Silvia Oliveira, o machismo atrapalha que os homens sejam preparados para funções que deveriam ser comuns a todas as pessoas, como cozinhar, faxinar e cuidar dos filhos. O homem que sabe exercer essas funções ainda é considerado diferente, e muitos deles sofrem quando precisam assumir esses papéis, pois nunca aprenderam a fazer o que precisam. Isso afeta muito quem se torna pai solo de uma hora para a outra. 

Silvia menciona, ainda, a importância de que esse pai cuide da própria saúde mental e emocional, para que possa estar presente de todas as formas para o filho, que precisa de um apoio para lidar com a falta da mãe, independentemente do que motiva essa ausência. 

“Ele vai cumprir o papel dele e mais um, o da mãe, então precisa estar bem para oferecer esse espaço de escuta e de acolhimento para os filhos. Ninguém nasce pronto, ele precisa se cuidar e se preparar para viver esse papel”, comenta. 

Para os pais de menina, Silvia sugere que esses homens busquem uma rede de apoio com mulheres que possam orientá-lo a lidar melhor com questões da saúde feminina. Assim, ele estará informado e livre de constrangimentos quando as filhas o procurarem. "É importante que elas encontrem esse suporte no pai."

 

Uma ausência sempre presente 

Crianças que crescem sem a presença do pai ainda são, infelizmente, casos comuns. Dessa forma, nas escolas e espaços de convivência, as pessoas estão mais acostumadas a lidar com esse tipo de situação, e a própria criança encontra amigos e colegas com quem compartilham a experiência. Nos casos de crianças que não têm a mãe presente, é um pouco mais delicado.

Socialmente, a mãe ocupa o papel de abnegação e de dedicação total aos filhos, um amor visto como inigualável, e a mulher que abre mão da guarda e da convivência com os filhos ainda sofre muito mais julgamento do que os homens que fazem o mesmo. Para a criança que cresce nessa sociedade, lidar com o sentimento de rejeição por parte da mãe, ou com o luto de perder a figura materna, é algo extremamente doloroso e constantemente lembrado no dia a dia. 

“O amor de mãe é aquele primeiro amor do ser humano, desse útero que gera e acolhe, então lidar com a falta desse amor é muito doloroso. É importante que o pai saiba conduzir bem essa narrativa para não exacerbar esse sentimento de abandono na criança”, explica Sílvia.

Ela acrescenta que é importante explicar para essa criança que, mesmo que a mãe não esteja presente na vida dela, ela é amada. A psicóloga fala sobre a importância de alimentar o lúdico e o fantasioso na criança, colocar essa figura que não está ali como positiva. “Precisamos evitar trazer o trágico para a criança, pois ela ainda não tem condições de lidar com certas realidades”, completa. 

Em situações de abuso ou violência, por exemplo, a psicóloga afirma que, enquanto o filho é uma criança, o ideal é maquiar essa realidade. Ela explica que por mais que as crianças tenham direito à verdade, elas também têm direito a crescer mantendo suas fantasias, seus simbolismos e sua inocência. 

A psicóloga ressalta, no entanto, que isso não quer dizer que devemos mentir. Existe uma diferença entre mentir e apresentar para a criança a realidade de uma maneira que consiga compreender e lidar. Sílvia acrescenta que o pai pode simplesmente dizer que a mãe não pode ou não conseguiu estar ali, mas reforçar a própria presença e deixar muito claro que o filho não está sozinho e desamparado “Muitas vezes, a verdade tão dolorosa criança precisa do simbolismo para entender ou lidar com aquela ausência”. 

No caso de filhos que perdem a mãe, Sílvia afirma que manter a verdade é ainda mais importante. Para explicar a morte da mãe, Sílvia explica que cada um adapta de acordo com a própria crença, mas dizer que ela está no céu, virou um anjo ou estrela é uma das maneiras de deixar claro que a figura materna não estará aqui novamente de uma forma mais delicada. 

Pai real

Pai solo de duas meninas, o personal trainer Marcos Paulo do Nascimento Alves, 36 anos, é firme ao dizer que mesmo que muitas pessoas o vejam como um herói ou exaltem o fato de ele criar as filhas sozinha, o que ele faz por elas é a sua obrigação como pai. 

“Tenho plena consciência de que, embora seja difícil, estou cumprindo o meu papel e sendo o que todo pai deveria ser. Você abre mão de toda a sua vida quando é pai solo, e eu só posso imaginar o quanto é ainda mais complicado para as mulheres, que fazem isso o tempo todo. E ainda são julgadas”, acrescenta. 

Marcos conheceu a ex-mulher pela internet, e as filhas são fruto do relacionamento que durou cinco anos. Ela, que morava em Recife, largou tudo para morar com Marcos em Formosa (GO). Com o relacionamento em crise, os dois tentaram viver na cidade natal dela, mas acabaram se separando. O período foi difícil para ele, que teve uma crise de depressão e chegou a perder quase 30 quilos. Marcos resolveu voltar para casa, mas nem por um momento cogitou ficar longe das filhas. 

“Quando eu disse que traria as meninas, ela relutou. Mas conversamos, ela ia assumir um cargo em um concurso que tinha acabado de passar e chegamos à conclusão de que o melhor para as meninas seria realmente ficar comigo”, conta. 

Há oito anos, Marcos é pai solo e afirma que ficar com as filhas foi a melhor decisão que tomou na vida. “Faço questão de deixar claro que elas têm um pai, uma pessoa para conversar, que vai defendê-las e estar sempre presente. E, assim, afastar ao máximo o sentimento de abandono que acaba surgindo pela ausência da mãe.” Embora ressalte que faz apenas sua parte, não é possível negar que Alana e Janis Monteiro do Nascimento, de 13 e 11 anos, respectivamente, tiraram a sorte grande quando se trata do pai. 

Quando a primogênita nasceu, ele logo correu para se especializar, em sua profissão, no atendimento de mulheres. Hoje, cria treinos e exercícios para gestante, mulheres no pós-parto e até para as que estão tentando engravidar. Marcos também estudou e se aprofundou no universo feminino para estar preparado na hora de conversar sobre menarca, namorados e tudo que pudesse envolver o universo das filhas. 

Apesar de ter sido criado em uma família em que os homens não assumiam nenhum dos cuidados com os bebês, ele, desde o início, dava banho, alimentava, trocava fraldas e exercia o papel de cuidador com tudo que ele envolve. “Eu escutava essas coisas, que homem não dá banho, não limpa, não faz comida, homem não compra absorvente. E, desde sempre, pensava que, quando fosse pai, faria tudo diferente, eu seria pai mesmo, abraçando a causa”, conta. 

Marcos ressalta a ajuda da mãe, da irmã e da namorada, que se tornaram as referências femininas para Alana e Janis. Apesar da disponibilidade do pai, que conversa sobre todos os assuntos, monitora as redes sociais, brinca e deixa claro que está presente para tudo o que elas precisarem, algumas vezes as meninas preferem conversar certos assuntos com a avó, a tia ou a madrasta. E, por ele, tudo bem, o importante é a felicidade das garotas. 

Para ele, ser pai é acordar e dormir pensando nas filhas, é saber que enfrentaria o mundo inteiro por elas. Ao mesmo tempo, sabe que as está criando para o mundo. “É corrido e cansativo, claro, mas elas são os amores da minha vida, tudo para mim, e vejo que cada momento que vivi me preparou para isso, para ser o pai delas”, completa.

Marcos com as filhas, Alana e Janis
Marcos com as filhas, Alana e Janis (foto: Arquivo Pessoal)

O que diz a Lei 

A advogada especialista em direito de família e sucessões e presidente da Comissão de Direito das Famílias e Sucessões da OAB/DF,  Liliana Marquez, explica que a guarda unilateral deve ser considerada quando estiver de acordo com o melhor interesse da criança. 

Para determinar se um dos pais deve ter esse tipo de guarda, são avaliados aspectos como provas de capacidade, quando o pai deve demonstrar que tem condições de prover as necessidades físicas, emocionais e educacionais da criança; histórico de convivência, que é evidenciar a relação existente entre o pai que busca a guarda e a criança; situação do outro genitor, em que devem ser apresentadas evidências de que o outro genitor não tem condições adequadas ou está ausente. A partir disso, são feitas audiências e pareceres com assistentes sociais e psicólogos. 

Para que um dos pais se torne o único responsável por uma criança existem alguns caminhos:

- Acordo amigável: deve ser formalizado por meio de um advogado, determinando as condições e a anuência da mãe. Em seguida, o acordo deve ser submetido ao juiz para homologação, assegurando que todos os direitos da criança sejam respeitados. É necessária também a apresentação de documentos que comprovem a capacidade do pai e a desistência da mãe.

- Ação judicial: quando não há anuência da mãe, o pai deve ingressar com uma ação de guarda unilateral. A mãe terá o direito de apresentar sua defesa e contestar os argumentos do pai. O juiz pode determinar perícias e estudos sociais para avaliar a situação da criança e decidir o que é melhor para ela. A partir disso, e com base nas evidências, o juiz tomará a decisão. 

Não é uma prática comum que a Justiça tire a guarda da mãe por completo. “Não é comum. A justiça brasileira tende a preferir a guarda compartilhada, salvo em casos em que um dos pais demonstra claramente ser incapaz ou perigoso para a criança”, comenta Liliana. 

Ela comenta que historicamente é mais comum encontrar casos de homens que abrem mão ou não exercem seus direitos como pais. A ausência maternal é mais rara, mas acontece.

  • Eduardo Soares Dutra Vasconcelos e seu filho Eduardo Roriz de Melo Vasconcelos.
    Eduardo Soares Dutra Vasconcelos e seu filho Eduardo Roriz de Melo Vasconcelos. Foto: Minervino Júnior/CB/D.A.Press
  •  05/08/2024 Crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press. Brasil. Brasília - DF - Dia dos Pais sobre pais solo. Humberto Marques Santos com a filha Esther Nathália Marques,
    05/08/2024 Crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press. Brasil. Brasília - DF - Dia dos Pais sobre pais solo. Humberto Marques Santos com a filha Esther Nathália Marques, Foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press
  •  05/08/2024 Crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press. Brasil. Brasília - DF - Dia dos Pais sobre pais solo. Humberto Marques Santos com a filha Esther Nathália Marques,
    05/08/2024 Crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press. Brasil. Brasília - DF - Dia dos Pais sobre pais solo. Humberto Marques Santos com a filha Esther Nathália Marques, Foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press
  •  05/08/2024 Crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press. Brasil. Brasília - DF - Dia dos Pais sobre pais solo. Humberto Marques Santos com a filha Esther Nathália Marques,
    05/08/2024 Crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press. Brasil. Brasília - DF - Dia dos Pais sobre pais solo. Humberto Marques Santos com a filha Esther Nathália Marques, Foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press
  • Humberto Marques Santos com a filha Esther Nathália Marques
    Humberto Marques Santos com a filha Esther Nathália Marques Foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press
  • Humberto Marques Santos com a filha Esther Nathália Marques
    Humberto Marques Santos com a filha Esther Nathália Marques Foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press
  • Eduardo Soares Dutra Vasconcelos e seu filho Eduardo Roriz de Melo Vasconcelos.
    Eduardo Soares Dutra Vasconcelos e seu filho Eduardo Roriz de Melo Vasconcelos. Foto: Minervino Júnior/CB/D.A.Press
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    xx Foto: Arquivo Pessoal
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postado em 11/08/2024 06:00
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