Conhecidos pelos formatos semelhantes a grãos de feijão, os rins desempenham papéis imprescindíveis à vida. Pertencentes ao sistema excretor e osmorregulador, esses órgãos são responsáveis, principalmente, pela filtragem do sangue, eliminando substâncias tóxicas ao organismo, como amônia, ureia e ácido úrico.
A manutenção do equilíbrio de eletrólitos no corpo, a excreção de substâncias exógenas e a produção de hormônios são alguns dos outros papéis dos rins. Diante das funções e da importância desse órgão para o organismo, é essencial o conhecimento sobre o câncer de rim, que corresponde a cerca de 3% dos tumores malignos urológicos, segundo a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU).
De acordo com o Sistema de Informações sobre Mortalidade do Ministério da Saúde, de 2019 a 2021, foram registrados mais de 10 mil óbitos em razão da doença, que tem mais incidência em homens de 50 a 70 anos. Esse número está extremamente ligado ao diagnóstico tardio do câncer de rim, que, muitas vezes, não apresenta sintomas nos estágios iniciais, dificultando a descoberta da doença.
Sintomas
"Muitas vezes, esse tumor pode ser bastante silencioso e só virá a dar sintomas quando a doença já está bastante elevada, bastante aumentada de tamanho ou até já com uma doença espalhada, que a gente chama de doença metastática", afirma o oncologista do Hospital Sírio-Libanês Daniel Girardi.
Segundo ele, os principais sintomas que se manifestam são dor abdominal, especialmente ao lado do abdômen, um pouco mais para a região das costas, e sangramento na urina, que tende a ser o sinal que leva o paciente a procurar um médico.
"Muitas vezes, a dor nas costas pode ser confundida ou interpretada como algo mais simples, mas, em geral, o sangramento acende o sinal de alerta", explica Daniel. Sudorese, fadiga, anemia, perda de peso e de apetite, febre e presença de massa abdominal palpável são outros sintomas comuns do câncer renal.
Diagnóstico
"Aproximadamente 25% dos pacientes apresentam achados incidentais, ou seja, é vista lesão/nodulação renal nos exames radiológicos de rotina, sendo feito diagnóstico precoce de câncer renal", explica a oncologista clínica do Hospital Brasília Águas Claras, da rede Dasa no DF, Taiana Coelho Pedreira.
Quando não ocorre de maneira "acidental", o diagnóstico de câncer de rim começa com uma avaliação clínica completa, seguida por exames de imagem, como ultrassonografia e tomografia, análises de sangue e de urina. Em alguns casos, uma biópsia renal pode ser necessária para confirmar o diagnóstico.
Taiana destaca o caráter metastático do câncer de rim, que pode vir a acometer outros órgãos e reduzir a chance de sobrevivência do paciente, e a importância de um diagnóstico precoce. Segundo ela, essa detecção precoce de câncer renal aumentou com o uso crescente dos exames de imagem.
Fatores de risco
De acordo com a oncologista, os principais fatores de risco relacionados ao desenvolvimento de câncer de rim são tabagismo, que aumenta o risco em 30%, obesidade, idade avançada, hipertensão, etilismo, doença renal policística e doença renal crônica.
Doenças genéticas e histórico de câncer renal na família também podem favorecer o aparecimento da doença. "Algumas condições genéticas hereditárias, como esclerose tuberosa, síndrome Von Hippel Lindau, síndrome de Birt Hogg Dube, elevam a probabilidade desse câncer", completa Taiana.
Prevenção
Tendo em vista os fatores de risco para a doença, as formas de prevenção consistem, basicamente, em um cuidado adequado e generalizado com a saúde. De acordo com o oncologista Daniel Girardi, evitar tabagismo e sobrepeso, manter uma atividade física regular e uma rotina de acompanhamento médico e de checape adequada são algumas medidas de prevenção do câncer de rim.
Para ele, é de extrema importância estar atento a possíveis sintomas e não negligenciá-los caso apareçam, recorrendo rapidamente a atendimento médico. "A realização de exames regulares e o acompanhamento médico para aqueles com fatores de risco conhecidos são estratégias importantes para a detecção precoce e a prevenção eficaz", completa Taiana.
Tratamento
A depender do estágio da doença, as opções de tratamento para câncer de rim variam. Segundo Taiana Coelho, para tumores localizados, o principal tratamento vai ser cirúrgico, podendo envolver a cirurgia poupadora de néfrons, nefrectomia parcial ou nefrectomia radical.
Já para casos de doenças avançadas e metastáticas, ou seja, quando o câncer se espalha para outros órgãos, a principal alternativa são os tratamentos sistêmicos, que circulam pela corrente sanguínea.
De acordo com Daniel Girardi, um dos tratamentos sistêmicos mais comuns no câncer de rim, hoje, é a imunoterapia, que consiste em medicações injetadas na veia que ativam o sistema imunológico para reconhecer e combater as células tumorais.
"Tem também o que a gente chama de terapia alvo, aquelas que têm como alvo algumas alterações moleculares que o câncer de rim expressa e que vão ajudar no combate da doença. Geralmente são feitas por meio de medicações em forma de comprimido", detalha ele.
Para Taiana, um tratamento adequado é essencial para uma melhor qualidade de vida do paciente. "A abordagem multidisciplinar, que pode incluir cuidados paliativos, apoio nutricional e psicológico, é fundamental para atender às necessidades complexas dos pacientes com câncer renal", comenta a oncologista.
Saiba Mais
Palavra do especialista
Quais os riscos de um diagnóstico tardio de câncer de rim?
Quanto mais tardio o diagnóstico, em geral, menor a chance de sucesso de um tratamento curativo e definitivo, então o importante é realmente diagnosticar o quanto antes essa doença para que a gente consiga tratá-la na condição de uma doença pequena localizada, em que o tratamento tem maior chance de sucesso. Quanto mais preciso e rápido for o meu diagnóstico, mais chance de sucesso eu tenho, com tratamento cirúrgico, ou até mesmo com tratamento sistêmico.
Qual a importância de um tratamento adequado para garantir a melhor qualidade de vida possível ao paciente?
Sabemos que, para ter sucesso no tratamento do câncer, quanto mais precoce diagnosticar, melhor, e quanto mais eficiente for o acesso e a disponibilidade do tratamento, também melhora. Tratar uma lesão pequena é muito mais efetivo e simples e garante uma maior qualidade de vida do que tratar um câncer já avançado ou metastático. Da mesma forma, ter acesso aos tratamentos mais modernos e mais efetivos é algo de extrema importância, o que, às vezes, existe a dificuldade de se ter acesso ao tratamento mais moderno, por exemplo, no âmbito da saúde pública, devido ao preço elevado desses medicamentos.
Daniel Girardi é oncologista do Hospital Sírio-Libanês em Brasília.
*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte
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