Foi há muito tempo. Lá fora, apontavam os primeiros sinais do anoitecer. Eu me sentava à escrivaninha no escritório, encarando o computador com olhos que mais pareciam janelas para um temporal interno. A ansiedade, palavra que comporta um universo intrincado de sentimentos e sensações, tomava conta de mim nos dias anteriores.
Na tela, um documento em branco piscava seu cursor como um coração que bate esperando por palavras. Mas, para mim, cada piscar era um martelar na mente, uma pressão que crescia e parecia gritar: “E agora, o que você vai escrever?”. Não era apenas um bloqueio de escritor; era uma barreira construída por preocupações e um medo constante do futuro. “E se eu não for bom o suficiente? E se ninguém gostar do que eu escrevo?”.
Alimentos da ansiedade
A ansiedade, para muitos, é um campo minado de ruminações exageradas, uma sensação de urgência e pressa que não encontra justificativa no mundo real. Em nossa sociedade acelerada, ela se alimenta da necessidade de sucesso, da comparação incessante propiciada pelas redes sociais e pela ideia de que devemos estar sempre ocupados, produtivos.
Fique no presente
Os desafios são imensos. No meio de minha luta, percebi que não estava só. Muitos amigos e pessoas enfrentam suas próprias batalhas silenciosas contra esse monstro invisível. Decidi, então, buscar ajuda e explorar soluções naturais, algo que pudesse amenizar a tormenta, sem necessariamente recorrer a medicações pesadas. Recorri ao meu mentor, o pajé Gavião Branco, que me orientou: “Quando sua cabeça fica muito tempo no futuro, gera ansiedade. Se fica muito tempo no passado, gera depressão. Então, o melhor é ficar no presente”.
Acalmando a tempestade
Comecei com a meditação. Dez minutos diários nos quais tentava apenas ser, existir sem julgamentos, sem pressa. A princípio, era desafiador acalmar a tempestade de pensamentos, mas, com a prática, passei a encontrar momentos de paz. Incorporei também exercícios físicos à minha rotina. Caminhadas. Cada passo parecia afastar um pouco da tensão acumulada.
Ainda hoje, diante da tela em branco, às vezes aciona-se algum gatilho de ansiedade. Ao me dar conta, faço uma profunda respiração e pausa. Procuro perceber onde está minha cabeça. Se me vejo nas diversas hipóteses de futuros improváveis, aciono as rédeas do agora. Então, dou de cara com dias incríveis, verdadeiros presentes.
Por Kaká Werá – revista Vida Simples
É um ecologista do ser e cultivador da arte do equilíbrio da natureza humana.