Presentes nas ruas, nos bares, no trabalho, na faculdade e nas casas, o tema esporte é onipresente, mesmo para aqueles que não gostam. Com o início próximo das Olimpíadas, em 26 de julho, o clima esportivo fica ainda mais exacerbado e atinge a sociedade como um todo. O esquenta começou com a Eurocopa e a Copa América, competições realizadas nos dois continentes, e o clima esportivo tomou conta de vez do brasileiro.
O maior evento esportivo do mundo teve sua história iniciada na Grécia Antiga, na cidade de Olímpia, em 776 a.C, e tinha como principal objetivo a cultuação dos deuses do Olimpo. Foi somente em 1896, que se iniciou a história moderna das Olimpíadas. Ocorridos em Atenas, capital da Grécia, os jogos tiveram a participação de 14 países, totalizando 241 atletas, todos homens.
Desde o berço da história das Olimpíadas, o evento tem como princípio a celebração e a promoção da paz, da união e do respeito. “Os monarcas envolvidos em conflitos acordaram que o tempo destinado aos jogos seria um período de paz e celebração, o que era seriamente respeitado”, explica o professor do Centro Universitário (Uniceplac) e mestre em ciências sociais Bruno Fonseca Gurão.
Os cinco aros olímpicos representam a união dos cinco continentes e o objetivo inicial dos jogos de fomentar a paz e a igualdade por meio dos esportes. “O objetivo é contribuir na construção de um mundo melhor, sem qualquer tipo de discriminação, e assegurar a prática esportiva como um direito de todos”, destaca o portal do Comitê Olímpico do Brasil (COB).
Brasil olímpico
Ocorrida de quatro em quatro anos, as Olimpíadas terá sua trigésima edição sediada em Paris, França. No Brasil, a participação nos jogos olímpicos iniciou-se em 1920 e, desde então, o país está presente em todas as edições. Em 2016, o Brasil sediou o evento no Rio de Janeiro, representando um marco de projeção esportiva para o país.
Cada vez mais, o Brasil vem se destacando em outras modalidades, além do tradicional futebol, como no skate, representado pela medalha de prata de Rayssa Leal, e no surfe, com a medalha de ouro de Ítalo Ferreira, ambas adquiridas nos últimos jogos olímpicos, em Tóquio.
Para Bruno Gurão, eventos dessa magnitude mexem com o sentimento chamado de “brasilidade”, nacionalismo que aflora quando o que está em jogo é mostrar a força de um povo que se projeta na prática esportiva.
“Competições que envolvem seleções ou até mesmo equipes de países diferentes costumam despertar um certo nacionalismo, algo como um ufanismo idílico, seja pela rivalidade própria dos esportes em questão, seja pelo apelo que elementos como a bandeira, o hino e as cores que representam o país despertam na população”, explica.
Outro fator determinante para esse clima de união é a projeção de expectativas de sucessos nos atletas que estão nos representando. “Em alguma medida são representações de uma expectativa de nós mesmos: quando o Brasil ganha, sentimos como se cada um de nós fosse um pouquinho vitorioso”, finaliza Bruno.
Torcida que não para
O produtor cultural Sandro Biondo, 49 anos, é amante das Olimpíadas desde 1984 quando assistiu ao evento pela primeira vez, aos 9 anos de idade. “Eu adoro esporte, adoro competição, e meu sonho de infância e adolescência era ser jogador de vôlei, mas nunca tive talento o suficiente pra isso”, conta ele.
Em 2016, Sandro assistiu presencialmente a abertura e o encerramento das Olimpíadas do Rio, e viu os jogos dos esportes de que é mais fã. Apesar de não ter assistido a outras edições de forma presencial, o produtor fez questão de visitar todos os estádios olímpicos das cidades que já visitou e sediaram os jogos.
Quando o ano de Olimpíadas chega, Sandro não economiza as energias para acompanhar o máximo possível de competições. “Eu paro a vida. Tiro férias do trabalho, desmarco compromissos, mal vou à academia. Acordo para assistir aos jogos da madrugada e só vou dormir quando terminar a última competição do dia.”
Segundo ele, é difícil encontrar alguém que tenha o mesmo pique para acompanhar os jogos. “Eu vejo de tudo, fico mudando os canais para não perder nenhum lance de nenhum jogo”, afirma. As modalidades que o produtor mais acha emocionantes são judô, natação e ginástica.
Para ele, o clima de unidade nacional de cada país e de confraternização universal que o mundo vive nessa época é algo único das olimpíadas. “Se todos os dias fossem olímpicos, o mundo seria um lugar muito melhor para viver.”
Sem limites para um sonho
O estudante João Kikuichi, 21, cresceu em uma família apaixonada por esportes, e ele não poderia ser diferente. Desde o berço, as Olimpíadas estão presentes na vida do jovem, que possui uma relação afetiva com o evento, pois representa um momento de juntar a família para torcer pelo país.
A paixão é tão grande que João também reorganiza toda a agenda para acompanhar os campeonatos. “Em 2021, uma parte dos jogos era de madrugada, então eu fiquei todo o período olímpico indo dormir 2h para acordar às 6h e assistir um pouco mais antes de entrar no trabalho.”
Para ele, ver as pessoas tentando entender outros esportes, se mobilizando para ver e torcer pelo Brasil — não só no futebol — é o que torna as Olimpíadas extraordinárias. “O clima olímpico, no geral, é fantástico, por você se emocionar com os enredos e as histórias que são criadas, independentemente de ser um atleta do seu país ou não”, afirma.
Este ano, João não planeja assistir aos jogos do sofá de casa. Na verdade, ele está há mais de um ano se planejando para viver e sentir o clima olímpico ao vivo. O jovem vendeu mais de 250 rifas de R$ 10 para conseguir custear a hospedagem em Paris. Energias não serão poupadas para acompanhar o máximo possível, seja dentro do estádio, seja nos arredores, e conhecer a cultura de vários países diferentes.
No estilo esportivo
Criadores de laços e com forte influência na sociedade, os esportes atingem diversos grupos, ambientes e dinâmicas sociais. Na moda, não poderia ser diferente. Ultrapassando as barreiras das paredes das academias e das cercas das quadras, roupas destinadas a práticas esportivas estão cada vez mais presentes em diferentes ambientes.
A moda esportiva, também chamada de athleisure, combinação das palavras athletic (atlético) e leisure (lazer), ganhou grande espaço com o aumento da moda comfy. O estilo athleisure tem como principal característica o equilíbrio entre conforto e praticidade, sem perder o estilo.
"As roupas esportivas são conhecidas por sua funcionalidade e pelos tecidos confortáveis, o que as tornou uma escolha popular não apenas para atividades físicas, mas também para ocasiões informais", afirma a produtora de moda e stylist, Juliana Maddeira.
Em clima de Olimpíadas, o evento possui grande influência no universo da moda. Para Juliana, os jogos impulsionam a tendência ao colocarem em evidência o universo esportivo e a performance atlética, e ao incentivarem a adoção de um estilo de vida saudável, aspecto muitas vezes relacionado ao modo de se vestir.
Além disso, a influência dos atletas na sociedade também é fator determinante. "O brasileiro tem como heróis os atletas que vão para as Olimpíadas lutar pelas medalhas do país, e a partir do momento que um 'herói' está usando algo, aquilo entra em evidência", completa Juliana.
Fácil, prático e estiloso
Para Juliana, equilibrar os elementos do look é essencial para combinar roupas esportivas com peças casuais no dia a dia, como uma calça de moletom com uma blusa mais estruturada, ou um blazer com um tênis esportivo.
"Uma dica que nunca falha é apostar na bermuda biker e no tênis esportivo, usando peças casuais como a camisa social como sobreposição", completa a designer de moda Emily Moreira de Souza.
Para adotar a moda em ambientes de trabalho, o segredo é priorizar cores mais neutras e sóbrias, mantendo o equilíbrio entre peças esportivas e formais. "Se estiver usando leggings, combine com uma blusa mais estruturada ou um blazer. Vestidos estilo polo também são uma ótima opção", ensina Emily.
De acordo com Juliana, leggings, jaquetas corta-vento, tênis brancos e camisetas básicas são peças coringas para quem quer adotar a tendência. "Os acessórios essenciais incluem mochilas esportivas, bonés, relógios esportivos, óculos de sol esportivos e pochetes", complementa a produtora de moda e stylist.
Nos pés, o tênis é sempre a melhor opção, tanto os tradicionais quanto os modelos mais contemporâneos, garantindo estilo ao visual. Para Emily, os de corrida com solado de EVA são a melhor opção. Segundo a designer de moda, os tecidos respiráveis das roupas esportivas modelam o corpo e garantem uma silhueta alinhada, fazendo toda a diferença no visual. Estilo, conforto e praticidade em um único look são garantidos no athleisure.
Camisas de time
Outro destaque da moda esportiva são as camisas de time, que possuem diferentes modelos e estão presentes em todos os ambientes. Para Juliana Maddeira, é possível, sim, elaborar um look chique com esse tipo de peça, tudo depende da composição e da ocasião na qual será usada.
Segundo ela, é importante equilibrar com outros itens básicos e neutros, como jeans ou peças de alfaiataria. "Bolsas elegantes e sapatos mais sofisticados também ajudam a criar um contraste interessante", completa.
Emily Moreira de Souza acrescenta que peças como calças ou saias em tons sóbrios — preto, branco, cinza ou azul-marinho — destacam a camisa sem sobrecarregar o visual. Acessórios mais discretos e minimalistas também fazem toda a diferença nessa estética, como um relógio elegante, uma pulseiras simples ou um cinto fino.
Vinícius Joanol, 20 anos, adota camisas de time no dia a dia desde criança. "Sempre achei muito bonito e sempre usei camisas do meu time pela paixão", conta. Inicialmente por incentivo do pai, o estudante usava principalmente camisas do Internacional, time do coração, mas com o tempo a diversidade do guarda-roupa foi aumentando. "Geralmente eu uso de uma maneira básica mesmo, dando destaque mais pra camisa."
Para ocasiões formais, as camisas polo ou de treino do time são a opção do jovem. "Acho que, além de serem mais apropriadas para essas ocasiões, trazem uma estética muito bonita." Agora, com a chegada das Olimpíadas, Vinicius começa a usar mais a camisa da Seleção Brasileira, que acaba por ficar guardada em outros momentos.
O universitário Arthur Serique, 20 anos, também adota a moda esportiva com o uso de camisas de time. Estilo e conforto são motivos pelo qual o jovem adota as peças diariamente. Porém, a internet e a influência do jogador Bellerin, que monta visuais formais com camisas de time, também impactam na escolha de Arthur. "Normalmente eu combino com bermuda ou calça esportiva, mas já saí com uma calça de alfaiataria e um cinto."
Porém, a paixão vai muito além da moda. Amante de futebol desde o berço, Arthur possui em média 200 camisas de time, grande parte herdada da coleção do pai, responsável por cultivar o hábito de colecionar as peças e o gosto pelo esporte. "O motivo de eu torcer para o meu time vai além de assistir a um jogo, é algo que muda meu humor", conta.
Para o jovem, a coleção tem valor afetivo e traz boas lembranças do momento em que adquiriu as blusas, a maioria em viagens. "Abrir o guarda roupa e ver camisas de diferentes épocas tem ligação com experiências e memórias."
Além do futebol, Arthur alimenta a ligação com os esportes em geral. Com a proximidade das Olimpíadas, o jovem está ansioso para assistir aos campeonatos de polo aquático, que já praticou quando criança, natação, atletismo, surf e skate. "Eu acho que as Olimpíadas é algo único pois são várias pessoas, países e esportes diferentes e isso abre as portas para várias pessoas se conhecerem", declara.
Polêmicas nos uniformes femininos
Dentro do contexto dos atletas, a moda também é alvo de discussão e mudanças. Na última Olimpíadas, ocorrida em Tóquio, o time feminino de handebol de praia da Noruega foi multado porque as atletas escolheram jogar de short em vez de biquíni, como prevê a Federação Internacional de Handebol.
A equipe alemã de ginástica artística também fez uma mudança no uniforme, optando por macacões que cobriam as pernas em vez do collant típico. As atletas de ambas modalidades alegaram que os uniformes oficiais são desconfortáveis e causam preocupações quanto à superexposição de partes do corpo e daquelas que podem vir a aparecer durante o jogo.
Os ocorridos levantaram diversas questões sobre sexualização do corpo feminino das atletas por meio dos uniformes, e sobre a necessidade de considerar também o conforto, as necessidades das mulheres e as diferenças corporais de cada uma. "Um uniforme bem projetado aumenta a confiança, a mobilidade e o desempenho das atletas, permitindo que elas se concentrem totalmente em sua performance", afirma Juliana Maddeira, produtora de moda e stylist.
Os Jogos Olímpicos de Paris representam um marco na luta a favor da igualdade de gênero dentro dos esportes, visto que é a primeira a ter o mesmo número de mulheres e homens competindo. A primeira edição das Olimpíadas ocorreu em 1896, porém foi somente em 1900 que a primeira mulher participou do maior evento esportivo do mundo.
Apesar do marco histórico, aspectos sobre a sexualização e o conforto das atletas ainda estão em pauta. Em abril, a Nike apresentou os uniformes da equipe de atletismo dos Estados Unidos para as Olimpíadas de Paris. Discussões acerca da concepção dos uniformes, que foram julgados como extremamente cavados, culminaram novamente no levantamento das questões debatidas em 2021.
Para Juliana, esses debates também têm impactos no mundo da moda, pois influenciam tendências e incentivam a criação de roupas esportivas mais inclusivas, funcionais e estilosas para mulheres. "Até porque as Olimpíadas são uma vitrine mundial."
*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte