Muito se fala sobre a importância de um sono de qualidade para ter disposição e energia. Todavia, esse período de descanso também oferece outros inúmeros benefícios, inclusive para a saúde física, emocional e neurológica.
“O sono tem duas fases principais: NREM (sem movimento rápido dos olhos) e REM (movimento rápido dos olhos). Entre essas fases, passamos por estágios que aumentam a profundidade do repouso e ajudam na recuperação da energia e da mente”, explica Larissa Fonseca, psicóloga clínica e doutoranda em ansiedade, depressão, estresse, sono e sexualidade feminina.
A profissional acrescenta que a fase NREM apresenta três estágios. O primeiro é quando começamos a adormecer, ou seja, o sono é leve. O segundo diz respeito a um descanso um pouco mais profundo, com a diminuição da frequência cardíaca e da temperatura corporal. O terceiro trata-se de um sono intenso em que ocorre a diminuição da frequência do cérebro. Por sua vez, a fase REM finaliza o ciclo. Nesse momento, a atividade cerebral aumenta e os sonhos ocorrem.
Benefícios do sono para a saúde
Noites saudáveis de sono têm um papel crucial na qualidade de vida. Afinal, elas influenciam o bem-estar da mente e do corpo. “Dormir bem ajuda a manter equilibrados os níveis de cortisol, conhecido como o hormônio do estresse, assim como auxilia na produção de serotonina, hormônio do humor, importante aliado para a estabilidade emocional”, comenta o Dr. Shigueo Yonekura, neurologista do Instituto de Tecnologia em Neurologia e Sono de Piracicaba e Campinas.
O especialista revela que um sono de qualidade facilita a retenção de informações, transforma as memórias de curto em longo prazo, melhora a concentração e a tomada de decisões, estimula a criatividade e ajuda a reduzir os resíduos metabólicos cerebrais – associados a doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer.
Além disso, durante o descanso, segundo a neurologista Dra. Priscila Mageste, curadora de Neurologia da Conexa e médica do sono, ocorre a promoção da saciedade, uma melhor absorção de nutrientes e a regulação do sistema cardiovascular e cerebral, ajudando a prevenir AVC (acidente vascular cerebral) e infartos. “Há também o restabelecimento energético, recuperação e reparação muscular”, complementa.
Período indicado para dormir
Para uma melhor qualidade de vida, o indicado é dormir, em média, de 7 a 9 horas por dia. Além disso, o período em que o sono ocorre também influencia a saúde, devendo variar conforme as fases da vida. De acordo com o Dr. Júlio Cézar Reis, psiquiatra do Instituto Suassuna, o mais recomendado é que os adolescentes durmam entre 22 horas e meia-noite, os adultos às 21 horas e os idosos entre às 19 e 20 horas.
Melhorando a qualidade do sono
Conforme a Dra. Priscila Mageste, garantir um sono de qualidade requer alguns hábitos diários, como:
- Evitar exposição às telas por pelos menos uma hora antes de dormir;
- Evitar cochilos durante o dia;
- Dormir em um ambiente sem barulhos e com pouca luminosidade;
- Sair da cama assim que acordar de manhã;
- Dormir e acordar no mesmo horário na maioria dos dias.
Ademais, é preciso evitar bebidas cafeinadas e cuidar da alimentação antes do sono. “O ideal é optar por refeições mais leves no jantar ao invés de pesadas e calóricas. O chocolate, que contém cafeína, também não deve ser consumido à noite”, detalha o Dr. Shigueo Yonekura.
Fatores que caracterizam um sono ruim
Um sono ruim pode ser caracterizado por diferentes fatores que impactam negativamente a qualidade do descanso. A psicóloga clínica Larissa Fonseca lista os principais:
- Dificuldade para adormecer: levar mais de 30 minutos para dormir pode indicar problemas;
- Despertares noturnos frequentes: acordar várias vezes durante a noite e ter dificuldade para voltar a dormir interrompe os estágios do sono;
- Acordar cedo demais: despertar antes do horário desejado e não conseguir voltar a dormir reduz o tempo total de sono;
- Sono não reparador: sentir-se cansado ao acordar, mesmo após dormir por um período adequado, indica que o sono não foi de qualidade.
Distúrbios e comportamentos que prejudicam o sono
Entre os transtornos que prejudicam o adormecimento, é possível citar a insônia, a apneia do sono (pausas na respiração enquanto dorme) e os distúrbios do ritmo circadiano (não sincronia do horário interno com os ciclos do dia e da noite).
Os problemas físicos e mentais também são fatores prejudiciais para a qualidade do descanso. “Doenças como Parkinson e Alzheimer podem interferir nos padrões de sono, assim como a depressão. Quem sofre de ansiedade pode encontrar dificuldade de relaxamento para iniciar o sono, e as pessoas com transtorno bipolar podem dormir muito pouco ou em excesso durante episódios depressivos”, explica o Dr. Shigueo Yonekura, que acrescenta que “dores crônicas e distúrbios gastrointestinais podem causar desconfortos e levar à insônia ou ao sono fragmentado”.
Além das questões citadas acima, o sono também pode ser comprometido pela própria influência do indivíduo. Isso porque, muitas vezes, ele tenta ser produtivo em tempo integral, ignorando o horário de descanso. “Os estudantes consideram-se bons estudantes se viram a noite estudando. Na nossa cultura, serão chamados, inclusive, de pessoas esforçadas. No entanto, para o desempenho no trabalho e nos estudos, o sono é importantíssimo”, analisa o Dr. Júlio Cézar Reis.
Malefícios de um sono ruim
Assim como dormir bem oferece diversos benefícios, um sono não reparador é capaz de acarretar inúmeros malefícios. Em termos neurológicos, Larissa Fonseca comenta que as consequências incluem a falta de consolidação das memórias, o processamento ineficiente das informações e o aumento do risco de doenças neurodegenerativas. “Na saúde mental, a privação de sono pode aumentar os níveis de estresse e ansiedade, contribuir para a depressão, reduzir a resiliência emocional e aumentar a irritabilidade”, complementa.
Em relação à saúde física, a Dra. Priscila Mageste pontua que podem ocorrer dores de cabeça, menor saciedade, incômodo abdominal, azia, aumento dos problemas cardiovasculares, redução da função imunológica e disfunções metabólicas (resistência à insulina, obesidade e hipertensão).
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