A comunicação, seja com o filho, ou mesmo em uma campanha de promoção de saúde, deve evitar a ideia de que muitas pessoas têm o hábito de fazer aquilo que você não quer que seja feito. Quando passa a impressão de que um mau comportamento é popular, seu interlocutor tem menos chance de seguir seu conselho. Ele vai pensar, mesmo que de forma inconsciente, que o comportamento indesejado por você é a norma social.
A revista Scientific American trouxe uma série de exemplos reais que devem servir de alerta a pais, educadores, jornalistas, a quem trabalha com políticas públicas e a qualquer um que espera que seu conselho seja seguido. Veja alguns exemplos:
— Campanha antidrogas promoveu o aumento do consumo entre estudantes ao passar a ideia de que as drogas estão em todos os cantos da cidade;
— Campanha para prevenção de suicídio entre adolescentes que enfatizava a alta incidência do problema aumentou o número daqueles que passaram a pensar em terminar com a própria vida;
— Sonegação fiscal aumentou após uma campanha de que as multas seriam aumentadas em seus valores já que muitas pessoas tinham sonegado no último período;
— A mensagem de um Parque Nacional “Muitos visitantes anteriores levaram pedras para casa. Não faça as coisas piorarem levando mais pedras” levou a mais roubos do que a frase dizendo “Por favor, não leve para casa pedras do parque;
— Numa eleição, chamar a atenção para a porcentagem dos que não compareceram às urnas pode aumentar o número de abstenções;
— Ao dar orientações sobre a necessidade de fugir do sedentarismo, tabagismo ou sexting, por exemplo, o tiro pode sair pela culatra se a mensagem for carregada da realidade epidêmica desses problemas;
Alguns exemplos de mensagens bem-sucedidas:
— Fotos de doenças nos maços de cigarro e campanhas que trazem o número de mortes por tabagismo ao invés de chamar a atenção para a grande frequência do hábito;
— Enviar correspondência a médicos dizendo que eles estão prescrevendo mais antibióticos por paciente do que a maioria dos seus colegas de profissão;
— Correspondência aos motoristas de uma cidade dizendo que a maioria paga suas multas dentro de 13 dias;
— O hotel que deixa uma mensagem dizendo que a maioria dos hóspedes reutilizam as toalhas;
— Você terá mais chance de ir votar se receber uma mensagem lembrando que a maioria dos seus vizinhos estão votando. Influenciar o comportamento dos outros não é simples, mas se feito de forma correta, pode ser altamente eficaz em inúmeras dimensões do nosso dia a dia.
*Ricardo Afonso Teixeira é doutor em Neurologia pela Unicamp e neurologista do Instituto do Cérebro de Brasília
Saiba Mais
Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br