Logo na entrada do suntuoso prédio de 77 mil m² de área construída, as embalagens dos perfumes criados pela Natura ao longo dos 55 anos de história estão expostas em prateleiras. O nosso guia busca aguçar a memória afetiva — e olfativa — do grupo de jornalistas que participa da visita perguntando quais daqueles produtos estão entre os nossos favoritos. Todos conhecem ao menos uma linha.
Líder brasileira em perfumaria, a Natura conta com um espaço especial para visitação, dentro do complexo de Cajamar, na Região Metropolitana de São Paulo, onde funcionam três das quatro fábricas da empresa (leia box). A Casa de Perfumaria do Brasil, uma das paradas da visita, oferece uma experiência sensorial e convida a um mergulho no universo da perfumaria.
A experiência começa pela Sala Multisensorial, um espaço todo espelhado, com imagens de flores e trilha sonora envolvente. É o caminho para o Jardim Aromático, uma estufa que abriga mais de 50 espécies do Brasil e do mundo sob condições de temperatura e umidade controladas. Delas se obtêm os óleos essenciais que são ingredientes para a criação dos perfumes.
Saindo do ambiente controlado, chega-se ao Jardim de Frascos, onde uma instalação de arte, criada pela designer Nicole Tomazi, traz 1.500 frascos de fragrâncias que, vistos do alto, formam um bebê no útero. A obra Eusencia faz referência ao cuidado ambiental da Natura. Desde 2007, todas as fragrâncias da empresa levam álcool 100% orgânico proveniente de cana cultivada sem queimadas, agrotóxicos ou adubos químicos.
Por fim, na Sala Alquimia, projeções em telões panorâmicos exibem o que está por trás da criação de perfumes — desde as comunidades amazônicas, origem de boa parte dos ingredientes, até a concepção artística das fragrâncias criadas por Verônica Kato, única perfumista da América Latina que trabalha em uma empresa de cosméticos. Nesse ambiente, também é possível vislumbrar, através de um painel de vidro, o laboratório da perfumaria. Outro destaque do espaço é a mesa de experimentação, contendo amostras dos mais diversos ingredientes, óleos essenciais e respectivas fragrâncias da empresa.
Muitas dessas fragrâncias foram, justamente, criadas por Verônica Kato, uma mestra dos cheiros e o nome à frente da perfumaria da Natura há 17 anos. Estima-se que ela seja responsável pela produção de mais de 300 fragrâncias. Em entrevista à Revista, Kato, que teve formação na Europa, conta como é o desafio de mesclar ingredientes clássicos da perfumaria mundial com os cheiros próprios da rica flora brasileira. "Eu diria que o uso de plantas brasileiras e da América do Sul nas nossas criações é como temperar um prato clássico, realçando ou recriando um novo sabor."
Entrevista / Verônica Kato, perfumista da Natura
Quando você percebeu que queria ser perfumista e como foi o processo de profissionalização?
Eu me formei em farmácia bioquímica e consegui meu primeiro emprego como assistente de perfumista. Quando conheci o laboratório com aquela miscelânea de cheiros, eu me apaixonei pelo mundo da perfumaria! E, pesando a fórmula para os perfumistas, nasceu o sonho de ser perfumista — em um longo trajeto de 10 anos, contando com estudos e estágio e passando por experiências na Alemanha, na França e na Inglaterra.
Como é ser uma perfumista, a única da América Latina que trabalha em uma empresa de cosméticos, em um meio tradicionalmente dominado por homens?
É um privilégio e muita responsabilidade! Quando comecei na perfumaria, em 1989, a maioria dos perfumistas eram homens. Fui a primeira mulher da empresa, na época, a ser convidada para a Escola de Perfumaria na casa matriz, na Alemanha. Hoje, a profissão está bem equilibrada entre homens e mulheres.
A Natura tem uma série de ingredientes próprios, originários de nossa rica biodiversidade, como é o processo de descoberta desses cheiros únicos?
Temos uma área de pesquisa que é responsável pela análise, prospecção e desenvolvimento de novos óleos essenciais para a nossa paleta de ingredientes naturais. Os pesquisadores fazem expedições nas matas e pesquisas em parcerias com diferentes universidades e instituições para encontrar os novos cheiros. Os que têm mais potenciais são estudados, avaliados e, quando selecionados, são escalonados e plantados em grande escala. É um longo processo até ser colhido e extraído seu óleo essencial para ser utilizado na perfumaria. E isso só é possível graças ao investimento e à dedicação da Natura em inovação.
Como equilibrar o uso de ingredientes brasileiros com os tradicionais da perfumaria mundial?
Eu diria que o uso de plantas brasileiras e da América do Sul nas nossas criações é como temperar um prato clássico, realçando ou recriando um novo sabor. É essa fusão de culturas que chamamos de brasilidade.
Como foi a criação do perfume feito especialmente para o Rock in Rio (a Natura é copatrocinadora do Palco Sunset do festival, que ocorrerá em setembro)?
Festival de Humor e Conexão, novas fragrâncias que levam a identidade dos festivais, partem de um processo da captura de moléculas presentes no ar dos festivais de música — um processo muito rico pela diversidade olfativa de moléculas que capturamos; algumas inusitadas e inspiradoras! As notas verdes, por exemplo, se originaram a partir de pessoas dançando na grama molhada. No total, capturamos mais de 40 moléculas que pulsavam no ar durante diversos festivais, produzindo um verdadeiro mosaico olfativo que reflete a diversidade e a intensidade das experiências vividas. Esse e os demais cheiros que achamos interessantes foram capturados pela tecnologia de headspace outdoor e foram decodificados em nomes químicos correspondentes no laboratório pelos nossos cientistas.
O que você diria para quem sonha em seguir a carreira de perfumista?
Eu diria que é uma profissão linda, que exige muita paixão, perseverança, resiliência, porque, além da criatividade e do senso estético, é preciso uma dedicação excepcional para fazer dezenas, às vezes centenas, de ensaios para chegar a uma boa fragrância.
A jornalista viajou a São Paulo a convite da Natura
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