Comportamento

Uma viagem olfativa: a história por trás do sucesso da Natura no Brasil

A Revista visitou a fábrica da Natura, em Cajamar, e conta como a empresa se tornou líder em perfumaria em território brasileiro. Confira ainda um bate-papo com a perfumista Verônica Kato

Verônica Kato no Jardim dos Frascos, em Cajamar -  (crédito: Divulgação/Natura/Marcos Suguio)
Verônica Kato no Jardim dos Frascos, em Cajamar - (crédito: Divulgação/Natura/Marcos Suguio)

Logo na entrada do suntuoso prédio de 77 mil m² de área construída, as embalagens dos perfumes criados pela Natura ao longo dos 55 anos de história estão expostas em prateleiras. O nosso guia busca aguçar a memória afetiva — e olfativa — do grupo de jornalistas que participa da visita perguntando quais daqueles produtos estão entre os nossos favoritos. Todos conhecem ao menos uma linha.

Líder brasileira em perfumaria, a Natura conta com um espaço especial para visitação, dentro do complexo de Cajamar, na Região Metropolitana de São Paulo, onde funcionam três das quatro fábricas da empresa (leia box). A Casa de Perfumaria do Brasil, uma das paradas da visita, oferece uma experiência sensorial e convida a um mergulho no universo da perfumaria. 

A experiência começa pela Sala Multisensorial, um espaço todo espelhado, com imagens de flores e trilha sonora envolvente. É o caminho para o Jardim Aromático, uma estufa que abriga mais de 50 espécies do Brasil e do mundo sob condições de temperatura e umidade controladas. Delas se obtêm os óleos essenciais que são ingredientes para a criação dos perfumes. 

Saindo do ambiente controlado, chega-se ao Jardim de Frascos, onde uma instalação de arte, criada pela designer Nicole Tomazi, traz 1.500 frascos de fragrâncias que, vistos do alto, formam um bebê no útero. A obra Eusencia faz referência ao cuidado ambiental da Natura. Desde 2007, todas as fragrâncias da empresa levam álcool 100% orgânico proveniente de cana cultivada sem queimadas, agrotóxicos ou adubos químicos. 

Por fim, na Sala Alquimia, projeções em telões panorâmicos exibem o que está por trás da criação de perfumes — desde as comunidades amazônicas, origem de boa parte dos ingredientes, até a concepção artística das fragrâncias criadas por Verônica Kato, única perfumista da América Latina que trabalha em uma empresa de cosméticos. Nesse ambiente, também é possível vislumbrar, através de um painel de vidro, o laboratório da perfumaria. Outro destaque do espaço é a mesa de experimentação, contendo amostras dos mais diversos ingredientes, óleos essenciais e respectivas fragrâncias da empresa.

Muitas dessas fragrâncias foram, justamente, criadas por Verônica Kato, uma mestra dos cheiros e o nome à frente da perfumaria da Natura há 17 anos. Estima-se que ela seja responsável pela produção de mais de 300 fragrâncias. Em entrevista à Revista, Kato, que teve formação na Europa, conta como é o desafio de mesclar ingredientes clássicos da perfumaria mundial com os cheiros próprios da rica flora brasileira. "Eu diria que o uso de plantas brasileiras e da América do Sul nas nossas criações é como temperar um prato clássico, realçando ou recriando um novo sabor."

  • A mesa de experimentação contém amostras de ingredientes, óleos essenciais e fragrâncias da empresa
    A mesa de experimentação contém amostras de ingredientes, óleos essenciais e fragrâncias da empresa Divulgação/Natura/Willy Biondani
  • A mesa de experimentação contém amostras de ingredientes, óleos essenciais e fragrâncias  da empresa
    A mesa de experimentação contém amostras de ingredientes, óleos essenciais e fragrâncias da empresa Fotos: Divulgação/Natura/Willy Biondani
  • Na estufa, encontram-se mais de 50 espécies do Brasil e do mundo
    Na estufa, encontram-se mais de 50 espécies do Brasil e do mundo Divulgação/Natura/Willy Biondani
  • No Jardim de Frascos, uma instalação de arte, criada pela designer Nicole Tomazi, traz 1.500 frascos de fragrâncias
    No Jardim de Frascos, uma instalação de arte, criada pela designer Nicole Tomazi, traz 1.500 frascos de fragrâncias Divulgação/Natura/Willy Biondani
  • Verônica Kato é a única perfumista da América Latina em uma empresa cosmética
    Verônica Kato é a única perfumista da América Latina em uma empresa cosmética Divulgação/Natura/Marcos Suguio

Entrevista / Verônica Kato, perfumista da Natura

Quando você percebeu que queria ser perfumista e como foi o processo de profissionalização?

Eu me formei em farmácia bioquímica e consegui meu primeiro emprego como assistente de perfumista. Quando conheci o laboratório com aquela miscelânea de cheiros, eu me apaixonei pelo mundo da perfumaria! E, pesando a fórmula para os perfumistas, nasceu o sonho de ser perfumista — em um longo trajeto de 10 anos, contando com estudos e estágio e passando por experiências na Alemanha, na França e na Inglaterra.

Como é ser uma perfumista, a única da América Latina que trabalha em uma empresa de cosméticos, em um meio tradicionalmente dominado por homens? 

É um privilégio e muita responsabilidade! Quando comecei na perfumaria, em 1989, a maioria dos perfumistas eram homens. Fui a primeira mulher da empresa, na época, a ser convidada para a Escola de Perfumaria na casa matriz, na Alemanha. Hoje, a profissão está bem equilibrada entre homens e mulheres.

A Natura tem uma série de ingredientes próprios, originários de nossa rica biodiversidade, como é o processo de descoberta desses cheiros únicos? 

Temos uma área de pesquisa que é responsável pela análise, prospecção e desenvolvimento de novos óleos essenciais para a nossa paleta de ingredientes naturais. Os pesquisadores fazem expedições nas matas e pesquisas em parcerias com diferentes universidades e instituições para encontrar os novos cheiros. Os que têm mais potenciais são estudados, avaliados e, quando selecionados, são escalonados e plantados em grande escala. É um longo processo até ser colhido e extraído seu óleo essencial para ser utilizado na perfumaria. E isso só é possível graças ao investimento e à dedicação da Natura em inovação.

Como equilibrar o uso de ingredientes brasileiros com os tradicionais da perfumaria mundial?

Eu diria que o uso de plantas brasileiras e da América do Sul nas nossas criações é como temperar um prato clássico, realçando ou recriando um novo sabor. É essa fusão de culturas que chamamos de brasilidade.

Como foi a criação do perfume feito especialmente para o Rock in Rio (a Natura é copatrocinadora do Palco Sunset do festival, que ocorrerá em setembro)?

Festival de Humor e Conexão, novas fragrâncias que levam a identidade dos festivais, partem de um processo da captura de moléculas presentes no ar dos festivais de música — um processo muito rico pela diversidade olfativa de moléculas que capturamos; algumas inusitadas e inspiradoras! As notas verdes, por exemplo, se originaram a partir de pessoas dançando na grama molhada. No total, capturamos mais de 40 moléculas que pulsavam no ar durante diversos festivais, produzindo um verdadeiro mosaico olfativo que reflete a diversidade e a intensidade das experiências vividas. Esse e os demais cheiros que achamos interessantes foram capturados pela tecnologia de headspace outdoor e foram decodificados em nomes químicos correspondentes no laboratório pelos nossos cientistas.

O que você diria para quem sonha em seguir a carreira de perfumista?

Eu diria que é uma profissão linda, que exige muita paixão, perseverança, resiliência, porque, além da criatividade e do senso estético, é preciso uma dedicação excepcional para fazer dezenas, às vezes centenas, de ensaios para chegar a uma boa fragrância.

A jornalista viajou a São Paulo a convite da Natura

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postado em 12/06/2024 15:45
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