Apesar de a castração ser uma medida extremamente indicada por especialistas e bastante acatada pelos tutores de cães e gatos para evitar gestações indesejadas, e até prevenir problemas de saúde, o desejo de continuar a linhagem do pet ainda existe em alguns lares. Por diferentes motivos, alguns tutores têm a vontade de aumentar a família peluda, afinal, quem não ama filhotinhos?
A decisão de acasalar o pet deve ser pensada e avaliada dentro das condições tanto do animal quanto do tutor. Além dos cuidados com os filhotes e com a fêmea após o parto, são necessárias algumas cautelas com o casal antes da cruza. Consultas médicas, vacinas, escolha do parceiro e monitoramento do cio da fêmea são algumas das ações importantes antes da procriação.
A idade para o cruzamento é um fator importante. Segundo o médico veterinário e PhD em reprodução animal Rafael Rossetto, para cadelas de pequeno porte, recomenda-se a partir de um ano de idade com, pelo menos, dois ciclos de cio. Já em fêmeas de grande porte, é aconselhável esperar, pelo menos, 18 meses. Os machos alcançam o máximo potencial reprodutivo entre 15 e 18 meses de vida.
Para os felinos, tanto fêmeas quanto machos, o ideal é iniciar a reprodução a partir de um ano de idade. Rafael ressalta que, para ambas as espécies, esse período pode variar a depender da raça e do desenvolvimento individual do animal. "É crucial que tanto o macho quanto a fêmea estejam completamente desenvolvidos fisicamente antes de serem usados para reprodução", afirma o veterinário.
Isaac Henrique da Silva, 30 anos, está em busca da parceira perfeita para Edson, o cachorrinho salsicha de 2 anos do produtor audiovisual. Após descobrir toda uma comunidade de amantes da raça dachshund assim como ele, Isaac decidiu realizar o desejo de outras pessoas de terem filhotes compridinhos.
"Depois que adotamos o Edson, descobrimos que ele tem um pelo muito raro, chamado merle, e aí decidimos por tentar perpetuar essa genética, que é bem bonita", acrescenta Isaac. Em contato com tutores da raça e com o médico veterinário, o produtor audiovisual descobriu que cachorros com pelagem merle não podem cruzar com outros com a mesma característica, pois a cruza pode gerar diferentes problemas de saúde nos filhotes.
É por esse e outros tantos motivos que o acompanhamento de um veterinário é essencial para garantir um acasalamento e uma procriação saudáveis e bem-sucedidas. De acordo com o veterinário Rafael Rossetto, verificar a saúde dos dois animais é imprescindível para evitar a transmissão de doenças e complicações gestacionais e da futura linhagem.
É necessário garantir que a vacinação e a vermifugação estejam em dia, e uma avaliação física geral deve ser feita por um médico veterinário. "Poderá incluir exames de hemograma completo e de bioquímica sanguínea para verificar a saúde dos órgãos", explica Rafael.
Além disso, os testes genéticos são cruciais para identificar doenças hereditárias específicas da raça ou uma avaliação dos parentescos anteriores para excluir problemas genéticos. Testes para doenças infecciosas também são essenciais. Sobretudo, ambos os cães ou gatos devem estar em boas condições físicas e bem nutridos.
Socializar antes é necessário
Feitos todos os exames e tomadas todas as precauções, chega a hora do primeiro contato entre o casal. A fase de namoro e de se conhecer é de extrema importância para o próximo passo na relação. Segundo o veterinário Thiago Borba, a socialização dos animais antes do cruzamento é essencial para garantir um acasalamento calmo e sem agressividade. "A fêmea deve ser introduzida na área do macho para diminuir a dominância", aconselha.
Rafael Rossetto recomenda interações gradativas e supervisionadas, com recompensas, como petiscos e elogios, por comportamentos calmos, tanto para os cães quanto para os felinos. "Paciência e observação são essenciais para garantir uma socialização bem-sucedida antes do cruzamento."
Depois que o casal já se conhece, eles estão prontos para cruzar. É importante lembrar que a fêmea precisa estar no cio para acontecer o cruzamento, mais especificamente na fase fértil. "Ela entra no cio com o sinal clássico de aumento de tamanho da região e sangramento. Identificados esses sinais, ela aceita a monta após três a quatro semanas", afirma Thiago Borba.
Essa fase em que a fêmea aceita a monta do macho é chamada de estro. Segundo Rafael, o comportamento receptivo e uma descarga vaginal clara são características que ajudam a identificar essa fase nas cadelas. Já nas felinas, além da secreção clara e elástica, os miados são mais frequentes, assim como a arqueação das costas.
"Com a avaliação de um médico veterinário, podemos determinar o momento ideal de acasalamento, por meio dos testes de progesterona e da citologia vaginal para ajudar a determinar o momento exato da ovulação e da fase de receptividade", explica o veterinário.
Checape feito, a conexão bateu e a fêmea está fértil, hora de procriar. Pode parecer um momento íntimo, porém ele deve ser observado e monitorado pelos tutores. Segundo Thiago, esse acompanhamento é essencial para evitar complicações e garantir um acasalamento saudável e tranquilo.
"Alguns animais podem apresentar comportamento agressivos, podem causar dor nos pets e, para evitar mordidas ou lesões, o tutor deve acompanhar, sim, o ato, além de anotar as datas para cálculo de quando os filhotes irão nascer", finaliza o veterinário.
A escolha do par
Tomada a decisão de dar continuidade à linhagem do pet, chega o momento de procurar a outra peça do quebra-cabeça. Escolher o parceiro sexual do gato ou do cachorro pode ser uma tarefa complicada, porém, algumas recomendações devem ser seguidas para evitar complicações.
Segundo o veterinário e doutor em reprodução animal Rafael Rossetto, é importante levar em consideração a diferença de tamanho entre os pais. Quando o macho é consideravelmente maior que a fêmea, os riscos de complicações durante a gestação e o parto são maiores. “Filhotes grandes podem causar distorcia, dificultando o processo de parto, e estresse fetal, colocando em risco a saúde da mãe e dos filhotes.”
Outra recomendação, para gatos e cachorros, é que o parceiro não seja da mesma linhagem genética. Assim como nos humanos, o cruzamento consanguíneo apresenta riscos significativos. “Embora possa ser usado em certos programas de criação para fixar características desejáveis, como em linhagens de raças puras, aumenta o risco de doenças genéticas, de redução da variabilidade genética e de expressão de traços indesejáveis”, explica Rafael.
*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte
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