Espiritualidade

Redes sociais, natureza e o lugar do ser humano: as lições do monge Sato

Aos 82 anos, o monge Sato, um dos maiores expoentes da cultura budista do país, ponderou importantes aspectos da vida humana, desde a relação com a natureza, até os limites das redes sociais

Para o monge, as fake news podem beneficiar aqueles que estão brigando pelo poder econômico ou político -  (crédito: Correio Braziliense)
Para o monge, as fake news podem beneficiar aqueles que estão brigando pelo poder econômico ou político - (crédito: Correio Braziliense)

Populares é pouco. Segundo dados das plataformas Meltwater e We are social, as redes sociais como Instagram, Facebook e WhatsApp mobilizam mais de 2 bilhões de pessoas todos os dias. Um ambiente tão povoado — com infinito trânsito de informação —, contudo, não pode existir em vão. Deve ter um propósito. É o que defende Ademar Kyotoshi Sato, conhecido como Monge Sato, que aos 82 anos é um dos maiores expoentes da cultura budista do país. 

“As redes sociais vieram para ajudar, mas podem atrapalhar. Antes, a gente conversava na frente de casa. Hoje, isso acontece em grande amplitude e em tempo real. As opiniões que nós trocamos nas redes têm que ser cuidadosas. Não podem ser à toa”, argumenta Sato — que foi o regente do Templo Shin-Budista de Brasília durante 26 anos.

O monge chama a atenção para as fake news, que, segundo ele, podem beneficiar aqueles que estão brigando pelo poder econômico ou político. “Tomara que o Estado ou o mundo regulamente a troca de informações e de opiniões pelas redes sociais”, considera.

Em maio, a mobilização de influenciadores e celebridades para arrecadar itens de doação para o Rio Grande do Sul, que enfrenta enchentes em diversos municípios, mostrou o impacto que as redes sociais têm no Brasil. "Espero que as vítimas se recuperem rapidamente e que mesquinharias não as atrapalhem", deseja Sato.

O ser humano faz parte da natureza

Da perspectiva budista, os seres humanos passam por várias etapas de sofrimento: nascimento, sofrimento das doenças, da velhice e da morte, além do sofrimento do amor. Isso sem falar dos outros sofrimentos, como catástrofes. Porém, tudo faz parte do propósito para alcançar a felicidade. 

Com relação às tragédias climáticas, o budismo afirma que o ser humano não é o mais importante do universo. Todos os seres são iguais em importância. É preciso buscar a paz, a alegria e a felicidade, mas não à custa dos outros seres que compõem a natureza, prega a religião.

Somente se colocando como igual à fauna e à flora o ser humano pode alcançar a sabedoria e a compaixão budistas, diz o monge. "Nas famílias orientais, nós agradecemos as pessoas que cultivaram a comida, que cozinharam a comida e também à própria comida, pois ela também fez parte da natureza".

Enquanto o ser humano se enxergar como superior à natureza, não há como pensar estratégias climáticas globais, diz Sato. "Que essa tragédia no Rio Grande do Sul estimule nossa consciência. Eventos climáticos têm se repetido muito nos últimos tempos e são avisos de que fazemos parte da natureza", considera.

Assista à entrevista com o Monge Sato:

 

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postado em 02/06/2024 06:00 / atualizado em 02/06/2024 15:04
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