Os brasileiros são apaixonados por pets. Segundo o censo do Instituto Pet Brasil (IPB) de 2021, o Brasil é o terceiro no ranking mundial em números de animais domésticos. Raças como buldogue, pug e shih-tzu são bastante procuradas e, além da popularidade, compartilham outra característica em comum: a braquicefalia. "Os cães braquicefálicos são aqueles conhecidos por apresentarem cabeça de formato 'achatado' e focinho de tamanho 'encurtado'", explica a veterinária Gabriella Terra. "Muitas vezes, essa condição anatômica impede o fluxo de ar, causando obstrução das vias aéreas", completa.
Além dessas características visíveis, como face arredondada e olhos arregalados, problemas de saúde podem ser causados por essa condição. Dificuldade respiratória e oculares, além de sensibilidade com calor. Logo, para cuidar dos animais é necessário um olhar diferenciado, confira.
Origem e particularidades
Para saber o que prestar atenção nesses pets, é crucial entender como surgiram. Segundo a veterinária Lorena Bastos, os bichos braquicefálicos têm origem em cruzamentos guiados. "Os criadores buscavam focinhos cada vez mais curtos, por padrão estético", conta Lorena. Assim, esses animais foram criados, com mandíbulas inferiores proporcionalmente normais e mandíbulas superiores compactas.
De acordo com Lorena, as alterações na anatomia que causam problemas à saúde são várias, entre elas as mais comuns são estenose de narinas, ou seja, narinas muito fechadas, dificultando a entrada do ar; distrofia das conchas nasais; prolongamento de palato — a porção mais profunda e macia do céu da boca é muito longa, tampando a passagem do ar pela laringe —; e alterações cardíacas
Por terem essas características, com vias respiratórias naturalmente mais estreitas, os bichinhos podem apresentar algumas dificuldades no dia a dia. "Cansaço fácil, respiração ofegante e roncos são alterações que a maioria dos braquicefálicos podem apresentar desde filhotes", afirma Lorena. Com o crescimento do pet, esses sinais podem piorar, levando a intolerância ao exercício, desmaios, cianose — língua roxa pela falta de oxigenação — e crises respiratórias graves.
Os bichinhos braquicefálicos também têm mais sensibilidade ao calor. "Como os cães trocam calor pela respiração, animais com essa condição têm uma facilidade maior de sofrerem de hipertermia — temperatura corporal muito alta —, podendo levar o animalzinho à morte", ressalta Lorena.
Além dos cachorros, algumas raças de gatos têm a mesma condição, como os persas. As limitações, porém, são menores. "Os cachorros braquicefálicos, em geral, têm mais problemas respiratórios do que gatos com essa condição", ressalta. Os felinos também não costumam ir tanto a passeios, se expondo menos ao sol e a exercícios.
Cuidados redobrados
Assim, para proteger a saúde do pet braquicefálico é interessante seguir algumas recomendações. "É sempre bom ficar atento para que não ocorra a exposição a exercícios físicos prolongados e altas temperaturas", alerta Gabriella Terra. Caminhadas curtas, em horários mais frescos, evitando sol e calor, é o mais indicado, para não ter excesso de esforço.
Thyago Lima, empresário de 40 anos, é um dos tutores que leva seu buldogue francês, Zeca, para atendimento com Gabriella, e mesmo que o bichinho nunca tenha tido problemas respiratórios, as atividades são feitas com atenção. "Ele é um desses cachorros que correm muito, mas uma hora cansa. Então, nós tomamos cuidado para não deixar ele exagerar na brincadeira", conta Thyago.
Atenção com a alimentação também é crucial na rotinas de tutores como Thyago, visto que o formato do maxilar pode ser um obstáculo para a alimentação dos pets. Além disso, a obesidade dificulta ainda mais a respiração. Assim, rações específicas para a raça e porções adequadas são recomendações para evitar esses riscos.
Os problemas oculares também são frequentes. Por terem os olhos mais expostos, os bichos são mais suscetíveis a batidas. Essas áreas podem ficar secas, por causa da baixa produção lacrimal, pois as pálpebras não cobrem todo o olho, o que pode gerar inflamações. Nesses casos, utilizar produtos e medicamentos, como colírios para cães, indicados por um profissional da área, é o mais adequado.
A atenção aos sinais dos animais é crucial em pets com essa condição, além do tratamento cirúrgico. "Como as alterações são anatômicas, medicações não têm efeito, porém existem cirurgias para ajudar a respiração, de acordo com cada quadro", explica Lorena. Para isso, é necessário avaliação de um veterinário, que escolherá a intervenção ideal. "Temos vários casos aqui na clínica de animais que tiveram uma mudança maravilhosa após as cirurgias com os especialistas, conseguindo uma qualidade de vida muito superior à que tinham antes", finaliza Lorena.
As raças
Dependendo do cruzamento, cães sem raça definida também podem ser braquicefálicos, mas algumas raças são conhecidas pela característica, entre elas estão:
— Shih-tzu
— Lhasa Apso
— Pug
— Buldogue francês e inglês
— Boxer
— Boston Terrier
— Maltês
— Pequinês
*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte
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