O Março Lilás é destinado à conscientização e ao combate ao câncer no colo do útero, doença relacionada ao papilomavírus humano, mais conhecido como HPV. Segundo o Ministério da Saúde, cerca de 72 mil mulheres foram diagnosticadas com câncer no colo do útero em 2018, e 34 mil morreram em decorrência da enfermidade. Além disso, o MS registrou cerca de 10 milhões de brasileiros, atualmente, infectados pelo HPV.
Segundo o urologista Rudinei Brunetto, apesar de o HPV ser associado ao câncer de colo uterino, o vírus pode infectar tanto homens quanto mulheres. “A doença acomete mais mulheres, mas a incidência é muito parecida. A gente fala que em torno de 50% a 54% das mulheres com vida sexual ativa apresentam o HPV; em contrapartida, entre os homens, esse índice giram em torno de 40% a 45%”, afirma.
De acordo com o médico, 70% dos casos de câncer de colo uterino, uma das doenças mais comuns em mulheres, estão ligados ao papilomavírus humano. O vírus possui mais de 140 subtipos divididos em dois grupos, os de baixo e os de alto risco, que se diferenciam pela possibilidade de desenvolvimento do câncer no colo do útero. “Os principais tipos de HPV são o 6 e o 11, que são os menos malignos. Os mais agressivos e associados ao alto risco, que é o câncer de colo uterino, são o 16 e o 18”, detalha Rudinei Brunetto.
Segundo a ginecologista Natália Menezes, o câncer de colo uterino é o caso mais extremo de contágio do HPV, e a identificação é feita por meio do exame ginecológico com coleta de material celular do colo uterino, chamado papanicolau. “Essa forma de rastreamento detecta as lesões precursoras e o câncer de colo de útero em estágios iniciais”, afirma.
Sintomas
Uma das características do HPV é que pode demorar algum tempo para a doença se desenvolver e, em muitos casos, pode ser assintomática. Porém, a enfermidade pode levar ao desenvolvimento de lesões na região genital, como verrugas irregulares que causam desconforto, sangramento e coceira no paciente.
“Na maioria das vezes, a doença não apresenta sintomas. Quando ocorrem, eles se manifestam pela adesão verrocosa genital, que pode acontecer na vulva, na vagina ou também no colo uterino, no caso da mulher. No homem, pode acontecer no pênis, além da região anal”, explica o urologista Rudinei Brunetto.
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Infecção e prevenção
A principal forma de infecção do HPV ocorre sexualmente e pode acometer jovens e adultos com vida sexual ativa. Segundo o urologista Rudinei Brunetto, por ser uma IST (infecção sexualmente transmissível), uma das maneiras de se proteger contra o vírus é o uso de preservativo, entretanto, o médico alerta para a possibilidade de contágio mesmo com esse cuidado.
Apesar de o preservativo ser eficaz na prevenção de grande parte das ISTs, no caso do HPV ele não garante 100% de proteção, pois o contágio pode ocorrer através de partes não cobertas, como mãos contaminadas. “Essa é a importância de a gente escolher os nossos parceiros sexuais, porque mesmo o uso do preservativo pode não impedir o contágio pelo HPV”, completa Rudinei.
Por isso, de acordo com a ginecologista Natália Menezes, a forma mais segura de proteção contra o vírus é a vacinação. “Existe uma forma de prevenção inovadora e extremamente eficaz, que é a vacinação contra o HPV. A vacina mais moderna pode proteger contra infecção pelo vírus, consequentemente contra o câncer de colo uterino, e possui eficácia de 90%”, ressalta.
A vacina contra o HPV é fornecida pelo SUS, e o mais recomendável é que a imunização seja feita em meninas de 9 a 14 anos e meninos de 11 a 14 anos. “Nessa população que ainda não teve exposição ao HPV, é recomendada a vacinação, que apresenta um fator protetor contra o câncer de colo uterino”, afirma Rudinei Brunetto.
Tratamento
Segundo o urologista, o tratamento do HPV vai depender do estágio das lesões e do desenvolvimento da doença. “Se for uma lesão verrucosa primária, o tratamento visa retirar essa lesão, que pode ser cirúrgica ou através de agentes esclerosantes, como ácido ou mesmo congelamento dessas lesões”, afirma .
Já em casos mais extremos de desenvolvimento no colo do útero, o tratamento é mais intrusivo. “Nos casos avançados, é necessária uma cirurgia extensa, com retirada do útero. Nos últimos estágios, já não há conduta cirúrgica, apenas possibilidade de radioterapia e quimioterapia em casos selecionados”, explica a ginecologista Natália Menezes.
Palavra do especialista
Qual a relação entre o HPV e câncer de colo de útero?
A principal complicação do HPV, e potencialmente mais grave, é o câncer de colo de útero, que, em algumas regiões do Brasil, chega a ser o segundo câncer mais incidente em mulheres. Pelo menos 80% das mulheres serão expostas ao HPV ao longo da sua vida sexual, parte dessas mulheres vai eliminar o vírus até os 30 anos de idade. Porém, para algumas que persistem com o vírus, as suas células do colo do útero podem sofrer alterações genéticas induzidas pelo HPV, o que pode resultar na progressão para o desenvolvimento do câncer de colo de útero.
O câncer de colo uterino apresenta sintomas? Como identificar?
A infecção pelo HPV no colo do útero não apresenta sintomas, nem lesões precursoras de câncer de colo de útero, nem o câncer em seus estágios iniciais. A forma de identificação é por meio de amostra celular colhida do colo uterino, chegando a identificar 60% das lesões no exame citológico tradicional e 89% nos testes de DNA para HPV.
Quais as melhores formas de prevenção?
A melhor forma de prevenção, hoje, é a vacina contra o HPV. Após essa medida, o exame ginecológico anual é o mais eficaz na detecção de estágios iniciais de lesão, para tratamento precoce, evitando progressão da doença. A vacina pode ser tomada por homens e mulheres de 9 a 45 anos de idade, independentemente de ter iniciado a vida sexual ou de já ter tido infecção prévia por HPV.
Natália Menezes Corrêa é médica ginecologista e professora do curso de Medicina do UNICEPLAC (Centro Universitário do Planalto Central Apparecido dos Santos)
*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte