Os baixos números de procura por imunização levaram a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) lançar, no início da semana, em São Paulo, uma nova campanha. A Tá vacinado? estenderá até novembro de 2024 e tem como missão mudar a realidade dessa baixa adesão no Brasil, reforçando a importância e a eficiência da vacinação para todos.
Segundo o presidente da SBI, Alberto Chebabo, a Sociedade está comprometida em mudar a perspectiva e a percepção das pessoas sobre a imunização, engajando-as e mostrando que a vacina é uma grande aliada. "Vacinas salvam vidas, previnem doenças graves, doenças que matam, que deixam sequelas. E a vacina, como a gente vem colocando, é para todo mundo", reforça.
De acordo com a coordenadora do comitê de imunização da SBI, Rosana Richtmann, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que a vacinação previne, pelo menos, três milhões de mortes por ano no mundo inteiro. "Em um mundo sem vacina, uma a cada cinco crianças menores de cinco anos morreria por uma doença imunoprevenível", complementa Rosana.
Segundo ela, depois da água potável, sem dúvida, a maior ação de saúde pública é a vacinação, que é determinante para uma maior qualidade e expectativa de vida da população. "Nós temos que adicionar vidas aos nossos anos e não anos às nossas vidas. A gente precisa ter qualidade de vida e envelhecimento saudável. E, para isso, precisamos de vacinas."
Objetivo da campanha
A baixa adesão à vacinação no geral e, principalmente, aumento de casos de doenças como a dengue e a covid-19 no Brasil vêm preocupando especialistas. De acordo com Alberto Chebabo, presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, a SBI e os profissionais de infectologia têm como missão proteger a população dessas e de tantas outras enfermidades, não só com o tratamento, mas também com a prevenção.
A campanha Tá vacinado? buscará estimular a atualização da carteirinha de vacinação ao longo de toda a vida e tornar a imunização em adultos prioritária, visto que muito se fala em imunizar crianças e idosos, mas pouco se incentiva a vacinação de pessoas adultas, que também contam com imunizantes obrigatórios e essenciais. Chebabo ressalta que, hoje, há vacina para todas a faixas etárias e incentivar a imunização de todos é um dos principais pilares da SBI.
Hesitação vacinal
Segundo o vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, Sérgio Cimerman, alguns fatores, como falta de informação clara, desconfiança nas autoridades e nos profissionais da saúde, falta de prescrições médicas e de acesso às vacinas, influenciam o fenômeno chamado hesitação vacinal. Com o surgimento de informações falsas, políticas e relatos de aparecimento de novas doenças, essa hesitação entra em pico.
De acordo com os representantes da SBI, a confiança em profissionais da área da saúde é um fator determinante no cenário, visto que muitas pessoas procuram a vacinação — ou deixam de se vacinar — por recomendação médica. Visto isso, para a coordenadora do Comitê de Imunização da Sociedade, Rosana Richtmann, a posição do médico e do profissional da saúde é extremamente impactante.
Imunização e informação
Um dos grandes empecilhos para aumentar a vacinação no país é a disseminação de informações irreais e até mesmo sensacionalistas sobre os imunizantes. Por isso, de acordo com Rosana, um fator de extrema importância para alcançar a população e mudar essa realidade é a divulgação de informações seguras e verdadeiras.
"Quanto mais informação a gente tiver, é o melhor que a Sociedade pode fazer para todo mundo”, afirma. Ela ressalta a importância e a responsabilidade de influenciadores e de veículos de comunicação na disseminação dessas informações para a população.
Para Sérgio Cimerman, vice-presidente da SBI, tranquilizar e explicar os benefícios das vacinas, de forma clara e objetiva, é essencial para estimular a imunização. “Não adianta ter as salas de vacinação, os profissionais e as vacinas sem a informação”, afirma. Segundo ele, a Sociedade Brasileira de Infectologia e o Ministério da Saúde estão comprometidos em manter uma linha de confiabilidade sobre o assunto.
Vacinas para adultos
A Revista reuniu as vacinas que constam no calendário vacinal da SBI para a faixa etária de 20 a 59 anos. Confira:
- Tríplice bacteriana acelular do tipo adulto (difteria, tétano e coqueluche) — dTpa ou dTpa-VIP dupla adulto (difteria e tétano) — dT: disponíveis nos sistemas privado e público para gestantes, puérperas e profissionais da saúde.
- Influenza (gripe): disponível em UBS.
- Pneumocócicas: disponível em clínicas privadas.
- Herpes zóster: disponível em clínicas privadas.
- Tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola): duas doses até 29 anos e uma dose entre 30 e 59 anos, disponível em UBS.
- Hepatites A, B ou A e B: apenas a B está disponível no sistema público, as demais são encontradas em clínicas privadas.
- HPV: disponível em clínicas privadas para adultos não vacinados anteriormente.
- Varicela (catapora): disponível em clínicas privadas.
- Meningocócicas conjugadas ACWY ou C: a indicação e o reforço vão depender da necessidade epidemiológica. Disponível no sistema privado.
- Meningocócica B: a indicação vai depender da necessidade epidemiológica. Disponível no sistema privado.
- Febre amarela: a SBI recomenda uma segunda dose com intervalo de 10 anos. Disponível no sistema público e privado.
- Dengue: duas doses, podendo ser tomadas por adultos até 59 anos. Disponível no sistema privado.
Para mais informações sobre doses e periodicidades, consulte o calendário oficial disponível no site da SBIm.
Saiba Mais
Palavra do especialista
Um dos objetivos da campanha é tornar a vacinação em adultos prioritária. Por que essa preocupação com os adultos?
O foco da nossa campanha acaba sendo os adultos porque fica enraizado, muitas vezes, que vacina é para crianças, que vacina é para idoso, e a percepção que gente grande, ou seja, adulto, precisa de vacina é muito baixa, e isso se reflete nas coberturas vacinais. Se observarmos, por exemplo, a população entre 18 e 60 anos, sempre você terá um índice de vacinação menor que na população idosa ou infantil. E nós temos várias doenças que podem ser evitadas ou ter seu risco diminuído nos adultos. Esse é um dos principais objetivos, dizer que vacina é para criança, é para adolescente, para idoso, mas vacina também é para adulto.
Quais são as estratégias de comunicação da campanha e quais mídias e produtos comunicacionais serão englobados?
A campanha Tá vacinado? vai englobar tanto as mídias tradicionais, como televisão, rádio, jornais, jornais impressos e jornais na internet quanto as mídias mais modernas, todas as digitais. Instagram, Facebook, TikTok, Linkedin trarão influenciadores para divulgar essas informações tão importantes. Episódios de podcasts com influenciadores parceiros também estão previstos, porque, hoje em dia, cada um consome um nicho de informação. Tem um grupo populacional que está mais nas mídias tradicionais, outras que estão ligadas a algum tipo de canal específico. Para a informação chegar, a gente precisa estar em todos os lugares.
Qual o parâmetro geral sobre a baixa adesão da vacinação contra a dengue em meio à crise epidemiológica que estamos vivendo? Qual a maior problemática e quais são as estratégias para lidar com isso?
A principal problemática é chegar a informação de que a vacina contra a dengue é extremamente eficaz e segura, e ela é uma vacina nova, então, a grande parte da população, mesmo nas cidades que estão recebendo a campanha, tem pouca informação. Existem pesquisas nessas cidades perguntando aos pais se eles sabem que existe essa vacina, e muitos não sabem. A ideia é fomentar essa informação a partir da escola. Na escola é onde essa população de 9 a 14 anos está. Partindo daí essa informação, a gente consegue aumentar a vacinação dessa população. Educação e saúde são umas das maiores ferramentas que temos para aumentar a qualidade de vida das pessoas.
Alexandre Naime Barbosa é coordenador científico da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI)
*Estagiária sob a supervisãode Sibele Negromonte*
*A estagiária viajou a São Paulo a convite da Sociedade Brasileira de Infectologia
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