Ao andar pela cidade, é comum vermos características do movimento modernista nas construções brasilienses. Além de presente nos monumentos, esse estilo está vivo na arquitetura residencial e na decoração. Em comemoração ao aniversário da capital, a Revista mostra como utilizar algumas das particularidades do movimento, como funcionalidade e minimalismo, na estética do lar.
"A arquitetura moderna é caracterizada pela funcionalidade e pela racionalidade, além de seguir cinco fundamentos defendidos por Le Corbusier", ensina o arquiteto e urbanista Luciano Pena. Noções como priorização dos espaços e de grandes aberturas, com pilastras sustentando as estruturas, além de largas janelas e criação de terraços são citadas pelo arquiteto.
De acordo com Luciano, outro ponto de partida para valorizar a herança modernista da capital é utilizar a potencialidade de cada material, evitando molduras de gesso no forro e nas paredes. Os móveis, os elementos da decoração e as cores usadas também são fatores importantes.
Segundo o arquiteto Marcelo Teixeira, o primeiro passo para quem quer adotar elementos no modernismo no lar é pesquisar quais opções de planos vão agradar mais e caber no orçamento. Depois, é fundamental analisar o espaço que será utilizado, para ver se permitem layouts abertos, fluidos e integrados — qualidade que não pode faltar nesse estética.
Móveis
Essenciais para criar um ambiente agradável, os móveis típicos do estilo modernista são dispostos de forma bem racional, com poucas peças, de acordo com a necessidade de uso. "Nesse momento, surgem os clássicos do design internacional que foram criados para serem produzidos industrialmente e democratizar o design. Esses móveis são, em sua maioria, em metal e couro", cita Luciano. No Brasil, a madeira é o principal elemento na área mobiliária — e muito usada no modernismo, pela disponibilidade e pelas técnicas bastante reproduzidas aqui.
Marcelo cita móveis de alumínio, laminados industrializados, plástico, aço, feitos de maneira funcional, como exemplos tradicionais do estilo. Poltronas de couro, mesas de centro e de jantar em madeira, com partes de vidro, fibras naturais são sempre bem-vindos na criação desses espaços.
Outros objetos de decoração também são importantes. "Poucas e boas obras de arte para as paredes, esculturas e objetos decorativos neutros", indica Marcelo. E ressalta que se livrar de adornos desnecessários, deixando o ambiente o mais limpo possível, é fundamental. Além disso, evitar móveis com excesso de curvas e optar por modelos com linhas retas verticais e horizontais é recomendado.
Cores e texturas
De acordo com Luciano, outro ponto importante são os materiais usados no projeto de decoração. "Não há como negar a força do branco na arquitetura modernista, assim como a cor vinda da presença de elementos em madeira, concreto e pedras naturais", explica. O preto também é uma das cores dominantes, assim como o cinza, o marrom e o bege.
Arquitetos referências nesse estilo exploravam e brincavam com diferentes tons nos interiores. "Adolf Loos, por exemplo, era ortodoxo com o branco em suas fachadas, mas seus interiores eram repletos de cores e texturas. O mesmo para Le Corbusier, que utilizava muito o branco nos exteriores, mas adorava cores vivas nos interiores", cita Marcelo.
Assim, utilizar cores como amarelo, azul e vermelho, junto com branco, cinza e preto, cria essa estética modernista para a casa. Basta escolher com cuidado onde serão aplicadas, para que o contraponto seja harmônico com os outros elementos do lar.
Janelas
Vistas em várias estruturas de Brasília, as janelas panorâmicas dão um aspecto de alongamento ao ambiente. "Permitem maior contato visual com o ambiente externo, assim como ventilação e iluminação naturais", completa Luciano Pena.
Os cobogós e os muxarabis, elementos vazados, tabém são comuns na arquitetura modernista. Muito presente em apartamentos de Brasília, os cobogós, além de charmosos, ventilam e iluminam os ambientes, sem prejudicar a privacidade. Esses elementos podem ser feitos de vidro, esmaltados, cimento e cerâmica. Os muxarabis também dão um toque a mais ao espaço e são vistos, geralmente, em madeira.
Combinando estilos
Mesmo que com todas essas características, o modernismo pode ser combinado com outros estilos, como o industrial e o contemporâneo. "Uma maneira de combinar esses estilos é experimentar o que você gosta, mas de maneira funcional, objetiva e verdadeira", pontua Luciano. O moderno e o contemporâneo conversam entre si, com características como uso de elementos industriais e aparência mais bruta.
Logo, utilizar móveis com curvas e cores, típicos do estilo contemporâneo, em madeira ou couro, combinado com painéis de madeira ou concreto, características do estilo modernista, é um exemplo de caminho interessante para essa mistura de estéticas.
Requalificação e restauro
Para ajudar quem deseja colocar em prática as características do movimento modernistas, profissionais brasilienses se aprofundam no assunto e são referência na área. Esse é o caso do escritório Debaixo do Bloco Arquitetura, que trabalha com requalificação de casas e apartamentos dos anos 1950 a 1980. O arquiteto e fundador do local, Clay Rodrigues, se especializou em requalificação e restauro em Lisboa e utiliza isso como norte nos projetos. "A ideia não é refazer o que foi feito na escola modernista, que transformou a arquitetura e o design a partir dos anos 1950, mas respeitar a história, a essência e somar, fazendo uma releitura desse período de forma contemporânea", explica.
Elementos arquitetônicos como muxarabis, cobogós e estruturas em concreto armado também aparecem em projetos do escritório, que hoje atua em São Paulo. "Comunicar ambientes externos com internos, espaços integrados, a pureza e a simplicidade na hora de ambientar os espaços são os maiores guias do escritório brasiliense", completa Clay.
*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte
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