Um dos sinais do avanço da idade é a ida mais constante ao cemitério. Enterramos nossos pais, nossos amigos e os parentes dos nossos amigos. Tenho ido muito nas últimas semanas — uma das vezes para homenagear o antigo titular desta coluna. Um misto de saudade, solidariedade e fraternidade nos move até os velórios, os enterros e as cremações. Por enquanto, como diria certamente o Paulinho Pestana, tenho que me contentar por estar comparecendo por livre e espontânea vontade (ele iria falar isso rindo e apertando os olhos, como de costume).
Acho graça de quem diz que não gosta de cemitérios. Quantos gostam de cemitérios? Aqui, a questão não é gostar — esse é um momento ímpar, e nossa obrigação de estar lá é diretamente proporcional à proximidade que temos de quem morre ou dos que estão em volta. Para alguns, essa despedida concreta é necessária, para que se acredite que aquela pessoa se foi. Para outras, a preferência é por manter a última imagem dela em vida. Cada um escolhe o que tem mais significado para a relação que se quebrou.
Como jornalista, frequentei muito o cemitério, em inúmeros dias de Finados. Sempre me comovia com a dedicação dos familiares à memória dos mortos, conservando e enfeitando túmulos, enfrentando as multidões do feriado, se emocionando a cada lembrança. Para mim, as duas placas de mármore que representam a ida de pai e mãe para outro plano não significam muito, sou do time que prefere reverenciar as fotos pregadas nas paredes de casa. Mas respeito os que têm o Campo da Esperança e os demais cemitérios como templos de celebração ao amor e à amizade dos que já estiveram por aqui.
Como cidadão comum, sigo alguns rituais ao chegar ao cemitério. O primeiro deles — e não há nenhuma razão lógica para isso — é estacionar do lado de fora e ir caminhando até o portão, depois até a capela do velório e depois seguir o cortejo. Não tenho medo dos mortos, não tenho medo de morrer, mas prefiro chegar a pé. Também gosto de, em algum momento, chegar perto do caixão e rezar um pouco, em silêncio, discretamente. Imagino que muitos têm seus próprios rituais diante da morte e das cerimônias em torno dela.
Fico contente em ver que as famílias se dão liberdade de realizar os desejos dos que morrem ou os próprios desejos diante dessa perda. Gostei de ver, em cima do corpo do Paulinho, uma foto antiga e um desenho do neto. Outro dia soube que a mãe de uma amiga desejou ser enterrada — e, ao que consta, foi atendida — com as coisas de que mais gostava: um baralho, uma Coca-cola e um maço de cigarro. Quando eu morrer, por favor, amigos, mandem junto comigo um pacote de farinha de mandioca e uma lata de doce de leite mineiro.
Já achei velórios momentos torturantes para a família. Hoje, depois de ter estado no "outro lado" — o da família que perde um membro —, penso que é um ritual angustiante, mas necessário. Precisamos nos sentir confortados, mesmo que, um dia depois, não lembremos de todos que nos abraçaram. Aquele mutirão de carinho faz bem.
Do mesmo modo, ver rostos conhecidos na hora do enterro é refrescante. Enquanto os funcionários fazem o trabalho mecânico — e não poderia ser diferente, eles não podem chorar por todos os mortos — estamos ali revendo a vida, pedindo perdões, expressando desejos, sem saber qual é a próxima vez em que voltaremos ao cemitério. Mas sabemos que, com certeza, voltaremos.
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