Saúde

Perigo silencioso: aumento do vírus sincicial respiratório no debate

O VSR (vírus sincicial respiratório) é um grande vilão para a saúde e o bem-estar, principalmente de crianças menores de dois anos. Confira como se proteger e prevenir a infecção

Com a chegada do outono e do inverno, as doenças respiratórias começam a se tornar mais comuns. O vírus sincicial respiratório (VSR) é um dos maiores responsáveis por infecções respiratórias em bebês, e as internações geradas pelas complicações vêm crescendo no país. Segundo o Ministério da Saúde, entre 2022 e 2023, no Distrito Federal, houve um aumento 35% em internações por bronquiolite, infecção gerada, na maioria dos casos, pelo VSR. Assim, neste período de maior circulação do vírus, são necessários cuidados para os pequenos não se infectarem.

De acordo com a presidente da Sociedade de Pediatria do Distrito Federal e pneumologista pediatra do Hospital da Criança de Brasília, Luciana Monte, as crianças menores de dois anos de idade correspondem à população com mais risco para desenvolver infecção respiratória mais grave, principalmente as menores de 6 meses de vida, os prematuros e bebês com problemas pulmonares. "Esses podem necessitar de internação por doença respiratória aguda em 10% a 15% dos casos. Os idosos também apresentam maior susceptibilidade à infecção pelo VSR" , completa.

Além da preocupação de especialistas e de instituições de saúde, campanhas de conscientização, como a Bye Bye Bronquiolite, iniciativa da AstraZeneca e da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria) para debate do assunto, aparecem como porta-vozes para combate às infecções. Em evento, na semana passada, infectologistas e pediatras discutiram a situação atual, as expectativas e as formas de conter as infecções e suas complicações, como pneumonias e bronquiolite.

"A maioria (dessas condições respiratórias) é causada pelo vírus sincicial. Se tivermos que apostar, o quadro de uma criança bem jovem com bronquiolite e falta de ar, a chance de ser VSR é de 70% a 80%. No casos das pneumonia, é a mesma lógica", explica Renato Kfouri, pediatra infectologista e presidente do Departamento de Imunizações da SBP. Em relação às pneumonias, 40% são causadas por esse agente.

Para entender melhor esse vírus, a Revista separou informações e as novidades da situação do VSR, como o uso de anticorpos, vacinas e medidas de higiene.

Causas

Mais comum durante os meses de março a julho no Centro-Oeste, o VSR é causado por um vírus que infecta a área respiratória, inflamando as células e obstruindo vias aéreas, dificultando os processos respiratórios do bebê. "A primeira infecção frequentemente progride a partir de uma doença nas vias aéreas superiores, com congestão, e passando a envolver as vias aéreas inferiores, causando, com mais frequência, bronquiolite e, às vezes, pneumonia, com tosse e dificuldade em respirar”, explica a médica pediatra Anna Karolina Amorim. Já a transmissão ocorre como as tradicionais doenças respiratórias, através de superfícies contaminadas ou por contato direto com secreções ou gotículas de pessoas infectadas.

Sintomas

Os sintomas da VSR são graduais, e a observação é crucial para o tratamento o quanto mais cedo da doença. “Após um período de incubação, de cerca de quatro a cinco dias, os sintomas desse vírus começam a aparecer”, explica a presidente da Sociedade de Pediatria do Distrito Federal, Luciana Monte. As pessoas infectadas com o VSR podem apresentar sintomas nasais (resfriado comum), com obstrução nasal, espirros, tosse e rouquidão (laringite). Outros sintomas são:

Dificuldade de respiração

  • Febre
  • Coriza
  • Diminuição ou falta de apetite
  • Cansaço e abatimento
  • “Chiado”

Esses sinais mais persistentes e fortes são mais vistos em bebês e crianças pequenas. Em adultos, os sintomas costumam ser fracos, porém, eles podem espalhar a doença. Se não houver complicações, o quadro costuma melhorar em sete a 10 dias.

Tratamento e prevenção

Segundo Anna Karolina, o tratamento é terapêutico e de suporte. "Hidratação, sucção de vias aéreas superiores, fisioterapia respiratória, oxigenioterapia, e, em alguns casos, podemos usar medicações. Geralmente, os pacientes apresentam boa evolução", explica.

Já no caso da prevenção, a vacina, atualmente disponível para pessoas com mais de 60 anos, é uma medida crucial para prevenir complicações. Além disso, anticorpos monoclonais e medicamentos que induzem a imunização, como Palivizumabe, são cruciais para bebês de risco no período de maior circulação do vírus. “O período de administração do anticorpo na rede pública do Distrito Federal, em 2024, teve início na primeira semana de fevereiro e vai até julho”, cita a pediatra Anna.

Reprodução/Unsplash/leohoho - Higienização das mãos, proteção com máscaras e medidas de isolamento só fundamentais para frear a disseminação do VSR.

Complicações

Uma das maiores preocupações em relação ao VSR são as complicações geradas pela doença, como pneumonias e bronquiolites. “A bronquiolite é uma das apresentações clínicas mais conhecidas e frequentes nesta época do ano, e já está deixando os serviços de pronto-atendimento, unidades de internação e UTIs lotados no DF”, explica Luciana.

“Pode haver variação, desde casos leves até muito graves, e até mesmo a morte por angústia respiratória aguda. O VSR também pode provocar apneia (parada de respiração) e pneumonia”, completa. Além disso, esse quadro de complicações pode gerar mais problemas respiratórios no futuro. “Pode funcionar como um fator desencadeante de asma nas crianças maiores”, cita Anna Karolina.

Palavra do especialista

Por que os bebês, principalmente prematuros, são os mais atingidos?

Os bebês prematuros têm uma imunidade ainda frágil por vários motivos. A passagem da proteção por anticorpos da mãe para o feto ocorre nos últimos meses da gravidez, então é menor nos bebês que nascem antes do tempo esperado. Eles ainda não têm a imunidade totalmente madura e não formaram a chamada memória imunológica, já que ainda não tiveram contato natural prévio com vírus e bactérias, e também a vacinação não está completa. Além disso, o tamanho pequeno dos bebês (e de toda a árvore respiratória), bem como algumas peculiaridades anatômicas, faz com que haja mais dificuldade na passagem do ar em uma situação de inflamação das vias respiratórias, levando a uma maior predisposição para terem falta de ar e complicações durante uma infecção.

No ano passado, foi percebido um aumento geral da doença no país, inclusive no Centro-Oeste. Qual é a situação atual em Brasília e por que existe esse aumento?

Sabemos que muitos vírus respiratórios circulam com maior frequência em determinados períodos do ano, especialmente entre os meses de outono e de inverno. O VSR tem uma sazonalidade no Centro-Oeste classicamente entre os meses de março e julho, todos os anos. Às vezes, ocorrem variações, como vimos durante a pandemia da covid-19, que modificou o padrão habitual dos outros vírus. No momento, estamos em plena sazonalidade no DF. Os casos de VSR estão em elevação, de acordo com os boletins epidemiológicos atuais. Na nossa prática, temos visto muitos casos de pessoas com sintomas respiratórios, e as unidades hospitalares estão superlotadas com bebês com bronquiolite, o que nos preocupa bastante, devido à gravidade da situação.

Quando se deve buscar o pronto-atendimento?

Quando houver qualquer um dos sintomas ou sinais de gravidade, que incluem dificuldade para respirar, arroxeamento dos lábios, queda na saturação de oxigênio abaixo de 93%, prostração acentuada, dificuldade na ingestão de líquidos ou na mamada, redução da quantidade da urina, manchas na pele, febre que não cede com antitérmicos ou que fica se prolongando por mais de 48 horas.

Luciana Monte é presidente da Sociedade de Pediatria do Distrito Federal e pneumologista pediatra do Hospital da Criança de Brasília.

*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte

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