Dormência, sensação de formigamento na ponta dos dedos, dores nas mãos que podem se estender para pulsos e braços. Todos esses são sintomas da síndrome do túnel do carpo, uma condição, classificada como uma Lesão do Esforço Repetitivo (L.E.R.), que frequentemente afeta pessoas que realizam movimentos de repetição com as mãos diariamente, como tocar instrumentos, escrever ou digitar. Por essa razão, o afastamento por conta da doença é bastante comum entre os trabalhadores.
Localizado no punho, o túnel do carpo é um canal estreito por onde passam estruturas importantes para o funcionamento do corpo: os tendões flexores dos dedos e o nervo mediano. De acordo com o neurocirurgião André Borba, coordenador do Serviço de Neurocirurgia e de Dor do Hospital Anchieta, o nervo mediano tem a função de controlar o movimento de grande parte da mão, incluindo a flexão dos dedos.
“A síndrome do túnel do carpo é o nome que damos para quando o nervo mediano tem algum tipo de alteração nessa região do punho”, explica André. “De forma básica, toda e qualquer condição que cause aumento do tamanho das estruturas ou estreitamento do próprio túnel fará com que o nervo mediano sofra um processo de compressão, que a gente chama de neuropatia”, completa.
A condição é característica de pessoas que realizam trabalhos manuais e repetitivos. “Como exemplo, temos o trabalho de digitação, o trabalho de guiar automóveis e guiar motocicletas”, enumera André. “De toda forma, por se tratar de uma doença que tem um caráter degenerativo, geralmente, envolve pessoas de 30 a 50 anos, com uma leve predileção pelo gênero feminino”, conta. “Historicamente, as mulheres sempre estiveram mais relacionadas às doenças de maior movimento manual repetitivo, como trabalhos na cozinha, costura e cuidados da casa”, acrescenta. “Esse é um perfil que vem mudando ao longo do tempo.”
Sintomas iniciais
Por ser responsável pela sensibilidade dos dedos polegares, indicadores, médios e parte dos anelares, a disfunção do nervo mediano provoca dormência e formigamento que, geralmente, estão entre esses dedos. “Devido a questões de aumento da pressão e de falta de controle da postura durante o sono, esses sintomas acabam predominando no período noturno. Com o agravamento da doença, eles passam a estar presentes o dia todo”, descreve o neurocirurgião André Borba. As dores e formigamentos também são predominantes durante esforços manuais do paciente.
Estágios e complicações
Por ser uma doença degenerativa, a síndrome do túnel do carpo pode progredir por diversos estágios caso o tratamento adequado não seja adotado. “Classicamente, ela tem três estágios: leve, moderado e grave. No leve, os sintomas incomodam pouco e não representam maior gravidade nem limitação funcional, mas a situação pode se agravar muito”, explica o médico.
“Quando está no último estágio, a síndrome pode resultar na apreensão palmar, ou seja, na perda de força no movimento da mão, especialmente na flexão dos dedos”, alerta o neurocirurgião. Além disso, pode ocorrer a perda da capacidade de realizar o movimento de pinça, no qual o polegar é oposto a qualquer um dos outros quatro dedos para pegar objetos. “Existe, ainda, como comprometimento da parte motora, a dificuldade de segurar um volante, um guidão de bicicleta ou um copo de água cheio, por exemplo”, complementa o especialista.
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“É importante que portadores da síndrome sempre realizem acompanhamento com um especialista, pois os sintomas podem surpreender e aumentar repentinamente”, orienta o ortopedista Luiz Felipe Carvalho.
Diagnóstico
Sintomas identificados, é hora de confirmar a suspeita. “O diagnóstico da síndrome do túnel do carpo baseia-se, principalmente, na avaliação clínica”, afirma André Borba. “Os sintomas são altamente característicos. Existem exames adicionais, mas a partir do relato que o paciente traz, já é possível, com alto grau de probabilidade, indicar a existência de uma síndrome.”
Há exames da parte neurológica que podem ser feitos e envolvem, basicamente, percutir ou fazer manobras que aumentam a pressão na região do túnel do carpo. “Esses são chamados testes provocativos e, quando são positivos, aumentam ainda mais o grau de certeza com relação ao diagnóstico”, assegura o neurocirurgião. Realizar uma ultrassonografia também é sempre uma opção. “Ela permite uma visualização direta do próprio túnel e das estruturas que estão ali envolvidas, inclusive os tendões.
Tratamento
Para casos leves e moderados, o tratamento visa controlar os sintomas por meio de medicação, atividades físicas e reabilitação, com cuidados para evitar o trauma do nervo e a progressão da doença. “Para os casos que são cirúrgicos, a cura envolve restabelecimento da saúde do nervo mediano através da ampliação do túnel do carpo. Boa parte dos pacientes apresentam uma recuperação grande dos sintomas”, detalha André Borba.
“O principal é entender as limitações e trabalhar a reabilitação dentro das possibilidades e das necessidades de cada um, como, por exemplo, afastamento de trabalhos manuais, medicação para controle de dor crônica e atividades de reabilitação com treinamento fisioterápico”, finaliza o neurocirurgião.
Palavra do especialista
Como é identificado um quadro que precisa de cirurgia?
Um quadro que precisa de cirurgia é, classicamente, aquele em que já existe comprometimento da força, e a limitação funcional é muito expressiva. Esses são os quadros que, geralmente, são classificados como graves. Alguns quadros moderados que não têm resposta e não podem ser revertidos com tratamentos conservadores também costumam necessitar de cirurgia.
O processo cirúrgico é tranquilo?
A técnica evoluiu muito nos últimos anos. Hoje, conseguimos tratar vários casos de síndrome do túnel usando técnicas pouco invasivas. Podem ser utilizadas técnicas por vídeo, que permitem que o corte na pele seja menor, e até mesmo cirurgias percutâneas, em que você consegue enxergar em tempo real a abertura do retináculo através de cortes muito pequenos.
Quanto tempo de recuperação é necessário?
O tempo de recuperação é variável e vai de acordo com a técnica usada. Em geral, você precisa de 45 a 90 dias de repouso na mão operada, o que não impede que a pessoa exerça boa parte das funções do dia a dia. No entanto, é preciso ter cuidados, poupando a região operada, para que a cicatrização aconteça da forma mais segura possível.
André Meireles Borba é neurocirurgião e coordenador do Serviço de Neurocirurgia e de Dor do Hospital Anchieta.
*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte