A programação começou no dia 8 de fevereiro, mas vai até 31 de março. A 16ª Osterfest, maior festa de Páscoa do Brasil, ocorre todos os anos em Pomerode, cidade de Santa Catarina conhecida como a mais alemã do país. Lugar lindo de conhecer, bom e seguro de viver. Em tudo está presente a cultura germânica — gastronomia, arquitetura e entretenimento —, herdada dos primeiros colonizadores que chegaram ao Vale Europeu vindos, em sua maioria, da Pomerânia, norte da Alemanha, daí ter sido chamada Pomerode.
A cidade, que tem quase a idade de Brasília, surgiu 65 anos atrás, em 21 janeiro de 1959, quando se emancipou de Blumenau, distante 22 quilômetros, e guarda a mesma tradição europeia de celebrar datas festivas como Natal, Páscoa e até a Oktoberfest, importada da Alemanha. Este ano, a Osterfest (Oster em alemão é Páscoa) tem um significado especial: comemora os 200 anos da imigração alemã no Brasil, um projeto iniciado por Dom Pedro I, que trouxe agricultores alemães a partir de 1824.
Maior ovo do mundo
A Osterfest 2024 exibe o maior ovo decorado do mundo e a maior Osterbaum (árvore enfeitada com cascas de ovo de galinha pintadas), ambos reconhecidos pelo Guiness World Records, desde 2017. Montados no centro cultural, atraem os turistas e envolvem brincadeiras e oficinas que oferecem experiência inesquecível para toda a família.
Crianças e adultos podem participar gratuitamente da pintura e da decoração de ovos, uma arte que Valdenir Schäffer, de 52 anos, desenvolve desde menino quando as cascas de ovo de galinha, depois de higienizadas, eram pintadas com a ajuda da antiga bomba Flit de matar mosquito. Atualmente, usam pistola com tinta. Até a primeira semana de janeiro já haviam sido pintadas 84 mil casquinhas, sendo a meta 100 mil, um recorde mundial. Para tanto, diversos setores da comunidade contribuem.
Outra atração é visitar a Toca do Coelho, além de interagir com os mascotes Fritz e Frida Hasse. São mais de 20 atrações diferentes na festa, que também conta com praça de alimentação e bebidas — um dos mais importantes segmentos de Pomerode, que tem ainda o melhor chocolate, a melhor linguiça e a melhor cerveja.
Chocolate premiado
O casal de engenheiros Maitê Lang e Ivan Blumenschein não hesitou em renunciar as carreiras bem sucedidas na Embraer para se lançar no empreendedorismo numa cidade interiorana. Feita a pesquisa de mercado, a escolha recaiu no chocolate, depois de Maitê se convencer de que o sabor do produto lá fora era melhor que aqui. A dupla fundou a Nugali, que este ano completa duas décadas, tendo sido a pioneira no Brasil a adotar o conceito bean to bar, quando a empresa domina todos os processos, desde o plantio do cacau até a embalagem.
A alta qualidade do produto inseriu a marca no mercado premium, onde ostenta o melhor desempenho entre os chocolates brasileiros. A marca possui 750 pontos de vendas em todas as regiões do país, além de exportar para o Japão, os Emirados Árabes, a França, os Estados Unidos e o Peru.
Além da massa de cacau, chamada líquor, os chocolates recebem adição de açúcar e extrato de baunilha, feito artesanalmente na fábrica, com as favas importadas de Madagascar. Até os corantes são naturais, à base de urucum, beterraba ou espinafre. Entre os produtos com maior sucesso de vendas está o tablete de 70% de cacau e a linha brasilidade, que investe na mistura dos chocolates Nugali com ingredientes brasileiros. "Fazer chocolate com avelã é muito europeu, não faz parte da nossa essência. A gente quer lançar chocolates com algum tipo de significado, que tenham história e façam sentido", explica Maitê Lang.
Você pode visitar a fábrica todos os dias, das 9h às 18h, nem precisa agendar horário, pois o tour é autoguiado, a partir de um vídeo. O passo seguinte é uma estufa com cacaueiros e pés de baunilha que são polinizados por abelhas (inofensivas) criadas no local. Dali, pode-se alcançar um patamar onde é possível ver a fábrica de chocolates em pleno funcionamento.
Antes da degustação, ainda se aspira o aroma de diferentes ingredientes naturais do produto, que pode ser comparado com vários sabores. O chocolate vem por uma bica e é apanhado com a ajuda de uma colher, brinde da casa. Inaugurado em 2021, o tour da Nugali recebe cerca de 100 mil visitantes por ano. Fica na Rua Testo Alto, nº 4.848 (www.nugali.com.br).
Cerveja e música
Um binômio sempre presente na cultura alemã, que pode ser facilmente encontrado no coração da cidade, no alegre e aconchegante Biergarten Pomerânia, inaugurado há menos de dois anos em um casarão histórico construído em 1945, na Rua XV de Novembro 367. Serve com exclusividade a Braunbier, uma cerva típica da Pomerânia, conhecida como "a cerveja dos nobres". Encorpada, tem 7% de teor alcoólico, mas baixo amargor.
É lá que você poderá se deliciar com o prato mais tradicional da gastronomia alemã: Eisbein, famoso joelho de porco, cuja receita foi recriada com maestria pelas mãos do chef alemão Heiko Grabolle. Originalmente, passava por diversos processos diferentes até que o chef decidiu descomplicar para "valorizar ainda mais a carne de porco, que sempre foi a principal fonte de proteína das famílias alemãs", salienta Grabolle, que por oito anos prestou consultoria à Oktoberfest Blumenau.
Além do Eisbein, são destaques do cardápio o Schnitzel, que é um bife empanado, e o Spätzle, espécie de nhoque, servidos com molhos especiais. Entre os petiscos, há torresmo, batatas com linguiça Blumenau, queijos da região, Flammkuchen, pizza alemã, e Bretzel, famosa rosquinha assada, polvilhada de sal, cujas pontas são entrelaçadas. Sorvetes artesanais completam o menu, que pode ser degustado no interior da casa e na parte externa, como sugere o nome Biergarten. Música alemã ao vivo alegra o ambiente.
Linguiça Blumenau
Apenas boa carne suína do pernil ou da paleta misturada a sal e temperos embutidos em tripa natural defumada artesanalmente com eucalipto. Essa é a receita da mais famosa linguiça brasileira, que se chama Blumenau. Sua história teve início em meados de 1900, quando a família Weege trouxe na mala várias receitas tradicionais germânicas, entre elas a da linguiça, e se instalou em Pomerode, à época distrito de Blumenau, onde deu início a um armazém de secos e molhados. Com o passar do tempo, também montou laticínio, posto de combustível e frigorífico, batizado com o nome comercial de Olho.
Ali começava a produção de embutidos. Luiz Antonio Bergamo, sócio da empresa, conta que turistas de muitos lugares vinham procurar a linguiça de Blumenau, originando o nome atual do produto — hoje o carro chefe da marca da qual são distribuídas até 360 mil unidades por mês.
Desde 2014, recebeu o selo SISBI (Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Animal), o que permite que a iguaria seja comercializada em todo o país. E, no último mês de fevereiro, o Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) reconheceu o registro da Indicação Geográfica (IG) para a produção da linguiça defumada Blumenau, que abrange 16 municípios catarinenses do Vale do Itajaí.
Rota do enxaimel
Passeio único e imperdível em Pomerode é percorrer, em uma bela paisagem, os cerca de 16 quilômetros da rota do enxaimel, uma técnica de construção trazida pelos imigrantes alemães que consiste em peças de madeira unidas por encaixes sem o uso de prego ou parafuso. As peças encaixadas formam uma estrutura em treliça altamente resistente a força em todas as direções. Por serem encaixadas, é possível desmontar e remontar uma casa enxaimel.
São cerca de 50 casas habitadas que podem ser apreciadas apenas da rua, mas há meia dúzia de endereços comerciais, entre eles as pousadas Wacholz e Kuglin e os restaurantes Rota da Truta e Rancho Lemke. A rota do enxaimel foi eleita pela ONU entre as melhores vilas turísticas do mundo. Veja o site: https://rotadoenxaimel.com.br.
Mulheres na cozinha
Acaba de completar 30 anos o La Spezia Ristorante, este de culinária italiana, que sempre foi comandado por mulheres. Ocupa imponente casarão da década de 1980, onde funcionava uma fábrica de cerâmicas da artista alemã Barbara Weiser. No início dos anos 1990, a chef Sandra Carvalho transferiu, para o casarão, o restaurante que funcionava em sua casa, sendo a primeira cozinha italiana na cidade mais alemã do Brasil.
O cardápio oferece um leque de massas produzidas na casa de maneira artesanal, conforme praticava a chef, falecida em 2020. Atualmente, Fernanda Ribas de Oliveira, a mais jovem dos três filhos de Sandra, administra o La Spezia. Jornalista de formação, ela cresceu entre as mesas do restaurante e adicionou inspirações cosmopolitas de capitais brasileiras e de países como Portugal, Estados Unidos, Alemanha, Itália e Uruguai.
Forno a lenha
Entre as vigas de concreto, paredes de tijolos à vista e madeira da antiga fábrica de cerâmica, há o forno a lenha, onde são assados diversos sabores de pizzas, como a Nona Itália, que leva calabresa moída, alho, catupiry e parmesão, ou a entrada gratinada de berinjela, tomate italiano e muçarela de búfala com molho de tomate e parmesão. Ponta de lança do delicioso menu é o ossobuco acompanhado do risoto alla milanese com vinho branco, parmesão, açafrão e nata.
Para harmonizar com a comida, há boas opções na carta de vinhos, mas, em terra germânica, não pode faltar a loura gelada, que lá se chama Schornstein, "a cerveja com alma", como diz o slogan da cerva feita em Pomerode. São produzidos 240 mil litros por mês em mais de 60 estilos diferentes de cerveja, assinala Osmar Francisco Faria, gerente de Produção e Qualidade.