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Poluição do ar está associada a aumento de sinais patológicos do Alzheimer

Pesquisa feita em indivíduos que foram a óbito aos 76 anos, em média, com ou sem diagnóstico de demência, e haviam doado seus cérebros para necropsia, mostra relação da poluição com marcadores patológicos da doença de Alzheimer

Indivíduos expostos a maiores níveis de poluição atmosférica apresentam maior contingente de placas beta-amiloides no cérebro quando examinados à necropsia. Placas beta-amiloides e emaranhados neurofibrilares são os dois principais marcadores patológicos da doença de Alzheimer. Esses são resultados de uma pesquisa publicada nesta quarta-feira (21/02) pelo periódico Neurology, da Academia Americana de Neurologia e conduzidos pela Universidade Emory de Atlanta, nos EUA.

Os indivíduos envolvidos foram a óbito aos 76 anos, em média, com ou sem diagnóstico de demência, e haviam doado seus cérebros para necropsia. A concentração de partículas finas de poluição atmosférica (< 2.5µm) em suspensão no endereço de cada um dos participantes foi analisada em conjunto com os achados da necropsia.

Aqueles que moravam em localidades com maior quantidade dessas partículas foram os que apresentaram também maiores depósitos de placas beta-amiloides no cérebro. As maiores exposições no último ano antes do óbito foram associadas a um risco duas vezes maior de apresentar altos níveis de placas no cérebro.

Além disso, foi analisado o impacto da variante APOE e4 cuja presença está associada a um risco maior da doença de Alzheimer. Os que apresentavam essa variante foram os que tinham menor relação entre níveis de poluição e de lesões cerebrais, sugerindo que fatores ambientais podem ser ainda mais importantes entre aqueles que não possuem predisposição genética.

Desde a segunda metade da década de 2010 pesquisas têm demonstrado que residir em áreas com grande circulação de automóveis representa um risco de desenvolver um quadro de demência. Há evidências em roedores que a poluição do ar promove estados de inflamação no cérebro, assim como o fenômeno de degeneração.

Estudos mostram associação entre a exposição a partículas finas de poluição do ar e a presença de marcadores para a doença de Alzheimer no líquor e também no exame de PET entre indivíduos sem quadro demencial. Já foi demonstrado também que o ar poluído aumenta o grau de aterosclerose, que, por sua vez, pode levar ao aumento da incidência de lesões vasculares no cérebro. Vale lembrar que as lesões vasculares representam a segunda causa mais comum de demência na maioria das populações.

Pesquisas demonstram que um aumento de 10µg por m3 na concentração de partículas menores que 2.5µm está associado a uma redução na expectativa de vida de 0,8 a 1,3 ano. No ano de 2019, um importante e pioneiro estudo foi publicado no jornal New England Journal of Medicine confirmando essa relação entre poluição e longevidade só que de forma inversa: a redução da poluição é capaz de aumentar a longevidade da população. A redução dos mesmos 10µg por m3 na concentração de partículas menores que 2.5µm promoveu um aumento de 0,77 ano na expectativa de vida da população. A Organização Mundial da Saúde reconhece que 1,4% das mortes do planeta são decorrentes da poluição no ar que se respira.

*Ricardo Afonso Teixeira é doutor em neurologia pela Unicamp, professor do curso de medicina do Unieuro e neurologista do Instituto do Cérebro de Brasília

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