Neurônios em dia

Mulheres com enxaqueca apresentam mais ondas de calor na menopausa

Pesquisa aponta que mulheres que tinham a combinação de enxaqueca e sintomas vasomotores por vários anos apresentaram maior risco de doenças cardiovasculares, incluindo infarto e AVC

Um grande estudo, liderado por pesquisadores da Universidade Michigan, nos Estados Unidos, mostrou que os sintomas vasomotores na menopausa, que incluem ondas de calor e suor noturno, são mais comuns entre as mulheres que apresentavam enxaqueca antes desse período. A pesquisa foi publicada no periódico Menopause, esta semana, após acompanhamento por décadas de mais de 1.900 mulheres.

As mulheres que tinham a combinação de enxaqueca e sintomas vasomotores por vários anos apresentaram maior risco de doenças cardiovasculares, incluindo infarto agudo do miocárdio e acidente vascular cerebral. Esse é um grupo de mulheres em que os esforços para redução de risco vascular devem ser ainda maiores. E a receita de prevenção vascular hoje é vista como tendo oito alvos essenciais: controle cuidadoso do peso, pressão arterial, glicemia e gorduras no sangue, não fumar, dieta saudável — e aqui os peixes ricos em ômega-3 têm seu papel —, atividade física regular e boa qualidade do sono.

Enxaqueca é uma condição cerebral. Mas não é que os sintomas vasomotores na menopausa também parecem ter origem no sistema nervoso central? Pesquisadores da Universidade do Arizona, nos EUA, descobriram um grupo de células do hipotálamo, região do cérebro que faz a ponte com os sinais hormonais, que podem ser as responsáveis pelas desconfortáveis ondas de calor que boa parte das mulheres vivencia nos primeiros anos da menopausa.

Em um modelo de menopausa em camundongos, os pesquisadores mostraram que o efeito de dilatação dos vasos da pele era interrompido quando um grupo de células do hipotálamo, chamadas de KNDy, era inativado. Apesar de representarem uma pequena população de células do cérebro, elas têm grande importância no controle das fontes de energia do corpo, temperatura e reprodução. Com a baixa dos níveis do hormônio estradiol na menopausa, essas células ficam hiperfuncionantes e disparam o comando de vasodilatação, com a intenção não muito apropriada de provocar a perda de calor do organismo.

*Ricardo Afonso Teixeira é doutor em neurologia pela Unicamp, professor do curso de medicina do Unieuro e neurologista do Instituto do Cérebro de Brasília

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