Bichos

Em climas tropicais, cães peludos precisam ser protegidos do calor

Certos tipos de cachorro costumam ser mais vulneráveis ao calor. Entre eles, estão as chamadas raças da neve. Veja como cuidar dos animais e prevenir problemas

Se você é adepto de cachorros peludos, redobre a atenção, sobretudo, no verão. Adaptadas para climas frios, essas raças, quando criadas em terras brasileiras, exigem cuidados a fim de garantir qualidade de vida para os bichinhos. Caso contrário, os animais podem passar por diversas dificuldades.

Reprodução/Freepik - Indisposição, fraqueza e, em casos mais graves, desmaio, são alguns dos sintomas da hipertermia canina.

Entre os problemas relacionados ao calor, está a hipertermia canina. "Essa condição consiste em um superaquecimento corporal, ou seja, no aumento da temperatura. É uma situação que necessita de intervenções rápidas, podendo levar o animal à morte se não for revertida rapidamente", alerta a médica veterinária Kathleen Brandão.

Adaptados para tolerar climas frios, as raças vulgarmente conhecidas como cães da neve são originárias de vários locais diferentes do mundo. Essas raças, que em suas origens foram expostas a temperaturas muito baixas, têm como principais características em comum a pelagem densa e o maior acúmulo de gordura. "São dispositivos selecionados para que tenham mais resistência ao frio", explica o médico veterinário Luiz Fernando Cury.

Muito conhecidos no Brasil, vários desses animais podem ser vistos por aqui. Entre as raças de neve mais comuns, estão husky, junto com samoieda, ambas advindas da Sibéria, chow chow, originária da China, akita, que vem do Japão, e São Bernardo, da Suíça.

Reprodução/Pinterest/@patrisha85 - O acúmulo de gordura é um dos dispositivos de resistência ao frio do Chow Chow, raça originária da China.

De acordo com Luiz Fernando, hoje, as linhagens que têm sido reproduzidas e vistas com maior frequência no Brasil são um pouco mais tolerantes a climas quentes. "No geral, são linhagens que, por vários anos, já se adaptaram à seleção de um lugar com temperaturas altas", afirma o veterinário. No entanto, os animais ainda têm os dispositivos de resistência ao frio, portanto estão mais suscetíveis a sofrerem com o calor. "Com sofrer, podemos estar nos referindo ao comprometimento do bem-estar do animal a médio e a longo prazo. Ou a um acometimento mais agudo do que isso, quando falamos da hipertermia canina."

Temperatura elevada

A hipertermia canina é um quadro em que o cachorro, submetido a uma situação de calor excessivo, não consegue realizar a autorregulação da temperatura. "Basicamente, o que acontece com esses cães é: por algum motivo eles não conseguem se resfriar, então eles atingem temperaturas corpóreas muito altas", afirma Luiz Fernando.

Diversos problemas podem surgir dessa temperatura corporal muito elevada. "O cachorro pode ter complicações sérias, como convulsões, anemia e desmaio", enumera. De acordo com o médico, a hipertermia é impulsionada pela exposição do animal a temperaturas extremas.

"Muitas vezes, nós próprios somo fatores que aumentam a temperatura do animal. Se eu saio para praticar exercício, por exemplo, que já é algo que gera calor corpóreo, em uma hora muito quente do dia, em que o chão está aquecido, estou juntando agentes que vão interferir na temperatura do animal", continua.

Reprodução/Pinterest/@rivenroy - O Akita Inu é um cão originário do Japão que tem como principal característica a pelagem grossa e fofa. Sendo de uma das raças da neve, ele é muito resistente ao frio.

Ao contrário dos humanos, os cães não possuem a transpiração como dispositivo de regulagem de temperatura. Por esse motivo, a maior parte do resfriamento é feito por meio da língua e da boca. "Eles ficam respirando com a boca muito aberta, a língua exposta, muitas vezes gotejando", pontua o especialista. Apesar de essa ser a principal forma de resfriamento deles, muitas vezes, não é suficiente.

Atenção aos sinais

Um quadro de hipertermia é acompanhado de diversos sintomas que servem para alertar da situação do bichinho, e quanto mais rápido você ajudar o pet, melhor. "Durante uma hipertermia, o cão está tentando se resfriar. Ele vai estar muito ofegante, com a língua para fora. Além disso, fica intolerante ao exercício, então um animal que estava caminhando, já não dá mais conta e quer parar", detalha Luiz Fernando. "O animal vai querer deitar, colocar o abdômen no chão, procurar água e um local frio. Em casos mais extremos, pode ter tremores, convulsões e desmaios", complementa.

"Sede, salivação excessiva, respiração ofegante, fraqueza, confusão mental e andar cambaleante também são sinais de que nossos pet estão sentindo calor excessivo", enumera a veterinária Kathleen Brandão.

Segundo Luiz Fernando, o paciente deve ser levado ao atendimento médico para que o resfriamento corporal seja feito, junto com a monitoração das repercussões secundárias à hipertermia. Em um primeiro momento, algumas ações podem ser tomadas para resfriar o bicho até a chegada no atendimento. "Eu posso molhar as patas, o abdômen, jogar um pouco de água na nuca, colocá-lo em um ambiente mais fresco. Tudo isso a fim de ir baixando a temperatura aos poucos", aconselha o veterinário. Para ele, o resfriamento precisa ser feito de forma lenta e segura.

Prevenindo o quadro

Para prevenir o seu peludo da hipertermia, é essencial evitar situações nas quais o animal venha a sentir calor excessivo.

Jéssica Gomes mora em Samambaia e é dona de um husky siberiano chamado Scott, de 4 anos. Ela conta que, juntamente com a família, toma todos os cuidados necessários para garantir a saúde e o conforto para o pet. "Não passeamos com o Scott em qualquer momento do dia. Em horários de muito sol, a pata dele machuca", relata. "Já tivemos a experiência de descer com ele em um horário de muito sol uma vez. A patinha dele queimou e ficou com bolhas", continua. De acordo com a veterinária Kathleen Brandão, o melhor a se fazer é evitar passeios entre as 10h e as 16h.

Arquivo pessoal - O husky siberiano Scott recebe todos os cuidados para não sofrer hipertermia

Além disso, a tutora destaca a importância de hidratar o bichinho corretamente. "A gente sempre precisa repor a água. O Scott não bebe água quente, então quando ele está com sede, pegamos água gelada, muitas vezes com pedras de gelo", completa Jéssica. Segundo Kathleen, fornecer água limpa e abundante, inclusive nos passeios e caminhadas, é a medida mais importante para manter a temperatura do pet regulada.

A veterinária também ressalta a necessidade de manter o local em que o animal vive sempre fresco e arejado. "Podemos encontrar tapetes gelados que ajudam muito em dias de muito calor, ou mesmo pegar um lençol ou toalha e levá-lo ao congelador, colocando em seguida para que o animal possa deitar", aconselha.

Reprodução/Freepik - É importante se assegurar de que água fresca e limpa esteja sempre disponível para o pet. Essa medida auxilia na regulação de temperatura do animal

Jéssica relata que, em sua casa, os ventiladores ficam no chão, para que o cão possa aproveitar o vento. "O Scott adora ventilador. Quando sente calor, deita na frente deles, e a gente entende que é para ligar." Ela conta, ainda, que, em dias muito quentes, costuma colocar panos molhados pela casa, a fim de manter a umidade do ambiente.

*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte

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