Turismo

Mendoza, a terra do vinho: um guia para visitantes de primeira viagem

Com o Aconcágua à vista, a montanha mais alta fora da Ásia, com 6.961 metros de altitude, a província argentina se prepara para a Festa da Vindima e atrai turistas de todo o mundo

Famosa por produzir "o melhor Malbec do mundo", a província argentina de Mendoza surpreende qualquer visitante. Fomos conferir, a oportunidade surgiu nas férias, na primeira semana de janeiro, em pleno lusco-fusco da transição de governo do peronista Alberto Fernandez para o do anarco-capitalista Javier Milei.

Mas a melhor ocasião para visitar Mendonza é na Festa da Vindima, cujo ápice será no próximo 2 de março, um sábado, no anfiteatro grego do Parque San Martin. É um evento anual que comemora a colheita da uva e a produção de vinho. Desde 1936, reúne milhares de pessoas, durante uma semana, que podem desfrutar de muitas atividades na cidade. Equivale ao nosso carnaval e atrai amantes de vinho de todo o mundo.

A preparação

Divulgação/Finca Docero - A organização dos vinhedos na Finca Docero impressiona

Para visitantes de primeira viagem, as grandes dúvidas são o câmbio, por causa da hiperinflação argentina, e quais vinhedos visitar, porque são cerca de 1.400 vinícolas. R$ 1 vale em torno de 170 pesos argentinos, mas o câmbio é muito volátil, por causa da situação geral da economia e da alta temporada. A melhor opção é comprar alguns dólares no Brasil, levar o cartão de crédito para compras eventuais e fazer a conversão direta do real para a moeda argentina já em Mendonza, por meio de aplicativo (o Western Union tem muitas agências pela cidade, nas quais se pode sacar o peso argentino em espécie). É preciso levar uma sacola devido à quantidade de notas. Em compensação, as ruas são seguras, pode-se andar com os maços de notas de mil sem sustos.

As opiniões se dividem quanto ao tempo de duração da viagem. Um amigo que havia estado lá por oito dias avalia que cinco dias são suficientes, porque não aguentou tomar tanto vinho; outro, que havia visitado Mendonza seis vezes (numa delas passou 16 dias), nos recomendou visitar duas ou três das mais famosas e deixar a vida nos levar nas demais.

As vinícolas estão distribuídas entre Luján de Cuyo (20km de Mendoza), Maipú (47km) e Valle de Uco (70km ao sul). Muitas oferecem degustações, refeições harmonizadas e até hospedagem. Um "pacote" turístico de cinco noites e seis dias está de bom tamanho. Para a Festa da Vindima, custa em torno de R$ 4.190 por pessoa, parcelado em até dez vezes sem juros. Inclui passagem, hospedagem e traslado, mas não o ingresso às vinícolas.

Uma dica importante: leve um agasalho para ir ao Aconcágua, mas deixe espaço na mala que será despachada para 10 garrafas de vinho. Outras seis podem ser embarcadas na bagagem de mão. Aceite as dicas dos motoristas dos translado, porque as lojas que eles indicam oferecem 20% de desconto em relação às "tendas" das vinícolas. Pesquise os vinhos que deseja adquirir e os preços no Brasil. A diferença, dependendo da qualidade dos vinhos, pode cobrir os custos de passagem e hospedagem.

O roteiro

Compramos passagem e reservamos hospedagem com antecedência, mas já não havia disponibilidade para visita às vinícolas mais famosas. Por sorte, uma delas havia terceirizado o serviço, e uma agente de viagem local, da Sineus, entrou em contato. Fernando, o proprietário, nos atenderia pessoalmente para fechar o roteiro.

Pedimos que alternasse os dias de visita às vinícolas com uma viagem até o Aconcágua e dias livres para passeios pela cidade. Deu tudo certo. Conseguimos até visitar a mais famosa vinícola argentina, a Catena Zapata, que havíamos tentado reservar. Para quem não é de exagerar, a combinação de degustação e almoço harmonizado em vinícolas diferentes é perfeita. No dia de visita ao Aconcágua, pode-se almoçar no El Rancho, restaurante "crioulo" de Uspallata.

Arístides

Luiz Carlos Azedo - A Avenida Arístides é lotada de restaurantes e bares: ponto de encontro de moradores e turistas

Nos hospedamos na Calle Rufino Hortega, num "petit" hotel que leva o seu nome. Chegamos por volta das 21h, deixamos as malas no quarto e saímos para jantar. O recepcionista nos sugeriu um restaurante na Avenida Arístides Villlanueva, paralela à rua do hotel. Foi uma tremenda surpresa ver o movimento naquele domingo à noite, com bares e restaurantes lotados.

Depois de uma viagem cansativa, partindo de Brasília, com escala demorada em Guarulhos, um bom jantar é merecido. O República estava aberto e tinha uma mesa disponível. O filé de truta dos Andes, alto e rosado, estava delicioso. O vinho da casa era um El excelente Enemigo chardonnay. Para nossa surpresa, o dono do restaurante é Alejandro Vigil, enólogo-chefe da renomada Catena Zapata, dono da Vinícola El Enemigo, onde almoçaríamos no dia seguinte.

Ao longo dos cinco quarteirões da Arístides, o calçadão é ocupado por muitos jovens, que se reúnem nos bares, entre canecos de cerveja e taças de vinho, empanadas, hot dogs enormes e sanduíches suculentos. Os restaurantes ficam lotados de turistas, que aproveitam as noites quentes da cidade sem serem importunados.

Sarmiento

Divulgação/Guia de Destinos - Sarmiento é passeio imperdível na região de Mendoza

O trecho da Calle Sarmiento que liga a Plaza Independência à Avenida San Martín é outra atração do centro de Mendoza. São três quadras de calçadão nas quais pode-se caminhar à sombra de grandes árvores e apreciar o cotidiano mendocino. Bares e restaurantes também têm mesas ao ar livre.

Há movimento da manhã ao final da noite. Artistas de rua se apresentam no calçadão e, com sorte, é possível apreciar um belo casal dançar tango. A igreja San Nicolás y Santiago Apóstol (n° 160), a Legislatura Provincial (n° 249), a Bolsa de Comércio (n° 165) e a Pasage San Martín (n° 45), que esconde um belo vitral na passagem interna, destacam-se na paisagem. Alguns dos melhores restaurantes da cidade estão localizados ao longo da Sarmiento.

Grandes vinícolas aos pés dos Andes

Divulgação/El Enemigo - Alejandro Vigil é enólogo-chefe da renomada Catena Zapata e dono da Vinícola El Enemigo

A primeira vinícola que visitamos foi a Bodega Trivento, que pertence ao grupo chileno Concha y Toro, produtora do Trivento Reserve Malbec, um dos vinhos argentinos mais vendidos no mundo. O nome já diz, três ventos sopram nas regiões áridas e ensolaradas do Valle do Uco, Oásis Luján-Maipú e Oásis Este: Polar (frio e seco, no inverno), Zonda (quente e seco, entre inverno e primavera) e Sudestada (úmido e fresco, no fim do verão).

Fundada em 1996, tem oito fazendas. Na visita à sede da vinicultura, em Maipú, é possível aprender a identificar a cepa das uvas pelas folhas no próprio terroir, com orientação de um guia. Com sorte, nesta época do ano, pode-se provar as uvas do pé e até participar da colheita. O melhor vinho da Trivento é o Eolo, produzido no Valle de Cuyo, a 983 metros de altitude, num terroir de apenas quatro hectares, plantado em 1912. Como a produção é muito pequena, não é exportado.

No mesmo dia, almoçamos no restaurante Casa Vigil, na vinícola El Enemigo, de propriedade de Alejandro Vigil, que oferece uma experiência gastronômica única. Na antiga adega As bodegas, com música ao vivo, foram quatro etapas harmonizadas, cujo prato principal poderia ser carne de porco, peixe, cordeiro ou costela. Fui de cordeiro, mas a costela também é divina. Os vinhos são Malbec, Cabernet Franc, Gran Enemigo Blend e Gran Enemigo Gualtallary Single Vineyard.

Alejandro é o enólogo principal da vinícola Catena Zapata, engenheiro agrônomo e um mestre dos solos. O projeto El Enemigo (Bodega Aleanna) começou em 2008, em parceria com a filha mais nova de Nicolas Catena, a historiadora Adrianna Catena. Produz 100 mil garrafas, sendo que o Cabernet Franc representa 70% da produção.

Vale do Uco

Divulgação/Piedra Infinita - Vinícola Piedra Infinita, na região de Mendoza, Argentina

O Vale do Uco merece outro dia de visita. Pedra Infinita, sede da vinícola Zuccardi, é imperdível, pela sua arquitetura quase lunar, moderníssima. É possível conhecer o processo de produção dos vinhos em seus tonéis de concreto e fazer a degustação de Zuccardi Polígono (branco), Zuccardi Polígono Malbec, Emma Zuccardi, Tito Zuccardi, Zuccardi Concreto e José Zuccardi.

Localizada no coração do leque aluvial do Rio Tunuyán, sobre solos calcários muito pedregosos e irregulares, que alteram as características dos vinhos, Pedra Infinita fica no coração do vinhedo de 42 hectares, plantado em 2009, que produz uvas das variedades malbec, cabernet franc, bonarda e tempranillo, com irrigação por gotejamento. Seu nome vem do fato de que muitas toneladas de pedra, aproveitadas nas construções, foram retiradas do solo para fazer o terroir.

No mesmo dia, é possível almoçar em Clos de los Siete, um pedacinho da França no coração do Vale do Uco. É um projeto do famoso enólogo Michel Rolland, inspirado em Bordeaux. Sete châteaux franceses decidiram investir em uma única propriedade, uma espécie de reencontro histórico com o malbec, casta de uva que havia desaparecido na França por causa de uma praga e que ressurgiu na Argentina.

Junto ao amigo e enólogo Jean-Michel Arcaute, no final da década de 1990, na zona alta de Vista Flores, departamento de Tunuyán, Rolland encontrou um excelente terroir, com 85O hectares virgens, com fluxo das correntes de ar frio e excelente exposição solar; os solos são rochosos, pobres, mas com boa drenagem, além da disponibilidade de água pura de degelo para irrigação. Seu blend Clos de los Sete é um sucesso: 55% de malbec, 19% de merlot, 10% de cabernet sauvignon, 12% de syrah, 2% de petit verdot e 2% de cabernet franc.

Luiz Carlos Azedo - A Vvinícola Monteviejo tem um restaurante com vista para os Andes

Uma das sete vinícolas do projeto é Monteviejo, de propriedade da família Péré Vergé-Parent (Château Le Gay, Château Montviel, Château La Violette y Château Tristan, em Pomerol). Seu prédio, com cores mediterrâneas, foi idealizado por Catherine Péré-Vergé, falecida em 2013. Seu restaurante, a 1.100 metros de altitude, com um grande terraço e vista magnífica da Cordilheira dos Andes, é comandado pela chef Nádia Harón. São oferecidos quatro pratos, harmonizados com vinhos Monteviejo: Festivo, da linha reserva e gran reserva, e Linda Flor. Na vinícola, pode-se apreciar obras de Homero Pereyra, Sandra Barrozo e Meli Nafissi Christiansen, entre outros artistas.

Luján de Cuyo

Divulgação/Catena Zapata - A Catena Zapata revolucionou a vinicultura argentina: a imponente sede tem forma de pirâmide maia

Pode-se dizer que a Bodega Catena Zapata revolucionou a vinicultura argentina. Sua imponente sede, em forma de pirâmide maia, e seus vinhos cobiçados, alguns vendidos a mais de
R$ 3 mil no Brasil, no ano passado ganhou o prêmio Melhor Vinícola do Mundo aberta à visitação, no World's Best Vineyards. Muitas vinícolas já haviam se estabelecido na região, incluindo a própria Catena, fundada em 1902 pelo imigrante italiano Nicola Catena, que produzia um bom malbec. Domingos, seu filho, expandiu o negócio, mas os vinhos argentinos eram desvalorizados. O enoturismo ainda não existia na Argentina.

Por volta de 1990, neto do patriarca, Nicolas Catena daria início à revolução vinícola de Mendoza, influenciado pelo lendário enólogo norte-americano Robert Mondavi, nos anos em que estudou economia na Califórnia. Nicolas plantou, no início da década de 1990, 145 cepas diferentes de malbec provenientes do antigo vinhedo Angélica e organizou a produção de seus terroirs em bases científicas. Para isso, criou seu próprio instituto de pesquisas, comandado pela filha Laura Catena Zapata, cientista formada em biologia, pela universidade de Harvard, e em medicina, em Stanford.

Pioneiro do cultivo em grandes altitudes, foi o primeiro a plantar um vinhedo malbec a mais de 1.500 metros acima do nível do mar, no terrier Adrianna Vineyard, com seu monumental El Mirador. Atualmente, Nicolas Zapata conta com o agrônomo e apaixonado por solos Alejandro Vigil, enólogo da Catena, incansável em estudar e compreender cada vinhedo, cada lote e cada planta. E o comportamento das uvas após as chuvas, que só ocorrem 45 dias por ano.

Divulgação/Catena Zapata - Laura Catena Zapata, filha do fundador, comanda um instituto de pesquisa

Na sede da Catena Zapata, depois de uma aula de história sobre malbec e uma visita às instalações da vinícola, a degustação é uma experiência sensorial, pois os vinhos são harmonizados com músicas. É possível apreciar os Angélica Zapata Chardonnay Alta, Catena Alta Cabernet Sauvignon, Catena Zapata Nicasia Vineyard Malbec, Catena Zapata Malbec Argentino e Natureza de Saint Felicien. O restaurante Angélica — Cocina Maestra, que leva o nome da matriarca da família, Angélica Zapata, está situado na Torre Catena. O menu tem 10 passos, e a reserva precisa ser feita com grande antecedência.

Nossa opção foi almoçar na Finca Decero, que nasceu nos anos 1970, em terra virgem e inculta. Descendente de suíços, Thomas Schmidheiny descobriu um potencial incomparável na região de Agrelo, Mendoza. Criou uma vinícola única e sofisticada, que ele chamou de Remolinos. Em 2000, decidiu começar com um novo projeto do zero, daí o nome Decero, cujo principal terroir fica 1.050 metros acima do nível do mar, em frente à Cordilheira dos Andes. O solo e o clima definiram as características de seus vinhos.

Impressiona a organização dos vinhedos, cujas distâncias parecem calculadas milimetricamente. O menu marinado do Restaurante Urban O. Fournier tem cinco etapas, harmonizados com vinhos Malbec, Petit Verdot, Cabernet Sauvignon, Syrah e Tannat. No menu Mini Edicione, a estrela é o ícone Decero Amano. A chef Miriam Chaves mistura a boa carne argentina com a cozinha espanhola.

Da encantadora Mendoza ao desafiador Aconcágua

Divulgação/denomades.com - Entrada do Parque Aconcágua: maior montanha das Américas

Nem só de malbec vive a capital da província de Mendoza, localizada no centro-norte da província, no lado leste dos Andes, com muitos contrafortes e grandes planaltos. Com uma população de pouco mais de 110 mil habitantes, a cidade de Mendoza é o centro nervoso de uma região metropolitana com 1.055.679 mendoncinos.

A Ruta Nacional 7, a principal estrada entre Buenos Aires e Santiago, atravessa Mendoza, paralela à antiga estrada de ferro Transandina, que foi desativada. A cidade é o ponto de partida para os alpinistas a caminho do Aconcágua (a montanha mais alta dos hemisférios ocidental e sul fora da Ásia) e atrai os viajantes de aventura interessados em montanhismo, caminhadas, cavalgadas, rafting e outros esportes. No inverno, a atração são as estações de esqui.

A Cidade

Para quem quer conhecer Mendoza num único dia, um city tour é a melhor opção. A partida pode ser da Plaza Independência, no centro de Mendoza, onde são vendidos os ingressos. São nove paradas, nas quais pode-se descer e esperar o ônibus seguinte: Cerro de la Gloria, Museu da Área Fundacional, Casa de San Martín, Teatro Mendoza, Enoteca Museo del Vino, Calle Aristídes Villanueva, Fuente de los Continentes, Museo Cornelio Moyano, Parque Deportivo de Montaña. O intervalo entre eles é de 25 minutos. Outra opção é alugar uma bicicleta. Os motoristas respeitam os ciclistas, que devem observar as regras do trânsito. O Parque San Martín, com muitas atrações, vale uma boa caminhada.

Em 2 de março de 1561, o conquistador espanhol Pedro de Castillo fundou a cidade. Grande parte da edificação colonial foi destruída em 20 de março de 1861, após um intenso terremoto. Isso influenciou o urbanismo local, marcado pelo teto baixo das casas e poucos edifícios, a maioria com estruturas de ferro. Abalos sísmicos de baixa intensidade ocorrem com certa frequência, sem causar danos.

O Parque San Martín e as belas praças da cidade — España, Itália e Chile, por exemplo — foram concebidos para abrigar a população. A cidade se concentra ao redor da Plaza Independência, cruzada pela Calle Sarmiento, que é atravessada pela 9 de Julio e a Avenida San Martín, que é a principal. Paralelas a Sarmiento correm as ruas Arístides Villanueva e Las Heras, que terminam no Parque José Martín. O centro da cidade possui muitas árvores, regadas por canais pequenos. A água vem de oásis formados pelas águas do degelo.

Em Mendoza, as temperaturas apresentam uma grande oscilação anual, e as precipitações são escassas. O verão é quente e úmido, em torno de 25°C, e é a época mais chuvosa. O inverno é frio e seco, com temperatura média abaixo dos 10°C, e geadas noturnas ocasionais. Mendoza interliga-se com Santiago (Chile) pela Estrada de Los Caracoles, que, partindo de Buenos Aires, é classificada pelos guias turísticos como uma das 10 mais belas do mundo, transpondo os Andes. As placas de sinalização, em boa parte, a denominam como Ruta 7.

A montanha

Luiz Carlos Azedo - Cemitério dos Alpinistas em homenagem a quem perdeu a vida na montanha

Longas trilhas, escaladas em gelo, rafting nas corredeiras, voos de parapente e aventuras na neve. Tudo ao pé do Aconcágua, o ponto mais alto das Américas, no departamento de Lãs Heras. Com 6.962 metros acima do nível médio do mar, é a maior montanha das Américas e também de todo o Hemisfério Sul, superado apenas pelo Himalaia, na Ásia Central. Faz parte do circuito dos Sete Cumes, que consiste em escalar a montanha mais alta de cada continente.

A palavra Aconcágua na língua quíchua significa "A sentinela branca", mas em aymará pode ser traduzido por "A sentinela de pedra". A montanha oferece desafios para qualquer montanhista. A rota normal faz parte da logística de escalada aos cumes de grande altitude, o que permite contato com os melhores alpinistas do mundo. O Glaciar dos Polacos, com dificuldades moderadas para a altitude, exige técnicas de escalada em gelo e neve e é frequentado pelos que se preparam para escalar o Himalaia.

A parede sul oferece dificuldade extrema em gelo, neve e rocha, com inclinações de até 70°. O clima extremo e as baixíssimas temperaturas são mortais. Saindo do acampamento de Confluência, o percurso até Mulas dura quase 9 horas em 19 km de trilha. No local, não existe banheiro público. Nos Andes, é comum a pressão baixar durante o fim da tarde por conta das tormentas. Por isso, o ideal é sempre acordar cedo e fazer a caminhada na parte da manhã. Mais ou menos 40% dos alpinistas fracassam ao tentar chegar ao cume do Aconcágua por conta da altitude, variações do tempo e também ventos fortes.

No caminho para Aconcágua, existe um cemitério de alpinistas, no qual estão muitas sepulturas. Até hoje, são quase 160 mortes conhecidas. Os brasileiros Mozart Catão, 35 anos, líder do grupo, e Alexandre Oliveira, 24, ambos do Rio de Janeiro, e Otto Leonardes, 23, de Brasília, morreram em fevereiro de 1998. No ano passado, um norueguês e dois norte-americanos morreram na escalada. Um deles, o veterano de guerra John Michael Magness, 58, perdeu a vida quando havia chegado ao Acampamento Independência, a 6.300 metros de altitude.

Vinho e esqui

M.A. Fachini - A Ponte dos Incas fica quase na fronteira com o Chile

A melhor oportunidade da estação de inverno, quando os vinhedos estão secos, é combinar vinhos com esqui, na estação de Las Leñas, a 370km do centro de Mendoza. Mas, em qualquer época do ano, a visita ao Aconcagua é um percurso lindo. Uma das atrações é a Represa Potrerillos, construída em 1999, para gerar energia elétrica, abastecer a cidade e irrigar as vinícolas.

A paisagem do lago é um ótimo local para fotos. As aves típicas da região são o condor e a águia chilena. Do Vale de Uspall, na altura da Cruz de Paramillo, já é possível avistar o Aconcágua. Uspallata, com uma atitude de aproximadamente 1.800 metro, foi set de filmagens do filme Sete anos no Tibet, estrelado pelo ator Brad Pitt, de 1997.

A famosa Puente del Inca, a 183km de Mendoza, quase na fronteira com o Chile, é uma atração por suas águas termais. A lenda quechua diz que o herdeiro do trono do Império Inca estava doente e, sem esperanças, foi levado para o local para ser curado. A área é formada por uma ponte natural sobre o Rio Las Cuevas.

Las Cuevas é o último vilarejo no território argentino. A atração principal é a estátua do Cristo Redentor de Los Andes, que fica a 4.200 metros de altitude, considerado o ponto mais alto para quem vai fazer o passeio de um dia. O caminho até o Cristo só é possível trilhar de carro. Saindo de Puente del Inca, sentido Horcones, depois de três ou quatro horas de caminhada, a trilha acaba se dividindo entre o acampamento de Plaza de Mulas (4.300 metros de altitude) ou o acampamento Plaza Francia (4.200 metros de altitude), base da Parede Sul. Para chegar até os acampamentos, é melhor não arriscar, e contratar um guia. A Denomades.com organiza trakkings.

 

A contemporânea cozinha mendoncesa

Divulgação/Centauro Restaurante - Centauro Restaurante é um dos melhores da região

Se formos definir a gastronomia de Mendonza, talvez a melhor descrição seja a daquele personagem da série O faz nada (Star+), com Robert de Niro, interpretado pelo grande ator argentino Luis Brandoni, no papel cômico do arrogante Manoel, um crítico gastronômico portenho decadente: o que faz a diferença é a carne argentina, porque a culinária é francesa, italiana ou "crioula". E, principalmente, o vinho bom e barato, é claro.

Entre bares, pizzarias e restaurantes, o Centauro (Perú, 1156), estabelecimento novo, recomendado no Guia Michelin de 2024, oferece menu marinado de quatro ou seis etapas de bom custo benefício. Serve uma taça de Alma Gemela, Garnacha. O aperitivo (abobrinha fatiada pintada com sriracha e kimchi, gaspacho de aipo, mousse de queijo parmesão, condimento de pepino, cebola roxa e pimentão amarelo) é acompanhado de um Riesling Luigi Bosca.

Há três opções de entradas: patê de cogumelos e kimchi, textura de limão, emulsão de caju e cenoura e gárgulas assadas; alcachofras grelhadas com pesto de manjericão e cebola em conserva; e porco defumado, molho gochujang e conserva de pêssego. Todos acompanhados de um Vineyard White Brend da Mythic.

O prato principal é o cabrito marinado em molho de soja, folhas de videira, cebolas, pêssegos assados e chucrute, acompanhado de um Nude, da Kaiden. Há opções sem glúten e para vegetarianos ou veganos. Para completar o menu harmonizado, três opções de sobremesa: esfera de chocolate branco, recheada com vermute branco, pepino e maçã; texturas de alfarroba, cerejas em conserva, cerejas em conserva, azeite de oliva; e pera preta, manteiga de cacau, ervilha e pó de wasabi, ganache de chocolate branco, géis cítricos, cereais crocantes e nozes, com uma taça de Cuvée Extra Brut — Cruzat.

Outras opções

Divulgação/El Enemigo - Costela de porco do Restaurante El Enemigo

Azafrán Restó (Sarmiento 765). Abre de segunda a sábado, das 19h às 22h30. Liderado pelo chef Sebastian Weigandt, com ambiente rústico sofisticado, serve cordeiro, cabrito, peixes, frutos do mar. Trabalha com cardápio de temporada e menu de três ou quatro tempos

La Lucia (Sarmiento 658). Oferece suculentos cortes de carne, massas e risotos. O ambiente é muito aconchegante e os pratos são generosos. O forte são os "assados". A carta de vinhos é extensa e variada!

Pizaiollo (Sarmiento 631) oferece pizzas, massas e sanduíches, além de chorizo e ojo de bife. Tem opções vegetarianas, veganas e sem glúten.
El Asadito (Juan Bautista Justo, 512). Excelentes carnes e bons vinhos com bom custo-benefício.

No topo do circuito mais exclusivo, na cidade de Mendonza, as opções são Ocho Cepas, Francis Mallman 1884, Francesco, Q Grill, M Bistro, Maria Antonieta e o Nádia O.F. Nas vinícolas, Mun@ Casarena, Casa del Visitante (Família Zuccardi), Osadía (Domínio del Plata), Cavas Wine Lodge , Urban (O. founier), La Vid (Norton) e Ruca Malen.

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