As cirurgias plásticas são muito procuradas no Brasil. Segundo a Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica (ISAPS), o país ocupa o segundo lugar no ranking mundial. E os implantes de silicone nos seios é um dos carros chefes, perdendo apenas para o procedimento de lipoaspiração. Porém, a cirurgia de aumento dos seios vem sofrendo queda nos últimos anos.
De acordo com a ISAPS, em 2018, houve mais de 14 mil explantes no Brasil, já em 2020, ano com os dados mais atuais, foram feitas mais de 25 mil cirurgias para a retirada da prótese. Esse aumento de 74%, para o cirurgião plástico e membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) Fernando Lamana, reflete a tendência de mamas menores e estética mais natural. “Muitas das pacientes não desejam mais a prótese mamária por se verem em contextos de vida diferentes ao que apresentavam quando mais jovens”, completa.
A tendência de corpos com mais curvas e seios grandes, presente principalmente depois dos anos 2000, sofre um baque com a volta da estética de corpos magros, como visto em eventos recentes, nas semanas de moda de 2023 em Nova York, Londres, Milão e Paris. Esse termômetro fashion mostra que os seios naturais e pequenos estão cada vez mais em destaque, o que reflete nas cirurgias pedidas pelas mulheres em centros médicos. “Observo um número significativo de pacientes que não desejam implantes e buscam resultados estéticos mais naturais e com colos mais discretos”, explica. O médico completa que cirurgias para reverter o caimento dos seios e reconstruir a estrutura também têm sido procuradas.
Para o cirurgião plástico William Itikawa, membro da SBCP, outro fator importante levado em conta pelas mulheres na escolha da retirada do silicone nas mamas é a segurança. “O número de explantes tem aumentado devido à conscientização das pacientes sobre os riscos que as próteses podem oferecer”, acredita. Esse é o caso de Mariana Fortti. A empreendedora de 32 anos colocou silicone aos 21 anos e, quase uma década depois, tirou os implantes por motivos de saúde.
Adoecimento
Mariana desenvolveu a síndrome ASIA e a doença do silicone, cujos primeiros sintomas, segundo ela, apareceram quatro meses depois da operação. “Mas foi após sete anos com a prótese que os sintomas se tornaram sistêmicos, e a saúde piorou de maneira mais significativa”, explica.
Durante o período, a empreendedora sofreu com urticária crônica, fadiga, dor nas juntas, olhos e tremor nas mãos. Para tentar frear os sintomas, utilizou corticoides para conter as inflamações, medicamentos e tratamento psicológico para tratar as crises. Mesmo com todas as tentativas, ela conta que somente em 2023, quando realizou o explante do silicone, os sintomas melhoraram e a disposição voltou. “Em algumas semanas, eu já estava superbem”, conta.
A melhora da saúde mental de Marina também foi perceptível — as crises de pânico e ansiedade que a acometiam praticamente sumiram. “Percebi ausência do nevoeiro cerebral, da fadiga e da tontura, que eram constantes”, finaliza.
Além dessas doenças, William Itikawa lembra que pacientes com silicone podem apresentar contratura capsular, ou seja, endurecimento da cápsula ao redor da prótese, que causam deformidades visíveis ou palpáveis, assim como rotação das próteses. As rupturas também podem ocorrer, mesmo que sejam raras, sendo causadas por desgaste natural ou acidentes, como quedas. Essa ruptura pode ocasionar mudanças estéticas e resultar em outros problemas, como inflamação na área. Nesse caso, o explante é altamente recomendado.
Todos esses riscos são levados em conta pelas mulheres que decidem explantar. “Geralmente não há um único motivo que leva a paciente a optar pela operação, e sim uma conjunção de fatores que culminam na decisão de ficar sem os implantes”, explica William. O profissional ainda lembra que as próteses não são vitalícias, precisando de um cuidado regular com um cirurgião plástico para evitar o desenvolvimento desses problemas.
Síndrome ASIA
Trata-se de uma doença autoimune em que há a ativação de anticorpos contra o próprio organismo. Segundo o cirurgião plástico William Itikawa, um dos fatores que pode desencadear a síndrome é o silicone. Seus sintomas podem ser dores crônicas e inflamação nas articulações.
Doença do silicone
A doença tem relação com geobleending, que se refere às prováveis intoxicações causadas pelas substâncias que se soltam de dentro da prótese para o organismo. Esse microextravasamento do gel do silicone, segundo William Itikawa, pode causar dores articulares e fadiga. De acordo com o médico, ainda não se sabe ao certo de que forma as substâncias causam os sintomas, por isso não há reconhecimento formal da doença, mas ela é relatada por muitas mulheres que colocaram implante de silicone.
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Indicação Literária
Além de empreendedora, Mariana Fortti é escritora. Em 2023, lançou o livro Explante, explante meu: a doença do silicone e a necessária jornada de autoaceitação, em que relata a jornada da aplicação dos implantes de silicone, passando pelos problemas físicos e emocionais gerados pela operação, até a realização do explante mamário. Mariana compartilha de forma completa a sua experiência, fortalecendo e encorajando mulheres que estão passando pelo processo, além de debater conceitos sobre autoestima e questões relacionadas à indústria estética.
Primeiros estudos
Artigo da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica (ISAPS), de 2020, aponta o Linfoma Anaplásico de Células Gigantes Associado ao Implante Mamário (BIA-ALCL) como um distúrbio que se desenvolve como resposta imunológica à inflamação crônica induzida pelo implante mamário. Entre os sintomas, são citados aumento de mama, dor, assimetria, nódulo na mama ou axila.
Por dentro da cirurgia
O explante mamário é um procedimento cirúrgico motivado por questões médicas ou arrependimentos estéticos. O cirurgião plástico Wlliam Itikawa explica que o procedimento é feito após uma bateria de exames pré-operatórios, conferindo a máxima segurança possível. A operação é de médio porte e oferece riscos inerentes a qualquer cirurgia mamária, como sangramentos, infecções, trombose, entre outros. “O explante consiste em retirar a prótese mamária acompanhada de suas cápsulas, associado ou não à retirada de pele e à lipoenxertia”, explica o profissional.
A decisão da retirada de pele e de lipoenxertia, conhecida popularmente como preenchimento com gordura, é feita pela paciente em conjunto com o cirurgião, analisando a quantidade de tecido mamário remanescente. “Em explantes, muitas vezes, não temos mais tecido mamário para reconstruir a mama e, assim, podemos necessitar do uso de enxertos de gordura obtida por lipoaspiração para volumetrização da mama”, explica Fernando Lamana, cirurgião plástico e membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP). O profissional ainda lembra que é necessário que haja uma adequação de expectativa em cada caso, já que a beleza estética do pós-operatório do explante varia em cada caso.
Na cirurgia, podem ser usadas anestesia local, raquianestesia (método de bloquear temporariamente a sensibilidade de uma parte específica do corpo) ou até mesmo anestesia geral. “Tudo vai depender, primeiro, da experiência do médico e, segundo, do que é melhor para aquela paciente”, explica o cirurgião e diretor da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica Alexandre Kataoka. Além disso, o médico explica que as contraindicações para operação são mais clínicas, ou seja, caso a paciente tenha alguma doença que não esteja controlada.
Segundo Fernando Lamana, a recuperação costuma ser tranquila, com pouca dor. “Como no explante não temos esse procedimento de abertura do músculo, a dor do pós-operatório experimentado pela paciente é baixa e, em geral, bem tolerada”, completa. Além disso, em menos de 30 dias a mulher já consegue voltar a trabalhar e seguir com a rotina.
Alívio após 10 anos
A arquiteta e artista plástica Camila Nilce, 30 anos, foi uma das milhares de mulheres que optou por fazer a retirada da prótese mamária. “A recuperação do explante foi maravilhosa, totalmente diferente de um implante. Não senti dor, me senti leve, perdi aquela sensação de sufocamento e minha sensibilidade nos seios voltou na hora”, conta. Camila fez o explante em outubro de 2022, removendo as próteses e cápsulas que envolvem o silicone dentro do corpo.
De acordo com a arquiteta, a decisão de fazer o procedimento foi motivada, principalmente, por motivos de saúde. Ela conta que durante os 10 anos em que ficou com a prótese desenvolveu uma série de problemas. “No primeiro mês pós-operatório, tive rejeição, inflamação e meus pontos não fechavam. Fiquei correndo riscos de mais infecções por quase um ano”, narra. Camila afirma que teve que recosturar os seios mais de 15 vezes, mas nada funcionava, assim foi aconselhada a tirar a prótese que estava com problema.
Depois de um período de cura das inflamações e sem uma prótese, colocou um novo implante e acabou desenvolvendo esclerodermia — doença autoimune que acompanha a arquiteta até hoje, deixando marcas e manchas na pele. “Não só desenvolvi a esclerodermia, como também tive complicações com queimaduras pelo corpo todo, dores, fadiga, perdi todas as unhas do pé, fiquei com o corpo inchado, dermatites e mais sintomas que nem sei listar”, completa.
Mesmo com todos os problemas de saúde gerados pelos implantes, a artista ficou 10 anos com as prótese, pois a demora de diagnostico da sua doença e a difícil jornada de aceitação, freava Camila. “Depois de alguns anos, fiz uma biópsia e descobri que era realmente a condição autoimune. Após mais algum tempo com as próteses e tentando amenizar a doença, encontrei um especialista que me alertou sobre a relação do implante com a aparição das manchas e que seria muito importante eu remover o silicone para me tratar melhor. Mas eu demorei muito para aceitar que tudo isso estava acontecendo comigo, é uma negação horrível”, desabafa.
Depois de um mês da operação do explante mamário, a arquiteta já estava dirigindo e, um pouco depois, fazendo exercícios físicos. Ela garante que a melhora foi completa: não tem mais fadiga, não sente dores e nem queimações pelo corpo, a esclerodermia está melhor após a cirurgia. “Eu me sinto uma nova mulher, com saúde e amor-próprio. Se eu fosse alertada de todos os riscos reais que um silicone pode causar, eu nunca teria optado por esse corpo estranho que quase tirou minha vida.”
Mamoplastia Redutora
Outro procedimento estético que vai de encontro com essa tendência de seios menores e mais naturais é a mamoplastia redutora. A operação busca retirar o excesso de gordura, de tecido glandular e de pele das mamas. “A recuperação costuma ser tranquila, por volta de 15 dias o paciente está voltando às atividades habituais”, completa o cirurgião plástico Alexandre Kataoka.
A estudante Giovana Nunes, 22 anos, fez o procedimento em 2019, justamente por problemas de saúde. “O peso dos meus seios estavam prejudicando minha postura”, explica a jovem. A recuperação da operação foi tranquila e a jovem teve auxílio dos familiares para fazer as tarefas rotineiras durante o período. Depois do repouso, Giovana sentiu uma melhora significativa, com alívio nas dores que sentia nas costas. “Além de aumentar muito minha autoestima, fiquei mais disposta para praticar exercício físico sem cansar muito rápido.”
Compartilhando as jornadas
Com aumento da operação de explantes mamários, o aparecimento de grupos voltados para o assuntou também cresce. Nas redes sociais, mulheres que já passaram pelo procedimento compartilham suas histórias e informam outras mulheres sobre os pontos positivos de fazer a operações de explantes. Confira alguns perfis de destaque sobre o tema no Instagram:
@explante.explantemeu
@camilangaleano
@silicone.free
@marifortti
@explantei
@explantedesilicone