Saúde

Em tempos de folia, cuidados com sífilis devem ser reforçados

Durante o período carnavalesco, as infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) podem aparecer em grande escala. Por isso, faz-se necessário o diagnóstico correto e o tratamento adequado para amenizar a disseminação dessas doenças

Apesar da empolgação e euforia trazida pelo período carnavalesco, algumas atenções são essenciais para curtir bem a folia. Durante essa época, é normal que certas doenças tenham um maior número de casos. Entre elas, as infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), sobretudo a sífilis, podem aparecer em grande escala. Por isso, todo cuidado é necessário para evitá-las.

Causada pela bactéria Treponema pallidum, a sífilis pode se apresentar em vários estágios e tem diferentes sintomas. Segundo Tatianna Ribeiro, ginecologista e especialista em fertilidade da Clínica Reghio, a doença é curável e exclusiva do ser humano. “Ela pode ser adquirida quando a transmissão se dá de uma pessoa para outra durante o sexo sem preservativo (anal, vaginal ou oral) ou por transfusão de sangue. Já a transmissão da sífilis congênita acontece da mãe infectada para o feto durante a gestação ou o parto”, detalha.

Freepik - De acordo com o Ministério da Saúde, a injeção de benzetacil é a principal forma e mais eficaz de combater a bactéria da sífilis.

Inicialmente, os primeiros sinais aparecem como pequenas feridas nos órgãos genitais (cancro duro) e com ínguas (caroços) nas virilhas. Estes sintomas, de acordo com Tatianna, surgem entre a segunda ou terceira semana após a relação sexual desprotegida com a pessoa infectada. Rica em bactérias, as feridas e as ínguas não doem, não ardem, não apresentam pus e tampouco coçam.

Mesmo com esses indícios, se a doença não for tratada adequadamente, continua a avançar no organismo, surgindo manchas em várias partes do corpo, como nas palmas das mãos e nas solas dos pés. Além disso, pode provocar queda de cabelos, cegueira, doença do coração, paralisias, entre seis semanas e seis meses do aparecimento e da cicatrização da ferida inicial.

“Pode ocorrer febre, mal-estar, dor de cabeça e ínguas pelo corpo. Caso ocorra em grávidas, poderá causar aborto/natimorto ou malformação do feto. Existe ainda uma fase assintomática, latente”, explica Tatianna.

Pinterest @achristinauk - Manchas nas palmas das mãos e plantas dos pés são sinais de que a sífilis está no estágio secundário. Essas lesões podem desaparecer sozinhas, trazendo a falsa impressão de cura.

Perigos da sífilis

André Bon, infectologista do Hospital Brasília, da rede Dasa no DF, afirma que a sífilis é uma preocupação em nível nacional. Segundo ele, há uma epidemia da doença no Brasil. Entre os profissionais, existe um olhar atento para a transmissão vertical, que acontece quando as mães com sífilis podem disseminar a infecção para os filhos durante a gestação.

“O diagnóstico e o tratamento devem ser no período de gravidez, especialmente nos momentos iniciais, para que não haja nenhum acometimento do bebê. Quanto mais precoce acontecer essa prevenção, menor a chance de o feto ter algum problema durante a gestação. É fundamental que as mulheres façam o pré-natal e o diagnóstico adequado da sífilis”, acrescenta.

O infectologista recomenda, também, que o parceiro sexual do indivíduo com sífilis faça o devido tratamento. De acordo com ele, essa busca profissional é essencial para, não somente identificar, como amenizar mais casos da infecção.

Tempo de incubação

Segundo a ginecologista Tatianna Ribeiro, não há um tempo de duração para a sífilis no organismo. Ela é dividida em períodos de atividade e latência, podendo aparecer sintomas de dois a 40 anos depois do início da infecção.

Sintomas

Além das feridas e ínguas nas genitais, a sífilis pode apresentar dor nos músculos, fadiga, febre, mal-estar, dor de cabeça, dor de garganta e manchas em outras partes do corpo. Em casos mais graves, pode haver queda de cabelo, cegueira e doença no coração.

Freepik - A sífilis é uma infecção curável e exclusiva dos seres humanos. Com o aparecimento dos sintomas, deve-se procurar um médico o mais rápido possível.

Distrito Federal

De acordo com a Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF), de janeiro a julho de 2023, em comparação com o mesmo período de 2022, os casos envolvendo sífilis cresceram 55,9%. A pasta afirma que 3.138 diagnósticos foram notificados nos primeiros sete meses do ano, com 14 infecções, em média, por dia. O público mais atingido são os homens na faixa etária de 15 a 29 anos.

Dados nacionais

No Brasil, cerca de 122 mil casos foram registrados de janeiro a junho de 2022. Deste total, foram constatados 79,5 mil casos de sífilis adquirida (contraída durante a vida), 31 mil registros de sífilis em gestantes e 12 mil ocorrências de sífilis congênitas.

Transmissão vertical

A sífilis vertical é transmitida da mãe não tratada para o bebê, durante o período gestacional. Caso a mulher não prossiga com o diagnóstico adequado, o feto pode ter acometimentos irreversíveis, segundo o infectologista André Bon.

Palavra do especialista

Quais são as fases da sífilis?

Na sífilis primária, os sintomas aparecem entre 10 e 90 dias após o contágio. Na sífilis secundária, os sinais e os sintomas surgem entre seis semanas e seis meses do aparecimento e da cicatrização da ferida inicial. A sífilis latente (fase assintomática) é dividida em sífilis latente recente (menos de dois anos de infecção) e sífilis latente tardia (mais de dois anos de infecção). A duração é variável, podendo ser interrompida pelo surgimento de sinais e sintomas da forma secundária ou terciária. Na sífilis terciária, os sintomas podem surgir de dois a 40 anos depois do início da infecção inicial, apresentando, principalmente, lesões cutâneas, ósseas, cardiovasculares e neurológicas, podendo levar à morte.

Qual o tratamento eficaz contra a sífilis?

O uso do antibiótico penicilina benzatina (benzetacil) é a melhor opção. Nos casos de alergia à penicilina, um teste intradérmico pode ser feito, bem como a dessensibilização com penicilina V oral, individualizando caso a caso. Se essas medidas não forem possíveis, deverão ser utilizadas drogas alternativas, como tetraciclina, eritromicina e doxiciclina. Sempre lembrando que precisa tratar também a parceria sexual das pessoas infectadas.

A sífilis pode comprometer a fertilidade?

Não apenas a sífilis, mas as ISTs de um modo geral podem afetar principalmente a tuba uterina, que é o caminho percorrido pelos espermatozoides para o encontro com o óvulo. Consequentemente, suas funções podem ficar afetadas, provocando mudanças na contratilidade da trompa, semioclusão e até obstrução completa de sua luz. Dessa forma, a mulher tem maior risco de desenvolver uma gestação fora do útero (chamada de ectópica). As ISTs podem ainda, em casos mais graves, gerar abscessos pélvicos. O tratamento pode resultar na retirada do ovário e da trompa atingidos. Nesses casos, as mulheres devem consultar especialistas em reprodução assistida para seguir um tratamento ou realizar um planejamento reprodutivo adequado. Mesmo de forma diferente, os homens também ficam sujeitos a mudanças na fertilidade. Os danos podem ir desde infecção do canal da urina, na próstata e no epidídimo a quadros graves de acometimento seminal.

Tatianna Ribeiro é ginecologista e especialista em fertilidade da Clínica Reghio

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