Quando se é tutor e apaixonado por bichos, ter mais de um animal em casa é algo natural. Há, ainda, aqueles que cuidam de diferentes espécies no mesmo espaço. No entanto, é necessário avaliar, corretamente, as personalidades de cada um, para que a convivência seja saudável. Entre cães e gatos, essa história não é diferente. Uma boa introdução nesse ambiente pet pode ser fundamental.
De acordo com Bárbara Geovana Ferreira, médica veterinária comportamental, é importante que os animais não sejam introduzidos de forma abrupta. "Quando o gato ou o cachorro — ou ambos — são filhotes, o processo se torna mais fácil. Mas, vá colocar o cão em uma casa onde já habitam gatos, é interessante que os gatos tenham locais para transitar pelo alto, a famosa gatificação da casa", detalha.
Na avaliação da especialista, com esses detalhes, os felinos não se sentirão acuados pela presença do cão. Além disso, é interessante que a casa disponha de grades separando os ambientes até que os pets, divididos por essas áreas, possam se acostumar com a presença um do outro. O processo, porém, pode demorar de semanas a meses.
"É algo que não se tem muito como prever, pois em cada caso a adaptação ocorre de forma diferente, visto que se deve levar em consideração a personalidade dos animais que estão sendo socializados. Nos casos mais simples, pode demorar algumas semanas; em casos mais complexos, até meses", explica a profissional.
Dois irmãos
Há pouco mais de três meses, Lorena Morgana, 27 anos, tem encarado essa realidade. Isso porque o felino Tiger, antes filho único, ganhou a companhia do cachorro Lion. O processo de socialização de ambos, segundo a tutora, tem sido com um passo de cada vez, já que o gatinho sempre esteve acostumado a ser solitário. "Aos poucos, ele tem compreendido que o irmão veio para ficar", afirma a jovem.
O gato mais tranquilo, calmo e amante do sono; o cachorro mais agitado, brincalhão e eufórico, por ser filhote. Para tentar manter uma boa convivência entre os dois, Lorena acredita que o espaço para ambos é um caminho. Entretanto, sempre que possível, ainda mais na hora do lanche, aproxima os dois para comerem juntos.
Ela destaca ainda que o tempo de qualidade com os bichos é imprescindível para unir os pets amigos. "O animalzinho que já existia em casa não pode se sentir excluído. Então, sempre separo o horário de brincar com meu gato e dou a minha atenção total a ele", ressalta Lorena.
Convivência saudável
Embora a adaptação de início seja difícil, ela não é impossível. Segundo Lucas Sousa, biólogo e médico veterinário, o tempo para a harmonia acontecer é variável. "Há indivíduos que não terão nenhum problema e há aqueles que nunca se entenderão. O mais importante para garantir essa harmonia da convivência é a estabilidade do ambiente, das rotinas e promovendo o respeito aos limites 'pessoais' de 'cada indivíduo'", atesta o especialista.
Nesses casos, o cão costuma se sentir mais seguro quando há pessoas da família que estão tranquilas a seu redor. Quando um gato se sente acuado, ele costuma procurar lugares altos e escondidos para descansar, por isso gatificar o lar pode gerar felinos mais calmos e seguros, que são mais tranquilos para serem apresentados a novidades: como um cachorro.
Em certos contextos, é possível que os pets nunca se habituem com a presença um do outro. O lado mais frágil da história, como descreve Lucas, quase sempre é do gato, ainda mais em situações em que o cão é maior do que ele. Nesse contexto, o felino pode crer, fielmente, que o companheiro é uma ameaça ou um inconveniente grande demais para ser tolerado.
Saiba Mais
"Cães podem ser muito ciumentos ou simplesmente protegem seu território, alimento e, mais importante, sua matilha. Em outros casos, o cão nunca vai conseguir tirar da cabeça que o gato se trata de um possível alimento ou caça, isso é especialmente comum em raças de caça, como galgos e sabujos. Há também a simples possibilidade de as personalidades dos indivíduos serem incompatíveis: talvez o gato seja fluminense e o cachorro flamenguista!", brinca Lucas.
Dentro deste cenário, a introdução tem que ser feita com o acompanhamento de um profissional do comportamento animal. Caso não seja possível, manter em cômodos diferentes da casa permanece a melhor opção, na avaliação do médico veterinário.
Tapas e beijos
Assim que se mudou para a casa do namorado, Carol Rodrigues, 35, precisou levar a cachorrinha Collie de 14 anos junto. Lá, a pet teve que se adaptar ao convívio de outros gatos. "No início não foi muito fácil, porque ela já é velhinha e, por isso, ranzinza. Há mais ou menos um ano, adotei uma gatinha recém-nascida, chamada Maria Flor, e a situação se agravou, porque a gatinha filhote queria brincar e ela já não tinha paciência", conta.
Agora, com a felina já crescida, Carol revela que a situação ficou ainda mais complexa. A gata, segundo ela, tenta se aproximar, mas a cachorra não aceita essa proximidade. De vez em quando, ambas se estranham e a cachorrinha corre atrás da gata. De acordo com a tutora, a confusão é certa.
Para fazer uma adaptação menos complexa, Carol foi atrás de um profissional, que conseguiu ajudá-la a entender o comportamento de cada um e como poderia agir em determinadas situações. "A cachorrinha desenvolveu uma lambedura por ansiedade, então ela toma floral todos os dias para ficar mais calma. Isso ajudou muito!", completa.
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