Casa

Estilo artístico traz memórias afetivas como elementos de decoração

Ousado, criativo e original, o estilo kitsch aposta em mistura de estampas, sobreposição de peças e cores provocantes. Confira dicas práticas de como incorporar a estética na decoração da casa

Por Gabriela Sena*

Considerado belo por alguns e de mau gosto por outros, o estilo de decoração kitsch é polêmico e divide opiniões. Combinando elementos controversos e abusando da criatividade, essa estética maximalista permite muita liberdade na hora de decorar a casa.

O termo kitsch vem do alemão verkitschen e significa, literalmente, sentimentalizar. Utilizada no século 19 para se referir a obras de arte consideradas feias e de mau gosto, essa palavra carregou, por muito tempo, um teor pejorativo para a sociedade.

De acordo com a designer de interiores Renata Brum, existe um grande preconceito com a estética kitsch. "Muita gente associa esse estilo ao brega e ao cafona, mas não é nada disso. O kitsch traz como base a referência maximalista, com mais adornos e uma decoração mais pesada, mas que é cheia de afetividade, reverência e arte", declara.

Reprodução/Instagram@colorful_kimmes - Uma parede kitsch normalmente é pintada em um tom chamativo e repleta de quadros pendurados

Embora seja definido como visualmente desagradável por alguns,
ele foi ressignificado e pode ser visto em vários lugares, inclusive em projetos de decoração de casas e apartamentos. Mas o que caracteriza, afinal, um ambiente como kitsch?

Xô, minimalismo!

Exagerado e autêntico, o kitsch é marcado pelo excesso de informações. Nesse contexto, misturar cores, formas, texturas e estampas nunca é demais. Por essa particularidade, pode-se dizer que esse estilo é oposto à estética minimalista.

"No nosso dia a dia, a arquitetura, o design e até a decoração buscam a leveza, apostando no minimalismo: casas mais retas, arquiteturas mais limpas, decorações básicas e cores suaves e neutras. Isso virou o padrão atual do belo", declara Renata.

"Uma casa nude é clean e linda na novela. Mas uma casa com suas referências de vida conversa com você e te abraça", completa. De acordo com a designer, estilos autênticos, como o kitsch, estão passando a ser mais valorizados pelas pessoas.

Reprodução/Instagram@colorful_kimmes - As cores extravagantes e o design divertido das cadeiras e do lustre são os elementos que mais chamam a atenção nesta sala de jantar

De acordo com Letícia Pardo, especialista em psicoarquitetura e estudos sobre a decoração como uma forma de afeto, ambientes minimalistas e pobres em informação podem gerar cansaço nas pessoas que os habitam. "Você não tem, ali, suas memórias afetivas e sua identidade nas paredes, então você não tem os benefícios de sentir bem-estar em casa. Não é um ambiente de longa permanência", esclarece.

Por isso, a estética kitsch preza pelo maximalismo. No entanto, isso não significa necessariamente acumular e despejar pela casa tudo que é colorido e retrô. "É ousar, sim, na decoração, mas ter a preocupação também com o resultado final. Decorar de forma intencional", afirma Renata.

Como decorar

A regra mais importante do estilo kitsch é decorar a casa pensando em deixá-la com a sua cara. "Não faz sentido para mim ter uma casa capa de revista, totalmente planejada, mas não se identificar com meu próprio lar", declara Letícia.

A especialista explica, do ponto de vista da psicoarquitetura, a importância de se ter uma sensação de identidade e pertencimento em casa. "Se um lar não tem personalidade, a gente não se apropria desse espaço, não se sente pertencente nem seguro o suficiente para relaxar e ter esse espaço como refúgio", conta.

Segundo Letícia, ter a personalidade dentro do ambiente é primordial para a saúde física e mental.

Assim, é muito interessante começar, por exemplo, utilizando suas cores preferidas dentro de casa. Aqui, não é necessário se preocupar com padrões de harmonização de tons ou em ser discreto na escolha: cores ousadas, intensas e provocantes são uma ótima aposta. A paleta de cores variada não precisa fazer sentido e pode estar em paredes, cortinas, almofadas e móveis.

Outra sugestão é brincar com as formas geométricas, estampas, materiais e texturas da mobília. Novamente, as regras convencionais de bom gosto e elegância devem ser deixadas de lado sem medo. Essa mistura de elementos considerados contraditórios traz um aspecto descontraído típico da estética kitsch para o local decorado.

Os pequenos detalhes também são essenciais para compor o ambiente. "As paredes geralmente quase não têm espaço em branco: são quadros, desenhos, pratos, molduras, esculturas, relógios, imagens religiosas, tudo junto ou agrupados por coleção", afirma Renata.

Uma dica que Letícia dá é decorar o ambiente com fotografias de viagens em família. "É interessante trazer imagens que lembrem a pessoa de momentos impactantes da vida. Assim, toda vez que ela estiver em casa e bater o olho naquela fotografia ela vai lembrar dos momentos bons com a família", complementa. mA bagagem do objeto importa, sim.

Outra característica marcante dessa estética é a preocupação com a memória afetiva que as coisas carregam. Sabe aquela toalha de mesa que pertencia a sua avó e te lembra dos cafés que vocês tomavam juntas? Esse tipo de objeto tem grande importância aqui.

"Os elementos mais marcantes são os que contam histórias. Adornos divertidos, por exemplo, um brinquedo de quando a pessoa era criança, um pinguim de geladeira herdado da avó, telefones antigos. São objetos que têm valor sentimental e se conectam conosco", declara Renata. "É uma casa que fala. Que te lembra a todo momento suas origens, do quanto você curtiu tal lugar, do quanto seu avô era bacana ou dos primeiros anos escolares do seu filho", finaliza.

Reprodução/Pinterest - Elementos retrô como televisões e relógios antigos são bem-vindos e podem ser herdados da família, trazendo valor sentimental para a decoração

Letícia explica que o principal benefício dessa particularidade da estética kitsch é poder criar uma casa com emoção. "Ter aquele monte de coisinhas em casa, souvenirs de viagens, fotos, peças herdadas e coisas que a gente vai encontrando ao longo da vida são o que fazem a decoração ser afetiva", conta.

Para a arquiteta, a ideia de ter objetos sentimentais no lar vai além de apenas relembrar momentos bons e pessoas queridas. Segundo ela, uma decoração afetiva é também capaz de construir relacionamentos melhores e aproximar os indivíduos que convivem em determinado ambiente.

*Estagiária sob a supervisão de José Carlos Vieira

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Reprodução/Instagram@kate_rose_morgan) - O formato curioso da mesinha e a mistura de estampas na cortina, tapete, piso e azulejos trazem um ar divertido para o banheiro