Assisti na última semana ao documentário recém-lançado “Carlos”, uma biografia do sublime músico mexicano Carlos Santana. A obra traz o caminho de autoconhecimento que ele trilhou sem as drogas e vale, por si só, pelo recado que ele deixa para nós, reles mortais – “Deve existir algo para estimular sua imaginação, sua determinação e convicção. Sua realidade é muito limitada. Prefiro viver em um estado de sonho acordado. Um sonho acordado perpétuo” (em tradução livre).
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Claro que Carlos tem seus inúmeros momentos em que o pensamento não vagueia. Entendo seu depoimento como uma forma de explicitar seu estado mental no ato de criação ou até na hora de executar uma obra. Quando estamos menos conectados com o aqui e o agora, abrimos portas para a criatividade. Nessas situações, a ativação de estruturas cerebrais pouco associadas às tarefas conscientes, como o cerebelo, podem fazer a diferença.
Pesquisadores da Universidade de Stanford nos EUA demonstraram há pouco tempo de que o cerebelo é um dos atores principais para a orquestração de nossa criatividade. Quando voluntários fazem desenhos dentro de uma máquina de ressonância magnética funcional, os desenhos eleitos pelos participantes como os mais criativos foram os feitos com uma maior ativação do cerebelo. O cerebelo é um maestro que trabalha em um nível inconsciente. Quanto menor a consciência do processo, maior será sua ativação. Trocando em miúdos: quanto mais nos esforçamos para pensar e calcular uma criação, menos criativo será o produto final.
*Ricardo Afonso Teixeira é doutor em neurologia pela Unicamp, professor do curso de medicina do Unieuro e neurologista do Instituto do Cérebro de Brasília