Cada click de curtida nas redes sociais faz com que seja disparado no cérebro um circuito de recompensa que é o mesmo ativado quando experimentamos um delicioso chocolate ou quando terminamos uma tarefa que estava pendente. Temos realmente uma engrenagem que nos faz sentir confortáveis e seguros com o pensamento daqueles que pensam como a gente.
O diferente dá mais trabalho. Ele ativa outro circuito, o da amígdala, localizado no lobo temporal, que sinaliza medo e desconfiança daquilo que pode nos trazer perigo, do que é estranho, diferente.
Isso tudo é muito mais inconsciente do que podemos imaginar. Estudos mostram que brancos acham que os pretos são mais violentos e propensos a provocar transtornos, simplesmente por serem pretos. E essa opinião inconsciente acontece mesmo quando se fala em crianças pretas de cinco anos de idade. Nessas situações, estudos de neuroimagem mostram que as amígdalas estão bem ativadas e essa ativação reflete o quanto as pessoas são relutantes em acreditar nas outras.
Por outro lado, o sistema de recompensa desempenha o seu papel de contrabalancear o efeito de desconfiança das amígdalas. Esses circuitos de recompensa são antigos na evolução dos vertebrados e estão presentes nos pássaros, répteis, anfíbios e nos mamíferos. Uma pesquisa clássica conduzida por pesquisadores da Universidade de Stanford mostrou que o sistema de recompensa de camundongos era bastante ativado quando eles encontravam outro camundongo desconhecido, mas que era da sua própria linhagem genética.
Os cientistas desconhecem todos os segredos desses sistemas na promoção de interações sociais, mas a expansão dessa linha de pesquisa pode nos dar rumos de como fazer com que os “diferentes” cooperem entre si. Já sabemos que essa cooperação traz grandes resultados e é mais desafiador. Onde iremos parar com uma vida banhada de recompensa cerebral por aqueles que nos cercam, sem sermos desafiados por pontos de vista diversos?
Saiba Mais
Ouvir, de verdade, uma opinião diferente requer humildade intelectual. A troca envolve o exercício de apresentar suas ideias de maneira respeitosa. É chegar ao seu número certo: nem tão grande que você possa parecer arrogante e nem tão pequeno, o que é uma autodepreciação. E se você mudar suas convicções, mude de cabeça erguida e ainda cante Raul: “Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo.”
Pessoas com diferentes expertises têm mais sucesso no desempenho de uma tarefa complexa que um time de pessoas com formação muito homogênea. E a diversidade social também traz vantagens. Juntar pessoas com diferentes convicções políticas, etnias, gêneros e orientações sexuais pode ser muito melhor que uma turma de homens branquinhos que apoia o mesmo partido político.
Essa diversidade é vista hoje como condição necessária para uma equipe alcançar a inovação. Pesquisas mostram que empresas que têm mais mistura étnica e de gênero ganham mais dinheiro que as muito homogêneas. Grupos de cientistas multiétnicos têm mais sucesso.
A diversidade permite mais criatividade. Quando interagimos com uma pessoa diferente da gente, temos a tendência em nos preparar melhor para a tarefa, para a argumentação. É mais comum anteciparmos alternativas de opinião e temos a expectativa de que o esforço será grande para um consenso. As pessoas acabam se esforçando mais.
*Ricardo Afonso Teixeira é doutor em neurologia pela Unicamp, professor do curso de medicina do Unieuro e neurologista do Instituto do Cérebro de Brasília
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