Encontro com o chef

Maratona gastronômica desvenda as delícias do Oriente Médio em Dubai

Confira o tour gastronômico, na parte velha de Dubai, que desbrava as particularidades das cozinhas do Líbano, da Jordânia, da Síria, da Palestina e do Iraque

A coluna desta semana está um pouco diferente. O tema continua a boa mesa, claro, mas não contarei a trajetória de um chef, confeiteiro ou cozinheiro da cidade. Depois de passar cinco dias em uma viagem gastronômica por Dubai, visitando, inclusive, restaurantes que fazem parte do renomado Guia Michelin, um tour, em especial, marcou tanto o meu paladar quanto minha percepção sobre a região.

Criada há 10 anos por duas irmãs descendentes de indianos, a Frying Pan Adventures é uma empresa que promove uma peregrinação pela cozinha do Oriente Médio. Nosso grupo, formado por cinco brasileiros, foi guiado por uma das sócias, Farida Ahmed. O ponto de encontro foi nas proximidades da casa de Farida, na Velha Dubai, região onde encontramos poucos turistas. Ou seja, somos apresentados a restaurantes frequentados pelos moradores, principalmente muçulmanos.

Ao todo, visitamos cinco casas que, para Farida, representam o que há de melhor na cozinha do Oriente Médio na cidade. Munidos de fones para ouvir a "aula" da nossa guia, seguimos, a pé, aos endereços, distantes pouco metros um do outro. São três horas de degustação e lições preciosas. Ao final, fomos devidamente certificados por ter cumprido a maratona gastronômica.

Falafel

Divulgação/Frying Pan Adventures - Falafel servido no Sultan Dubai Falafel

A nossa primeira parada foi no Sultan Dubai Falafel, uma pequena cafeteria palestino-jordaniano, que, segundo Farida, prepara o melhor falafel e o melhor homus de Dubai. Depois de prová-los, não duvidei. "Esse falafel é a primeira razão pela qual não me mudo dessa vizinhança", brinca a guia.

Embora os falafels sejam onipresentes em todo o Oriente Médio, para Farida, a receita do bolinho de grão de bico preparada nesse restaurante simples é especial. Um dos pratos principais é o falafel mahshi, ou falafel recheado, salpicado com sumagre azedo, tempero de frutas vermelhas e shatta quente — um molho típico feito com alguma combinação de pimentão vermelho doce e picante e pimenta chili. "A versão do Sultan Dubai é mais branda", garante a guia.

Kunafa

Sibele Negromonte - Chef preparara uma kunafa no Quaider Al Nabulsi

Na porta ao lado, continuamos nossa peregrinação em outro restaurante palestino-jordaniano, o Quaider Al Nabulsi, para saborear a kunafa, uma sobremesa deliciosa e com origens controversas no Oriente Médio. Segundo nossa guia, existem diversas variantes de kunafa — também escrito Knafeh, Kunefe ou Kunafeh —, mas uma das mais populares é o palestino Kunafa Nabulsiye, que vem da cidade de Nablus, na Cisjordânia.

A sobremesa é feita com queijo nabulsi, comum na região e produzido com leite de cabra e ovelha, e coberto com kataifi, massa de origem grega que se assemelha a um macarrão crocante e fino. "O mais próximo que encontramos do Nabulsiye original, em Dubai, é a versão do Quaider Al Nabulsi", afirma. "Encontramos diferenças no kunafa servido por diferentes restaurantes em Dubai — turcos, libaneses, palestinos, egípcios e sírio." Eu, que não sou exatamente fanática por doces, achei um dos pontos altos da nossa peregrinação.

Baklava e gahwa

Divulgação/Frying Pan Adventures - Gahwa servido segundo a tradição árabe no Al Samadi Sweets

Nossa terceira parada foi para conhecer um pouco mais da confeitaria oriental. O centro da nossa atenção era a baklava, um doce de massa filo em camadas e nozes, mergulhado em calda de açúcar, cuja origem é disputada entre gregos e turcos. Mas havia uma infinidade de outras delícias na casa Al Samadi Sweets, que começou como uma loja de doces em 1872, no Líbano, e, um século depois, abriu sua primeira loja nos Emirados Árabes Unidos, segundo explicou Farida.

Experimentamos vários doces, como o maamoul (biscoitos de nozes, pistache e tâmaras), o basbousa (bolo de semolina cravejado de nozes) e o karabeej, ou karabij, (biscoitos de semolina e pistache, que são mergulhados em um creme vegano feito de raízes da planta da erva-sabão). "Até hoje, compramos nossos doces aqui", diz Farida, que também nos apresentou ao gahwa, o tradicional café árabe. "Essa é a bebida da hospitalidade no Golfo Arábico (como as pessoas de Dubai chamam o Golfo Pérsico)", detalha.

O gahwa é preparado com grãos de café levemente torrados e infundidos com cardamomo. Algumas versões são ainda perfumadas com açafrão e água de rosas. O café é servido em xícaras pequenas, chamadas finjaan, ou finyaal no dialeto local dos Emirados. "Tradicionalmente, o gahwa deve ser servido com a mão esquerda, e o copo é entregue ao convidado com a mão direita. Sempre lembre-se de aceitar o copo com a mão direita, porque nas culturas árabes é considerado impróprio comer ou beber com a mão esquerda. O copo nunca deve estar cheio até o topo, pois isso implica que você deseja que seus convidados saiam, um gesto muito rude", ensina nossa guia.

Shawarma

Sibele Negromonte - O restaurante sírio Farooq Al Sham serve um delicioso shawarma

Se o tour terminasse ali, já me daria por satisfeita, mas ainda havia duas casas incríveis para conhecermos. A próxima parada foi o sírio Farooq Al Shami, que vende suas delícias em um pequeno espaço bem disputado pelos moradores locais. O shawarma de frango deles, que foi o que provei, é perfeitamente marinado, macio e suculento. Não consegui provar a versão de carne, pois precisava me resguardar para o último restaurante. E aí vai uma dica: se for fazer o tour, trate de ir de estômago vazio e como muita disposição a se jogar nos diversos sabores apresentados. 

Um dos integrante do nosso grupo é vegetariano e, para ele, foi servido o manousheh, um pão achatado semelhante à pizza, mas, em vez de coberto com molho de tomate, recebe cobertura de za'atar, uma mistura de especiarias. O Farooq Al Shami também serve quibe.

Masgouf

Sibele Negromonte - Peixe defumado preparado à perfeição no restaurante iraquiano Kabab Erbil

A nossa última parada foi no Kabab Erbil, um restaurante com raízes em Kirkuk, no Iraque, onde foi inaugurado em 1973. Lá, fomos servidos de um maravilhoso peixe chamado masgouf, que, segundo Farida, é o prato nacional do Iraque. Masgouf não é o nome do peixe, mas da técnica em que ele é preparado — defumado em torno de um fogo de lenha. O peixe é servido com amba (picles de manga azeda), rayhaan (um manjericão com sabor de anis) e pão tanoor quente. "Nós recomendamos comê-lo da maneira tradicional, arregaçando as mangas e comendo com as mãos em vez de com talheres", ensina.

Assim que entramos no restaurante, onde fomos recebidos de forma efusiva e afetuosa, Farida nos perguntou: "Quando falamos em Iraque, você pensa em quê?". Todos respondemos: "Guerra!". "Espero que, a partir de hoje, todas as vezes que você pense no Iraque, lembre-se desse peixe", retrucou. Que assim seja!

Serviço

O tour para desbravar a cozinha do Oriente Médio pode ser agendado pelas redes sociais e custa,
em média, R$ 580. A Frying Pan Adventures faz também outros circuitos gastronômicos por Dubai.
Instagram: @fryingpanadventures e site: www.fryingpanadventures.com

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