A função de bombeamento feito pelo coração é bem conhecida, mas existem outros músculos que ajudam na circulação do sangue. Também chamada de segundo coração, a panturrilha, composta pelos músculos sóleo e gastrocnêmio, é uma dessas bombas periféricas que contribuem para o funcionamento pleno do corpo, auxiliando no retorno do sangue.
Segundo o cardiologista Carlos Rassi, coordenador do Centro de Cardiologia do Hospital Sírio Libânes em Brasília, um dos trabalhos desses músculos é fazer a impulsão do sangue não oxigenado ao coração, chamado de venoso. "A contração aumenta a pressão do interior das veias das pernas, esvaziando-as. Estima-se que a cada minuto 100ml de sangue das pernas sejam levados ao coração", explica o médico.
Mas, segundo Rassi, não é apenas quando há a contração da panturrilha que o sangue é bombeado, o retorno ocorre de forma ininterrupta, mas há uma intensificação nos momentos de movimentação das pernas. Isso ocorre quando caminhamos, por exemplo.
Esse trabalho é especialmente complexo, pois é preciso muita pressão para impulsionar o sangue contra a gravidade. Por isso, panturrilhas pouco fortalecidas podem levar a diversos problemas ligados à circulação sanguínea do corpo. "Panturrilhas fracas podem propiciar o surgimento de varizes, sensação de peso ou cansaço e inchaço nos membros inferiores, principalmente no fim do dia", detalha Carlos Rassi.
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Mau funcionamento
São muitas as causas para o mau funcionamento do músculo da panturrilha: vida sedentária, colesterol alto, tabagismo e diabetes, por exemplo. “Toda condição que cause imobilidade e falta de fortalecimento da musculatura da panturrilha pode resultar em um desempenho ineficiente dessa bomba”, explica a cirurgiã vascular Camila Helena Oliveira.
Além disso, a obesidade, ou excesso de peso, pode dificultar a circulação, uma vez que gera sobrecarga nas pernas e, muitas vezes, limita a locomoção do indivíduo. “Quando os músculos não são utilizados regularmente, a eficácia da bomba muscular pode ser reduzida”, detalha a profissional.
Camila Helena ainda cita lesões e condições neurológicas que afetam a movimentação como fatores que interferem na capacidade de os músculos se contrariem eficientemente.
“Esses fatores podem levar a problemas de circulação, como varizes ou até mesmo aumentar o risco de coágulos sanguíneos (trombose venosa profunda)”, explica a médica. Essa condição pode evoluir para embolia pulmonar, que, a depender da sua extensão e se não for tratada precocemente, pode causar uma sobrecarga cardíaca e ser fatal.
Prevenção
Para que as panturrilhas consigam trabalhar de forma plena, algumas práticas são indicadas. Exercícios físicos para fortalecer e movimentar os músculos, como corridas, caminhadas ou ciclismo, são recomendados pela cirurgiã Camila Helena. Além disso, elevação das pernas para diminuir algum inchaço e para potenciar a circulação são medidas interessantes nessas situações.
Varizes
As varizes, veias dilatadas que se desenvolvem embaixo da pele, também podem estar relacionadas ao mau funcionamento da bomba da panturrilha. O sangue não circula de maneira ideal e há uma sobrecarga das veias na região.
Mesmo que o aparecimento também esteja ligado a uma tendência genética, a pressão da coluna de sangue causada pela falta de fluxo sanguíneo adequado pode favorecer a dilatação das veias. “Com o passar do tempo, essa parede venosa pode ceder à pressão sanguínea e se dilatar de forma a não se recuperar mais”, explica o cardiologista Eduardo Toledo.
Evitar o aparecimento dessa doença crônica progressiva é um trabalho difícil, visto que a genética influencia muito, mas com a adesão de bons hábitos, é possível retardar a condição. “Uma vida saudável, exercícios, boa alimentação e evitar a obesidade são fundamentais para evitar as complicações das varizes e a perda da qualidade de vida", afirma o cardiologista.
Palavra do Especialista
Quais são os outros métodos para retardar o aparecimento das varizes?
Há a possibilidade do uso de meias elásticas. Estas estão cada dia mais bonitas e confortáveis. A compressão promovida por essas meias melhora a performance muscular, o que impede que um volume de sangue fique estagnado nas pernas. Seu uso durante o dia também retarda o aparecimento das varizes, principalmente nas pessoas que já têm histórico familiar.
Quais são os tratamentos para varizes?
O tratamento varia conforme o estágio da doença. O primeiro é o aparecimento dos “vasinhos”, pequenas veias de cor vermelha ou azul, bastante superficiais na pele. Para esses casos, a preferência é a escleroterapia feita por injeções ou o laser transdérmico — múltiplos “tiros” de laser sobre o trajeto dos vasos ou a associação dos dois. No segundo estágio, já aparecem as varizes propriamente ditas, veias de mais de 3mm de calibre, azuladas, tortuosas e que fazem saliência na pele. Nesses casos, existem três possibilidades: a cirurgia propriamente, a ablação não térmica e a ablação térmica. Tanto na ablação térmica quanto na não térmica, o objetivo é provocar a obstrução total dessa veia doente que, após algum tempo, torna-se uma cicatriz imperceptível abaixo da pele.
A idade também está relacionada com as varizes?
Sim, está. O tempo de vida é um grande fator nessa condição. Quanto mais idosa a população, maior o risco de apresentar varizes. Após os 70 anos praticamente todas as pessoas apresentam algum sinal da doença.
Eduardo Toledo Aguiar é cirurgião vascular e angiologista
*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte