Especial

Alma sertaneja: no quadradinho, amantes do campo vivem a cultura rural

Em meio ao amontoado de culturas que cercam Brasília, a estética interiorana das regiões ao lado faz parte da vida de muitos que vivem no quadradinho. Música sertaneja, bota e chapéu, galinha caipira e pequi são algumas das várias características que conquistam quem aprecia o estilo rural de viver

O chapéu de couro, o longínquo som do berrante, que se mistura ao bufar do gado, e o típico cheiro de fazenda que consiste na amálgama do esterco com a ração dos animais. Para alguns, descrição de um cenário de férias; para outros, rotina do dia a dia, do modo de viver.

No decurso dos séculos, as coisas inevitavelmente mudam — paisagens se transformam e os costumes antes considerados tradicionais tornam-se incomuns, virando apenas parte das histórias contadas pelos mais velhos, na tentativa de preservar na memória das próximas gerações os hábitos dos antepassados.

Contudo, existem pessoas que lutam o máximo que podem para preservar a tradição. No universo sertanejo, a herança cultural tem força — seja na moda, na música, seja na culinária, os costumes são comumente partilhados entre as gerações. As histórias que a Revista conheceu trazem personagens que, de maneiras diferentes, cultivam uma paixão que nasce do mesmo ponto de partida — a cultura sertaneja.

Uma paixão herdada

Carlos Vieira/CB - As amigas Maria Isabela, Gabriela e Luna (atrás): paixão pelo country

As amigas Maria Isabela Piau, 15 anos, Gabriela Alves, 20, e Luma Luanda, 21, moradoras de Planaltina-DF, compartilham não apenas o lugar em que moram, mas também o fascínio pela cultura sertaneja. Crescidas passeando em sítios e fazendas e acompanhando os mais velhos nas tarefas rurais, se declaram amantes de tudo que envolve esse estilo de viver. Botas, chapéus, cavalos e a natureza são apenas alguns dos vários assuntos que costumam uni-las.

Maria Isabela nasceu em Planaltina-DF e desde bebê costumava visitar o sítio do avô, na região, com os pais e os irmãos. Depois de longos anos indo ao local apenas aos fins de semana, quando tinha 11 anos, passou a morar no sítio. Durante os dois anos em que viveu na companhia do avô, levantar cedo para preparar o café, tirar leite das vacas, ajudá-lo a cuidar dos animais, tratar os porcos e limpar os chiqueiros fazia parte da rotina da menina. No final de semana, era pura diversão: Isabela recebia os primos e juntos andavam a cavalo e tomavam banho de rio.

Orgulhosa, Isabela conta que ter crescido em contato direto com a natureza foi muito importante para si. "Ter crescido assim significa muito para mim. Andando de cavalo, tomando banho de rio, ouvindo os pássaros cantarem enquanto estava deitada na rede… não tem coisa melhor. Agradeço muito por fazer parte de tudo isso!"

Luma Luanda vem de uma família do interior — os avôs paterno e materno nasceram e foram criados na roça. A estudante conta que cresceu frequentando a fazenda dos pais, na cidade de Água Fria de Goiás, e que eles a ensinaram a andar a cavalo ainda criança. Aos 4 anos, a menina cavalgava sem auxílio.

O amor pelo meio rural é tão grande que vivenciar a experiência ao lado dos amigos e dos familiares não foi suficiente. Luma quis expandir o apreço de alguma maneira. Decidiu, com o apoio dos pais, que são formados em zootecnia, cursar agronomia. "Atualmente, estou me graduando em agronomia pela UnB e gestão pública pelo Ceub. Amo a área e as mil possibilidades que ela pode me trazer. Pretendo seguir na profissão trabalhando diretamente com a lavoura e os produtores."

O caso de Gabriela Alves não é muito diferente. Cresceu frequentando a fazenda da mãe e dos familiares, em contato com a natureza, vestida com calças, botas e sempre acompanhada do chapéu. A música sertaneja é a trilha sonora de todos os momentos com a família — a rádio, o som de fundo das rodas de conversas.

Para ela, viver o estilo sertanejo é honrar as próprias raízes, valorizar os simples momentos e ter a humildade de saber reconhecer que, apesar de muitas pessoas colecionarem diversos diplomas, isso jamais anulará o grande conhecimento dos trabalhadores do campo. Ainda no ensino médio, Gabriela fez um curso integrado de agropecuária no Instituto Federal de Brasília (IFB) e, atualmente, é estudante de agronomia, na mesma instituição.

E é nas vestimentas que cada uma deixa transparecer a identidade cultural que herdaram da família. Independentemente do destino que vão, as botas, os chapéus e os cintos de grandes fivelas as acompanham. Além de usar as composições no dia a dia para assistir às aulas, as meninas frequentam eventos temáticos — cavalgadas, rodeios, festas e shows — sempre vestidas do jeito que amam, esbanjando personalidade.

Para escolher e montar os looks que usarão no dia a dia, contam que costumam usar o Pinterest como referência e têm Manu Freitas, uma influenciadora do ramo, como grande inspiração.

Carlos Vieira/CB - 07/09/2023 Crédito: Carlos Vieira/CB/DA Press. Brasília, DF. Revista. Moda Agro.

Um ícone country em Brasília

Reprodução/Intagram: freittasmanu - Filha de pai mineiro, nascido em Patos de Minas, e mãe goiana, criada no interior do Goiás, a influenciadora é neta de pecuarista e, logo que nasceu, se viu envolvida nas raízes culturais da família

Manu Freitas, 29 anos, é brasiliense e influenciadora do ramo sertanejo. Em seu perfil no Instagram, acumula cerca de 170 mil seguidores e posta diariamente recortes de seu dia a dia, com looks na estética western, presenças em rodeios, eventos e restaurantes countries. Mas a relação de Manu com o meio rural está muito longe de ser vínculo apenas profissional. A história vem de berço, herdou a essência do sertanejo da árvore genealógica.

Filha de pai mineiro, nascido em Patos de Minas, e mãe goiana, criada no interior do estado, a influenciadora é neta de pecuarista e, logo que nasceu, se viu envolvida nas raízes culturais da família. Cavalos, gados, botas e rodeios montaram o cenário da infância da menina. Conta com orgulho que, quando criança, ao lado da irmã mais velha, viu a mãe receber o título de primeira mulher a montar em um touro na história do rodeio de Presidente Olegário, município do noroeste de Minas.

A marca de botas country da família (@botasmangalarga) também contribuiu para que a aproximação de Manu com o meio rural fosse mais intensa. Ela sempre trabalhou ao lado dos pais e desde criança fazia questão de estar envolvida nos negócios familiares. Entretanto, iniciou o próprio legado no ramo, em 2017, após a mãe sofrer um AVC e ficar impossibilitada de acompanhar o marido nas viagens que faziam para visitarem os clientes e venderem as botas no atacado.

"Eu tinha acabado de me formar em direito, no final de 2016, e a gente teve que parar tudo para iniciar os cuidados de reabilitação com ela. E vi a empresa da família praticamente fechar as portas." A influenciadora conta que as viagens de negócio ficaram inviáveis para o pai, que precisava permanecer em casa para cuidar da esposa. Naquele momento, Manu teve a ideia de vender a botas em um site, somente no varejo.

Para ajudar a impulsionar as vendas, a influenciadora resolveu abrir a conta privada que tinha no Instagram para postar fotos usando os acessório. Postou, então, um registo montada em uma mula que tinha ganhado do pai, e, de repente, viu as fotos viraliarem e passearem por diversas páginas de moda country. Percebeu no assombroso número de likes a oportunidade de repaginar o negócio e ajudar a família. Sugeriu ao pai que passasse a ser garota propaganda da marca, divulgando os produtos em seu perfil no Instagram.

Manu passou a conciliar os trabalhos no escritório com as fotos que produzia para as redes sociais, mas foi em 2019 que começou a crescer de fato. "Nos fins de semana, a gente ia para o rancho, fazer cavalgada, e aí eu registrava e postava os momentos em família, ao lado dos animais. O perfil foi crescendo, a galera foi chegando, e a gente lançou no site modelos de botas mais modernizadas, e a roda foi girando…"

Apesar de atualmente ser conhecida principalmente como influenciadora do ramo da moda country, Manu conta que a paixão pelo sertanejo transcende o modo de vestir. "É a minha vida, minha essência, minhas raízes, minha família, então, é algo que faz parte de mim."

A música também está presente desde sempre na família. A influenciadora relembra viagens que fazia quando pequena e conta que, no som do carro, tocava apenas CDs de Leandro e Leonardo, Tião Carreiro e Pardinho e Gino e Geno — dupla favorita do pai e que também se tornou a favorita dela, até os dias atuais.

Reprodução/Intagram: freittasmanu - xx

Manu conta que a sensação de estar nos eventos voltados para o público sertanejos é indescritível. "Toda vez que vou a Barretos, por exemplo, na hora do rodeio, eu ligo para minha mãe de vídeo e choro muito, porque é uma coisa que ela gosta muito e, hoje, não consegue mais me acompanhar, então mexe muito comigo. Ter essa relação tão forte e genuína com o meio é o que realmente faz meus olhos brilharem e aquece o meu coração."

Perguntada sobre como se sente em saber que influencia meninas que se identificam com o estilo country, mas que se sentem muitas vezes inseguras em se vestir assim, Manu declara que é uma honra para ela. "É uma uma tecla que eu sempre bati, principalmente por morar em Brasília e me vestir dessa forma, porque aqui, na moda, é uma região zero influenciada pelo meio. Não é como no interior de São Paulo, Mato Grosso e Minas. Lá, é comum, mas aqui, às vezes, se você sai de cinto, bota e chapéu, o pessoal acha que você tá fantasiado."

A jovem acredita que, atualmente, a sociedade tem aceitado melhor as diferentes formas de se vestir, sobretudo a forma sertaneja. "Eu acho que hoje o que tem influenciado muito é o cenário musical. A gente tem nomes como a Ana Castella, que atualmente é uma das grandes artistas do país, uma menina tão nova, mas sempre muito fiel à essência dela.

E a influenciadora deixa um conselho a todos que têm vontade de se apresentar da maneira que gosta, mas que hesita por temer os julgamentos alheios: "Eu acho que você, na sua originalidade, tem que influenciar o seu meio. Não interessa se você tá num meio country ou não, é daquilo que você gosta? É aquilo que você é? Então seja aquilo e pronto, acabou."

Tendência Western Core

Se você não vivencia o estilo de vida, mas gosta da maneira sertaneja de se vestir, Márcia Santos, CEO da Closet Collection e influenciadora de moda e beleza e a stylist Lorena Maria Ribas deixam algumas dicas:

- Abuse do estuário com franjas, abundante uso de couro, cintos com fivelas distintas, chapéus e botas estilo cowboy.

- As peças em couro, franjas, chapéus e botas de cowboy são as principais características da trend. As estampas de animal print e a textura de camurça também são marca do estilo sertanejo.

Peças que não podem faltar em um armário de estética country

- Peças em camurça e couro

- Jaquetas, saias, coletes e calças com franjas

- Cintos com fivelas bem marcantes

- Botas e chapéus de Cowboy

- Flanela

Soltando a voz

"E nessa loucura, de dizer que não te quero, vou negando as aparência disfarçando as evidências, mas pra que viver fingindo, se eu não posso enganar meu coração? Eu sei que te amo!..." Independentemente do seu gosto musical, da idade ou de onde mora, é muito provável que tenha cantado tais versos. Afinal, a música Evidências, na voz de Chitãozinho e Xororó, é conhecida popularmente como "hino nacional brasileiro".


A música sertaneja, que começou em 1920, como música caipira, ganhou novas facetas no decorrer do tempo. Inicialmente, sertanejo raiz; depois, sertanejo romântico; mais tarde, sertanejo universitário; e, na última década, surge um novo conceito, o feminejo. Em cada uma das versões em que performou, o estilo foi considerado um sucesso, a ponto de, inclusive, músicas da primeira fase serem amplamente ouvidas nos dias atuais.


Arthur Luiz Cardoso, diretor da Rede Clube FM Brasil, conta que a programação da rádio é predominada pelo sertanejo e que os ouvintes recebem isso muito bem. "Sempre, em todas as métricas, a música sertaneja está no topo, entre as mais pedidas. O estilo musical mais pedido e apreciado pelo ouvinte da Rede Clube FM Brasil, nas nossas 39 emissoras espalhadas no país, é o sertanejo."
O diretor explica que existe uma tradição da música sertaneja na região Centro-oeste, com grande influência nordestina e do Sul. "A gente não pode esquecer que nós estamos no meio de Goiás, que é uma região que gosta muito de música sertaneja. Então, o brasiliense aprecia bastante, e o segmento só cresce."


Pouca idade, muito talento

 

Divulgação/Alex Matos e Luciano - Aos sete anos de idade os meninos já arriscavam nos acordes do violão


Alex Matos e Luciano formam uma dupla sertaneja mirim. Os irmãos de 14 e 13 anos cultivam apreço pelo sertanejo desde o início na vida. Nascidos em Brasília, vivem em Ceilândia aos cuidados do pai e da avó. Quando eram mais novos, o pai, Francisco Matos (@alexmatoslucianooficial), trabalhava como DJ, e Alex, o filho mais velho, gostava de observar o pai manuseando os instrumentos. Aos 7 anos, quis fazer aula de violão. Logo que aprendeu os primeiros acordes, passou a tocar as músicas de Cristiano Araújo, cantor que tem como grande inspiração. Zezé di Camargo e Luciano também estavam nos repertórios, pois o pai é fã e, por isso, os irmãos escutavam a dupla desde bebês.


O pai conta, orgulhoso, que Alex fez questão de ensinar o que tinha aprendido ao irmão mais novo, que ainda era pequeno para ir às aulas. Quando Luciano completou 7 anos, passou a frequentar o curso de violão, além de ir com Alex para aulas de canto. "Eles começaram a cantar em festas de vizinhos. Eles passavam o contato para outras pessoas, que nos contratavam para cantar em aniversários também."


Alex conta que o professor, o pai e a avó os incentivaram desde o início, aconselhando para que se esforçassem e não desistissem, pois viam muito potencial nos meninos. "Nós cantamos músicas de outros cantores, mas temos sete músicas autorais. A que eu, particularmente, mais gosto de cantar é uma que o nosso professor compôs e deu para a gente: Será que é amor?", explica Luciano, muito empolgado.


A dupla mora em Ceilândia Sul e estuda no Centro de Ensino Fundamental 14 da cidade. Os shows jamais atrapalham os estudos, muito pelo contrário. Na instituição de ensino, Alex e Luciano são conhecidos como artistas e são convidados para tocar sempre que os eventos culturais acontecem.


Os meninos têm um irmão de 7 anos, Daniel, que já segue os mesmos passos. Aos poucos aprende a tocar os instrumentos e faz participações especiais nas apresentações dos meninos, que contam que, depois da chegada do irmão ao palco, os shows ficaram sem graça quando ele não pode ir.


Um dom que vem das raízes

Divulgação/Flávio Brasil - Nascido em São João D'aliança, o cantor iniciou e consolidou a carreira em Planaltina-DF

Flávio Brasil, 40 anos, nasceu no interior de Goiás, em São João D'aliança, mas cresceu em uma chácara mais distante, a 22km do município. Filho de professora e de pedreiro, adorava ajudar nas tarefas da roça — ordenhar as vacas, apartar os gados e capinar o terreno. O primeiro contato com a música aconteceu por volta dos 8 anos, por meio do avô, que era sanfoneiro e tocava em festas juninas. "Como não tinha escolas de música, aprendi apenas ouvindo a sanfona do meu avô. Quando ganhava de presente de aniversário algum instrumento, como a gaita, ia exercitando."


Quando começou a frequentar a escola e participar das semanas culturais, mostrava o talento com a música. Por não ter uma base teórica, tocava, mas não entendia de notas musicais. Aprendeu somente aos 12 anos, na igreja católica que frequentava, quando a banda do templo o ensinou um pouco da teoria.


Durante as festas juninas, a paróquia promovia shows de calouros e Flávio foi convidado para ensaiar os participantes. Na época, apenas tocava; soltar a voz, somente em casa. Mas a mãe, que admirava o timbre do filho, o inscreveu, sem que ele soubesse, para cantar no evento da igreja e ele acabou por levar o prêmio de segundo lugar.


Percebendo que levava jeito, Flávio passou a cantar. Ensaiava todos os dias, e nos quatro anos seguintes ganhou o prêmio de primeiro lugar em todos os festivais. Foi ali que o garoto percebeu que era exatamente aquilo que queria fazer — cantar. Conciliava os instrumentos com os trabalhos manuais da roça, afinal, o dinheiro que recebia dos eventos em que se apresentava não era suficiente para se sustentar.


Aos 15 anos, se esforçou e juntou dinheiro para comprar um teclado, que era vendido apenas em Brasília. Foi a uma banca de jornal olhar os anúncios de teclados que eram publicados no Correio, e, folheando o jornal, viu algo tentador — um anunciante procurava um tecladista. "Fui correndo à minha mãe e disse que talvez eles já tivessem o teclado, então eu poderia trabalhar com o deles e guardar o dinheiro que havia juntado." A mãe não gostou da proposta, mas, depois do menino pedir insistentemente para que ela contatasse o anunciante, a mulher fez a ligação.


O anúncio havia sido feito por uma dupla sertaneja, que explicou que tinha, sim, um teclado disponível.Os dois conversaram com a mãe do garoto e decidiram viajar até a cidade do interior para conhecer Flávio. "Eles explicaram que trabalhavam na semana, mas queriam fazer alguns shows sem fins lucrativos no fim de semana. Eu não sabia o que significava essa palavra e achei que eu ganharia muito dinheiro (risos)."


O menino, que estava no último ano do ensino médio, arriscou tudo e viajou para Brasília. A dupla ajudou a comprar um teclado novo e Flávio passou a morar com o tio em Planaltina-DF e a estudar numa escola próxima. "Eu comecei a tocar para várias duplas, grupos de pagode, grupos de rock, tudo que aparecia eu tocava."


A inspiração do menino, que na época era conhecido como Flavinho dos Teclados, era o cantor Frank Aguiar, a dupla Gino e Geno, Falamansa e todos que tocavam o estilo mais animado do forró e do sertanejo. Quando passou a tocar sozinho nas casas de show, sentiu a necessidade de ter um nome artístico, então um amigo deu a ideia de Flávio Brasil.


"Eu voltava à minha cidade para cantar. Lotava, porque as pessoas ficavam curiosas para saber quem era aquele menino que saiu do interior e já estava fazendo shows." Flávio se estabeleceu em Planaltina-DF e passou a utilizar as rendas dos shows para investir na própria carreira. Não vivia apenas da música, mas aproveitava os instrumentos que tinha para ganhar dinheiro alugando para outras pessoas.


O nome de Flávio foi impulsionado quando uma das duplas sertanejas com quem ele havia trabalhado gravou uma de suas composições, Eu vou te buscar, que estourou no Brasil inteiro. "Vir para Brasília foi enfrentar uma luta, era difícil peitar a cidade grande, menor de idade, sozinho, mas fui em busca do meu sonho."


Ao longo dos anos, Flávio Brasil evoluiu tanto nos instrumentos, quanto nas músicas e nas composições, firmando a própria carreira. Em junho de 2020, durante a pandemia, com o novo formato de shows, por meio das lives, teve o nome viralizado nas redes sociais quando o cavalo em que estava montado no início do show evadiu do palco com menos de 40 segundos de apresentação, levando o cantor para fora. A live ficou conhecida como "a live mais rápida da história".


O cantor ganhou seguidores e fechou muitas parcerias para divulgar marcas em seu perfil no Instagram, mas, infelizmente, meses após a live, sofreu um acidente. Flávio foi colocar fogo em alguns materiais da chácara e não sabia que havia frascos com combustíveis em meio aos entulhos, então a fogueira explodiu e o atingiu, deixando-o com queimaduras de primeiro, segundo e terceiro graus. Para se recuperar, teve que dar uma pausa nos trabalhos e, em consequência, acabou perdendo a oportunidade de algumas parcerias.


Hoje, curado dos ferimentos e seguindo com os trabalhos, acumula 90 mil seguidores no Instagram e continua os trabalhos, viajando o Brasil e realizando shows em cidades dos interiores. "Atualmente, o que mais me inspira a cantar é a alegria de ver sorrisos. Para mim, a música é a minha vida. Primeiramente Deus, depois a música e a minha família."


Entendendo a origem


Daniel Magalhães, professor de história do Colégio Objetivo DF, explica que o povo sertanejo surgiu originalmente na região do interior do Nordeste, por volta do século 16, justamente no momento em que acontecia a ocupação do interior do país.


"Essas pessoas percorriam o interior em busca do próprio enriquecimento, tendo em vista que todo o litoral estava ocupado com a plantação de cana de açúcar ou com a extração do pau-brasil. Então, aos poucos, vão adentrando o território brasileiro para fazer essa exploração. E é claro que essa população sertaneja vai surgir a partir da miscigenação, principalmente, entre latifundiários, proprietários rurais e os povos indígenas do interior."


O professor contextualiza que a sociedade está em constante transformação e que os avanços tecnológicos já chegam nessas regiões interiorizadas, modificando um pouco o meio rural, sobretudo através das transformações por meio do capitalismo industrial. Mas ressalta que o preconceito com a cultura do interior ainda existe quando comparado com os grandes centros urbanos.


"Ainda há muito preconceito, pelo fato de ser uma cultura mais voltada para o ambiente rural. Quando você escuta as músicas, por exemplo, não um sertanejo universitário, porque que já vem com uma mudança desse olhar sobre o sertanejo, com uma pegada mais urbanizada. Mas o sertanejo raiz, as rodas de viola, cantam as dores e o prazer de uma vida mais bucólica."


O sabor da roça

 

Divulgação/Raiz caipira - O restaurante foi pensado com o objetivo de exaltar a vida no campo

Falar do meio rural, regiões interiorizadas e cultura sertaneja sem citar a culinária é inaceitável. O aroma do pequi, o cheiro da galinha caipira e o gosto das farofas são inconfundíveis e logo vêm à mente quando se fala do estilo de vida.


O restaurante Raiz Caipira, localizado na Asa Sul, foi inaugurado há quatro anos e, desde o início, pensado com o objetivo de exaltar o lado simples da vida, as lembranças da fazenda, a história do mundo sertanejo e os pratos típicos, trazendo o clima da cultura para o centro urbano.


Sheley Gabriella, coordenadora de marketing do restaurante, explica que, desde o princípio, a ideia de ter um restaurante com a temática raiz foi bem recebida pelo público. "É uma casa que faz as pessoas se sentirem na fazenda e no quintal da roça do avô, da avó, da tia, da mãe, do pai, então teve uma ótima receptividade, justamente porque a gente puxa uma veia bem interiorana, desde a culinária até a música."


O cardápio do espaço é composto inteiramente por pratos caipiras, como já entrega o nome. Sheley conta que a tradicional churrascada, a galinha caipira e a rabada são os principais destaques nos pedidos, mas que a feijoada não costuma ficar para trás.

Divulgação/Raiz caipira - A galinha caipira é um dos pratos mais pedidos do cardápio do restaurante


A playlist? Inteiramente sertaneja. Aos sábados e domingos, música ao vivo, moda de viola clássica, no estilo Almir Sater. Às sextas-feiras, o almoço é apreciado ao som de sertanejo universitário ao vivo. No instagram, @restauranteraizcaipira, o restaurante acumula quase 43 mil seguidores, evidenciando o apreço de quem vive em Brasília pelo paladar caipira.

RECEITA FEIJÃO TROPEIRO DE ARADO

Chef Altino Moura - Feijão tropeiro de arado, do chef Altino Moura

Ingredientes

500g de feijão carioca

1/2 maço de salsinha picada

1/2 maço de cebolinha picada

4 folhas de couve picadas finas

200g de bacon em cubo

100g calabresa em cubo

200g de linguiça de porco caseira cortada em média a 5cm (se preferir, pode ser apimentada)

200g de costelinha suína temperada a gosto, cortada em pequenos pedaços (sugestão de tempero: alho, sal e pimenta-do-reino)

3 colheres de banha de porco

1 cebola comum picada

1 cebola roxa em rodelas finas

5 dentes de alho picado

200g de torresmo em cubo ou tiras

1 pimenta dedo-de-moça pequena picada

100g de farinha de mandioca amarela torrada

100g de farinha de milho

Pimenta-do-reino a gosto

Alho frito a gosto

Sal a gosto

Pimenta calabresa a gosto

Modo de preparar

Cozinhe o feijão em fogo baixo até ficar al dente. Escorra e reserve o feijão.

Frite o torresmo até pururucar e reserve-o.

Aqueça o arado (ou panela) e coloque, já quente, a banha de porco, a costelinha e a linguiça e frite até que fiquem dourados. Em seguida, acrescente o bacon em cubos e a calabresa em cubos. Frite em fogo baixo até dourar.

Junte a cebola picada, os dentes de alho amassados, o feijão e frite por aproximadamente mais dois minutos, sempre mexendo delicadamente para que todos os ingredientes peguem os temperos.

Para finalizar, desligue o arado e, em seguida, acrescente a couve, a cebola roxa, a pimenta-do-reino, a pimenta calabresa, a pimenta dedo-de-moça, a salsa e a cebolinha, deixe mornar.

Finalização

Com todo o processo de morno para quente, acrescente as farinhas aos poucos até tudo ficar úmido. Acrescente o torresmo e misture, experimente antes de colocar o sal e acerte a gosto.

Sugestão de decoração

Coloque alguns torresminhos sobre a superfície e salpique cebolinha, salsinha e alho frito.

De lado, coloque algumas pimentas dedo de moça cortadas em rodelas finas.

Fonte: Altino Moura, gastrólogo pós-graduado em cozinha brasileira e empreendedorismo, proprietário do Moura Prime Buffet

*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte

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