Medicina

Contracepção: desinformação é barreira para planejamento familiar

Ainda que haja um leque de métodos disponíveis no mercado, pesquisa conduzida pelo Ipec revela que 62% das mulheres que já engravidaram no país tiveram pelo menos uma gravidez não planejada

São Paulo — Com o passar dos anos e, consequentemente, com as transformações na sociedade, o conceito de família sofreu algumas metamorfoses. Antes compostas por numerosa quantidade de filhos, tornaram-se cada vez menores e construídas a partir de diferentes arranjos. A gama de contraceptivos disponibilizados pela medicina e as indústrias farmacêuticas contribuem positivamente para o planejamento familiar. Entretanto, pesquisas apontam que a desinformação ainda é uma barreira para que a estruturação desejada seja bem-sucedida.

O 26 de setembro marca o Dia Mundial da Contracepção. Um dos fatores mais importantes para a prevenção de uma gravidez não planejada é a educação. A data tem como objetivo disseminar informação acerca do acesso aos métodos contraceptivos e conscientizar sobre o direito ao planejamento familiar.

Segundo pesquisa realizada pela divisão farmacêutica da multinacional alemã Bayer em parceria com a Federação Brasileira das associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) e conduzida pelo instituto Ipec, 62% das mulheres que já engravidaram no país tiveram pelo menos uma gravidez não planejada.

A deficiência de informação sobre cada um dos métodos e os mitos disseminados entre a população são algumas das principais barreiras que, mesmo com opções eficazes no mercado, impedem que as gestações não planejadas deixem de acontecer.

Eli Lakryc, ginecologista e vice-presidente médico da Divisão Farmacêutica da Bayer no Brasil e na América Latina, explica que dos sete pilares de autocuidado fixados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), buscar informações sobre a saúde é o primeiro.

Entendendo os métodos

Atualmente, existe uma gama enorme de métodos contraceptivos disponíveis às pessoas que têm útero. Mas, mais do que se informar sobre cada um deles, é de suma importância consultar um especialista que dirá qual é o método mais adequado, pois ele pode ser diferente a depender de cada caso.

A médica ginecologista Luciana Taliberti recebe diariamente em seu consultório mulheres que buscam inserir o contraceptivo na rotina e deixa claro a importância de entender que cada caso tem as suas particularidades. A especialista explica que, para uma mulher que tem a pele acneica e os cabelos mais oleosos, a pílula anticoncepcional pode ser o método mais benéfico, mas se a paciente tem problemas com a memória e poderá esquecer de tomar a pílula, essa, automaticamente, deixa de ser a melhor opção.

"A gente tem a pílula contraceptiva de uso contínuo, a pílula anticoncepcional que tem pausa, possibilitando que a mulher escolha se quer ou não menstruar, além da camisinha. E eu reforço que, para mim, a camisinha é um método que deve ser utilizado paralelamente com qualquer outro contraceptivo", reforça.

A especialista destaca que, apesar de a camisinha ter um índice de falha por depender do usuário colocá-la da maneira certa, é imprescindível que seja usada para a prevenção de Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs). "A gente vê na pesquisa o dado de que 82% dos entrevistados não utilizam a camisinha, e isso me aflige como médica que cuida da saúde da mulher, pois isso é um grande risco para as ISTsw."

Os Dispositivos Intrauterinos (DIUs), métodos de longa duração, são divididos em hormonais e não hormonais e altamente eficazes em caso de pacientes que, para além de não engravidar, desejam ter a liberdade de não menstruar. Também é indicado em casos de mulheres que têm sangramentos uterinos anormais acompanhados de muitas cólicas, tendo a qualidade de vida afetada e podendo sofrer de anemia.

A injeção anticoncepcional também é um método contraceptivo muito utilizado que pode ser aplicado mensalmente ou trimestralmente, entretanto é considerado um método de alta carga hormonal.

Mais segurança

Nos casos em que a gravidez realmente não faz parte do planejamento para o momento, os métodos de longa duração são considerados os mais eficazes e os mais indicados. Há, hoje, três métodos de longa ação: o implante e os DIUs, que podem ser de cobre ou do tipo hormonal.

O implante é uma espécie de bastão plástico subdérmico, que é inserido por um médico debaixo da pele do braço da paciente. Ele libera hormônios, que atuam no organismo como um todo e impedem a ovulação, garantindo a contracepção por até três anos. É importante ressaltar que o implante contraceptivo nada tem a ver com o implante para fins estéticos, conhecido como chip da beleza — apesar da confusão comumente vista na internet, esse não é um método contraceptivo.

O DIU de cobre é uma estrutura em forma de "T" com fios de cobre. Alocado dentro do útero, o dispositivo causa uma resposta inflamatória com função contraceptiva e libera íons de cobre que são tóxicos aos espermatozoides, com contracepção por até 10 anos. Essa opção é altamente eficaz, mas acumula frequentes queixas, por parte das pacientes, de aumento do fluxo menstrual.

No caso do DIU hormonal, existem hoje dois tipos, o mirena e o kyleena. O mirena acumula mais hormônios e há 97% de chances de a paciente entrar em amenorreia, ou seja, parar de menstruar. O kyleena tem menos hormônio, mas 50% das pacientes ainda menstruam mesmo utilizando o contraceptivo.

Não existe uma idade mínima para que o DIU seja colocado. Alguns profissionais fazem a colocação em pacientes que ainda não tiveram relação sexual, por exemplo, nos quadros em que o período menstrual gera dor, desconforto e risco de anemia. Contudo, existem profissionais que fazem a colocação apenas em pacientes que têm vida sexual ativa.

Esquecimento

A estudante de educação física Brenda Caetano, 21 anos, não pretendia ter filhos, mas sabia que, caso mudasse de ideia, recorreria à adoção. Brenda, com o auxílio de uma ginecologista, optou por utilizar a injeção anticoncepcional mensal como método contraceptivo e, após iniciar um relacionamento sério, decidiu, com o companheiro, que não utilizaria mais preservativo durante as relações sexuais.

Em setembro do ano passado, a estudante acabou esquecendo de tomar a dose mensal e, quando lembrou, um mês depois, fez uso imediatamente. O que ela não sabia é que o esquecimento de apenas uma dose havia sido suficiente para que a gravidez não planejada acontecesse.

gabiphotograh - Brenda engravidou após esquecer de tomar a dose mensal da injeção anticoncepcional

Brenda começou a se sentir mal, foram várias idas ao hospital, investigação de endometriose e exames ginecológicos, mas somente após uma ultrassom intravaginal a gestação, de 8 semanas e 3 dias, foi descoberta.

A estudante se preveniu com as injeções por três anos e na única vez que esqueceu de tomá-la, teve o planejamento desfeito. Ela não se arrepende de ter tido Lucca, de 2 meses, mas o caso de Brenda serve de alerta. Se tivesse optado por um método de longa duração como o DIU, que tem índice de falha de apenas 0,1%, junto à camisinha, certamente a gravidez não teria acontecido.

Pílulas de emergência

A pesquisa realizada pelo Ipec aponta que 33% das mulheres entrevistadas que fazem uso da pílula anticoncepcional precisaram utilizar a pílula do dia seguinte em algum momento, por terem esquecido de seguir o contraceptivo diário. Nesses casos, os métodos de longa duração evitariam a ingestão indiscriminada. “As pílulas do dia seguinte possuem 1,5mg do hormônio levonorgestrel, quantidade bastante alta quando comparada a outros métodos contraceptivos. Para efeitos de comparação, uma única dose equivale a meia cartela da pílula anticoncepcional padrão. Por isso, o uso indiscriminado causa efeitos colaterais consideráveis no organismo, como náuseas, sangramentos fora do período menstrual, dores abdominais, cansaço excessivo, dores de cabeça, sensibilidade nas mamas e vertigens”, afirma o ginecologista Eli Lakryc.

Os principais métodos anticoncepcionais

Anticoncepcionais não hormonais
São aqueles em que a contracepção não utiliza hormônio. Dividem-se em três tipos:

Muito eficientes, eficientes e pouco eficientes.


Muito Eficientes
•DIU: índice de falha de 0,1%
•Vasectomia e laqueadura:
índice de falha de 1%
•Abstinência sexual: índice de
falha de 0%
Eficientes
•Camisinha
•Diafragma
•Camisinha feminina
•Todos têm índice de falha
de 8% a 20%
Pouco eficientes
•Espermaticida: índice de falha
de 20%
•Método do muco cervical:
índice de falha de 10% a 20%

•Tabelinha: índice de falha de
10% a 20%
•Coito interrompido: índice de
falha 15% a 20%

Anticoncepcionais Hormonais
São aqueles em que a prevenção da gravidez é controlada por hormônios.
Divide-se em muito eficientes e eficientes.


Muito eficientes
•Pílula
•Injeção anticoncepcional
•Sistema intraturino liberador de
levonorgestrel (DIU Hormonal)
•Implante
•Anel vaginal
•Adesivo anticoncepcional
•Todos têm índice de falha de
0,1%
Eficientes
•Pílula do dia seguinte: índice
de falha é de 5% a 20%

*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte

*A estagiária viajou a convite da Bayer

 

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