A quantidade de informações sobre cabelos cacheados, crespos e ondulados não era alta há algum tempo, só o que se via eram produtos para cabelos lisos. A pressão dos padrões criou gerações de crianças com cabelos cacheados sem acesso a produtos e tratamentos adequados para os seus fios. Foi na década passada que a onda de empoderamento impulsionou o mercado de produtos para esse público. "Estamos diante de uma geração mais segura, crianças que se sentem confortáveis em usar o cabelo natural", explica Helena Martins, terapeuta capilar especialista em cabelos com curvaturas, que começou a aprender sobre o assunto para melhorar os cuidados com os próprios cachos. Dona do salão naturalista Ondas e Cachos, ela procura escutar histórias e desejos dos clientes.
Os pequenos são uma parcela muito grande dos clientes, pois Helena acredita ser "importante quebrar esse ciclo de sofrimento e incompreensão que nós, das gerações mais antigas, passamos". Através de um cuidado especializado, procura formar crianças orgulhosas dos seus cabelos.
Para uma rotina adequada, é necessário avaliar os hábitos de cada criança. Helena explica que cabelos cacheados e crespos têm necessidades diferentes, pela anatomia e pelo formato dos fios. "São cabelos que precisam de mais proteção e de mais reposição de nutrientes", ressalta a profissional.
A escolha de produtos também é crucial. O uso de itens com óleos e manteigas é aconselhado por Helena. Eles ajudam a nutrir e umectar os fios, mantendo o ressecamento excessivo das pontas longe do caminho, além de deixá-los fortes e brilhantes.
"Também fazer tratamentos profissionais no salão com frequência, pois os tratamentos profissionais têm maior potencial de limpeza e regulação de pH."
Empresas cosméticas, como a Kenvue, entraram nessa onda de criação de produtos para esses tipos de cabelos, pesquisando como criar linhas perfeitas para crianças. Daniela Campelo, gerente de Marketing da Johnson's Baby, conta que a produção da linha Blackinho Poderoso é fruto de uma necessidade dos consumidores por itens que atendam às particularidades dos seus cabelos. "Foram centenas de pesquisas de desenvolvimento para garantir que tínhamos o produto ideal para a criança brasileira."
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Penteados divertidos
O uso de penteados também é muito utilizado por pessoas com esses tipos de cabelo. Pela versatilidade dos fios, é possível brincar com o cabelo de várias formas. Seja um rabo despojado para os dias mais corridos, o preso lateral ou o famoso coque abacaxi, eles são famosos, principalmente entre as crianças. Mas Helena alerta que manter o cabelo preso por muito tempo causa mais desgaste e fragilidade. Assim, é importante também deixar as mechas soltas, principalmente os mais novos.
"As crianças ainda não têm todas as estruturas desenvolvidas, as glândulas sebáceas ainda não estão desenvolvidas, por isso o cabelo tende a ficar mais fragilizado", explica. Além disso, a manutenção do corte e ter uma rotina de cuidados em casa são outras dicas importantes.
Cuidando no dia a dia
A pequena Alice da Silva chama seu cabelo crespo de coroa e costuma deixar ele sempre solto. A mãe dela, Fabíola Alves, de 40 anos, elogia a boa relação da criança com os fios, orgulhosa da autoestima da filha.
As duas fazem acompanhamento com Helena e antes de encontrar ajuda profissional como a dela, tinham dificuldade de achar produtos adequados para seu tipo de cabelo, tornando o processo de cuidados dos fios mais difícil. Porém, Fabíola sempre persistiu na busca de lidar da melhor forma com o cabelo da pequena.
"Quando comecei a pesquisar quase não tinha nada a respeito. Hoje, temos mais informações", detalha a servidora pública.
Mesmo com todos os obstáculos para encontrar um tratamento adequado, Fabíola acredita que é um mito que os cabelos crespos são difíceis de cuidar. Segundo a mãe de Alice, apesar de ser complicado e exigir paciência no começo, ao longo do tempo, cuidar se torna prazeroso e também uma atividade que ajuda na autoestima, além de se tornar uma atividade em comum entre mãe e filha. "Faz parte da nossa identidade hoje, como se fosse nossa marca registrada. Nos tornamos multiplicadoras", completa Fabíola.
A servidora acredita que ao deixar os cabelos sempre soltos ajudou na identificação da pequena, que hoje em dia adora brincar com os cabelos, utilizando muitos acessórios, como tiaras e laços. Isso ajuda a criança de 9 anos, mesmo com pouca idade, ter consciência da sua beleza e força. "Meu cabelo representa o poder", finaliza Alice.
*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte