Em uma reanimação cardiopulmonar (RCP), os órgãos ficam muito vulneráveis à baixa do fluxo sanguíneo. Com 10 a 30 segundos de assistolia (coração sem bater), o eletroencefalograma já não evidencia atividade, padrão encontrado nos pacientes em morte encefálica. O cérebro tem seu fluxo reduzido a 25% durante o procedimento de reanimação, quando o mínimo estimado para que não aconteça lesão neuronal é de 50%. Após 72 horas que o coração volta a bater, dois terços das mortes são associadas a lesão cerebral secundária à parada cardiorrespiratória (PCR).
Apesar de ser na maioria das vezes imperceptível, os pacientes submetidos à reanimação após uma PCR têm algum grau de consciência. E não são poucos os que relatam experiências sensoriais, memórias antigas, imagens oníricas e até avaliação moral de atitudes tomadas na vida. Recentemente, 25 centros hospitalares nos EUA e na Inglaterra publicaram um estudo cooperativo evidenciando que quatro em cada dez pacientes que sobrevivem a uma PCR têm lembranças ligadas ao evento, também chamadas de experiências de quase morte. Nenhum estudo foi tão detalhado no que diz respeito à sistematização da monitorização eletrencefalográfica em pacientes com RCP, apontando que a atividade elétrica cerebral pode ser recobrada até 60 minutos após o início da reanimação.
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A pesquisa ainda avaliou a capacidade de retenção de memória durante o procedimento. Para isso, os pacientes ouviram, durante a reanimação, através de fones de ouvido, o nome de três frutas e, depois de conscientes e orientados, eram instruídos a dizer se lembravam dos nomes. Mesmo que conscientemente não soubessem dizer a resposta, quando orientados a pensar em três frutas de forma aleatória, muitos acertaram em cheio.
A identificação de biomarcadores associados ao nível de consciência de um paciente durante a RCP pode ter importância futura na discussão do uso ou não de sedação durante o procedimento, já que muitos que sobrevivem apresentam transtorno de estresse pós-traumático. O estudo foi publicado no Ressucitation, periódico oficial do Conselho Europeu de Reanimação.
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Escolhi e listo abaixo quatro experiências relatadas por pacientes após uma RCP e publicadas no artigo original:
“Não estava mais no meu corpo. Eu flutuava, não tinha peso ou materialidade. Eu estava acima do meu corpo e observava o corpo que já não era meu.”
“Eu podia sentir que alguém fazia alguma coisa no meu peito. Não sentia compressões, mas sentia que alguém esfregava forte e era bastante doloroso.”
“Eu fui para uma casa desconhecida. A polícia me pegou e eu pensava como explicar o que eu estava fazendo ali. Caminhei em direção a um lamaçal e, ao sair de lá, eu não estava molhado e meio que me fundi com a calçada. Tinha um pescador cantando e estava chovendo.”
“Lembro de um ser de luz, sentado ao meu lado. Crescia sobre mim uma grande torre de força, irradiando calor e amor. Vi instantes da minha vida, senti orgulho, amor, prazer e tristeza. Foram-me mostradas as consequências da minha vida, como impactei a vida das pessoas que interagi.”
*Ricardo Afonso Teixeira é doutor em neurologia pela Unicamp, professor do curso de medicina do Unieuro e neurologista do Instituto do Cérebro de Brasília