Neurônios em dia

Cinco reflexões que podem ajudar a perdoar e deixar a vida mais leve

Deixar o rancor de lado não é uma atitude fácil, mas, mesmo em situações extremas, deixá-lo para trás é libertador

É difícil discordar de que cultivar o rancor pode deixar a vida bem pesada, não é? Mesmo em situações extremas, deixar esse sentimento para trás é uma grande libertação. O ato de perdoar não é fácil e aqui vão cinco dicas que podem ajudar a interromper a ruminação mental desse sentimento tão negativo. Aqui, falamos não só de perdão a uma pessoa, mas também a um grupo de indivíduos que cometeram injustiças e eventos traumáticos.

1- O maior interessado no ato de perdoar é você mesmo. Em um estudo com mães, que perderam seus filhos por crimes violentos, uma intervenção terapêutica, chamando a atenção para o grande benefício próprio de se buscar apagar ou reduzir o rancor, trouxe resultados bem positivos. Após uma semana da intervenção, elas sentiram-se menos abaladas e com escores de depressão 60% menores. Outros estudos mostraram também que perdoar reduz o grau de ansiedade de quem perdoa.

2- Faça o exercício de se colocar do outro lado. Tente criar uma atmosfera de empatia, imaginando a situação que esse outro lado vivia quando cometeu a ação que você julga, de forma inequívoca, errada ou injusta.

3- Tente modular suas reações ao evento traumático como impulsos de revolta, ondas de raiva e ansiedade.

4- Lembre-se que o tempo é um grande remédio para cicatrizar feridas. Em um momento muito próximo ao evento traumático, o exercício de perdão é mais difícil. Deixar a poeira baixar, às vezes, é o caminho mais acertado.

5- E por último, falo aqui um pensamento português que acredito que pode colaborar sobremaneira em muitas situações do dia a dia em que podemos cair na armadilha de guardar rancor em nossas mentes. Não deveríamos nos martirizar exigindo dos outros aquilo que eles não podem nos oferecer. Com sotaque bem português: Cada qual dá o que tem conforme a sua pessoa.

Anos depois de conhecer essa frase aprendi que, na verdade, ela faz parte de uma quadra bastante popular em Portugal:

Pilriteiro, dás pilritos
Por que não dás coisa boa?
Cada qual dá o que tem
Conforme a sua pessoa.

Em Portugal, há também um ditado muito conhecido que diz a mesma coisa:

Pilriteiro dá pilritos, a mais não é obrigado.

O pilriteiro é um arbusto espinhoso bastante comum em Portugal e dá uma frutinha muito ácida, o pilrito. Pela quadrinha popular, parece que o pilrito não deve mesmo ser uma fruta muito apreciada. Tenho uma teoria sobre frutas exóticas que se pilrito fosse bom mesmo, seu nome seria morango ou banana e seria exportado para todos os cantos do planeta.



Muitas situações que poderiam nos afastar do nosso equilíbrio mental têm a ver com a cobrança e, às vezes, com nossa indignação pelas atitudes dos outros que nos desagradam. É o prestador de serviço que não terminou o serviço direito, é o cara que passa à nossa frente pelo acostamento enquanto estamos parados na fila do engarrafamento, é a moça do caixa do supermercado que é lenta no seu desempenho.

Podemos começar a enxergar esse cotidiano através de uma outra ótica. O cara que fura fila não tem educação e princípios de cidadania. Vamos nos irritar? Brigar? A moça lenta no caixa do supermercado é lenta mesmo e nem foi treinada para ser mais rápida. O mau prestador de serviços pode ter uma história parecida com a moça do supermercado. Antes de reagirmos de forma a perdermos nosso dia, podemos pensar que pilriteiros dão pilritos. Que tal?

*Dr. Ricardo Afonso Teixeira é doutor em neurologia pela Unicamp, professor do curso de medicina do Unieuro e neurologista do Instituto do Cérebro de Brasília