Localizado dentro da Cidade Matarazzo, um complexo que mistura o restauro de edifícios históricos que compunham o hospital e a maternidade Matarazzo com a arquitetura arrojada de uma torre denominada Mata Atlântica, o Hotel Rosewood é um espaço que exalta os sabores e os saberes do Brasil em todos os aspectos. O empreendimento aderiu ao conceito sense of place — ou senso de lugar —, que faz referência à valorização das origens, da arte, da cultura e da gastronomia brasileiras, revolucionando o conceito de luxo e desatrelando-o de padrões internacionais.
"Tudo é feito por brasileiros, com mobiliário, mármore, madeiras, objetos de decoração feitos por artesãos e empresas que extraem matéria-prima da natureza de forma sustentável. Temos o Brasil como protagonista. Tudo foi feito para refletir a cultura brasileira. Não temos nada importado. A brasilidade está na música que tocamos aqui, nos uniformes, nos conceitos mais básicos", explicou o diretor de Marketing e Vendas do Rosewood, Silvio Araujo.
A Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH) vem enxergando o conceito de sense of place como estratégia que agrega valor e competitividade para o Brasil como destino turístico. Segundo avaliação do Conselho Mundial de Turismo, o Brasil está em oitavo lugar no ranking de países com mais atrativos turístico culturais.
"Esse conceito encontra espaço em alguns dos empreendimentos hoteleiros sediados no estado de São Paulo, que não estão posicionados no segmento de luxo, como é o caso do Hotel & Suítes Rosewood. A valorização das artes nativas dos diferentes territórios que compõem o nosso país-continente tende a ser cada vez mais adotada. Afinal, o Brasil precisa dar um fim no conhecido complexo de cachorro vira-lata", destacou Marcos Vilas Boas, vice-presidente da ABIH-SP.
Arte pulsante
Dentro dessa filosofia, o hotel abriga uma coleção de 450 obras de arte, criadas por artistas locais, que se baseiam na multiplicidade da cultura brasileira. Como parte da experiência, o Rosewood oferece um tour guiado pelas obras, que compõem um acervo permanente. Da arte de rua à arte indígena, os trabalhos ocupam todos os espaços da propriedade.
O Rosewood desafiou artistas que antes produziam em menor escala a desenvolverem sua arte para ocupar grandes estruturas. "Antes da produção, fizemos um investimento para ajudar esses artistas a ganharem projeção", explicou Lou Ana Garcia, gerente de Impacto Social do hotel.
Brasília também está representada por meio do brasiliense Virgilio Neto. Ele foi o escolhido para pintar as paredes da Sala Bela Vista, ambiente carinhosamente conhecido como Casa da vovó, por conta da decoração aconchegante com elementos inspirados na residência de muitas avós pelo Brasil. Esse foi o primeiro grande trabalho do artista, nascido na capital do país.
"Foi bem desafiador, pois foi a primeira vez que fiz uma ação direta na parede. Foram três anos de pesquisa, trabalhando com os arquitetos e engenheiros, para entender os conceitos do local", contou Virgilio ao Correio. "Trabalhei com uma ideia de passagem desconstruída, permeada por narrativas de uma forma não linear. Pelo conceito do hotel, fiz uma pesquisa sobre cultura popular, fauna, flora e folclore. Todos os elementos que estão ali têm relação com a cultura e a natureza brasileiras. Por mais que haja um olhar científico, busquei usar um olhar provocativo, misturando elementos, culturas de regiões diferentes, trabalhando contradições de um país muito rico", detalhou o artista.
Periodicamente, artistas são convidados para participar de workshops e encontros com os hóspedes, fazendo intervenções ou rodas de conversa. O artista plástico Sator foi um dos escolhidos para desenvolver workshops para funcionários e hóspedes. Além disso, ele está personalizando uma série de objetos funcionais para o hotel. "Entre os que estou desenvolvendo está o carrinho do mensageiro. Também estamos fazendo workshops para funcionários e para crianças e jovens. Como o hotel tem um lado artístico muito forte, estamos oferecemos essa proposta para os hóspedes também. Para mim, é muito importante que o meu trabalho seja visto por várias camadas da sociedade. É importante conseguir passar a minha mensagem em vários lugares", disse Sator ao Correio.
Outro artista que deixou sua marca no Rosewood é Senk, que pintou o cofre do hotel e é responsável por parte da comunicação visual do spa, ainda não inaugurado. "Para o spa, fizemos cerâmicas que representam o povo brasileiro. Cada prato é feito com uma coloração que representa tons de pele dos brasileiros. São sete tons diferentes", descreveu.
"Quando as pessoas gostam do que elas veem, a arte vai para onde ela tem que estar. A street art é provocativa, tem que ocupar espaços; em São Paulo, ela pulsa. A provocação presente na minha arte vem de uma indignação com alguns aspectos da sociedade. Temos muito a melhorar como cidade, como sociedade e como país. Pequenas provocações fazem um papel positivo na arte. O questionamento tem que estar ali", afirmou Senk.
Responsável pelas obras de arte que decoram um andar inteiro do Rosewood, o artista Caligrapixo começou no grafitismo e, após um extenso período de vivência urbana e pesquisa, passou a pintar quadros, sem deixar de lado o trabalho nas ruas. "Para mim, faz todo o sentido ter minha arte em um espaço como o Rosewood, pois é um hotel que tem uma proposta de valorizar vários estilos diferentes. Meu trabalho tem uma identidade muito grande com a cidade de São Paulo. São pinturas que remetem à cidade. Minha paleta é mais cinza, branco, preto. O cinza representa o concreto daqui. O traço reto também tem inspiração nos prédios de São Paulo. São pinceladas que acontecem naturalmente e acabam remetendo à arquitetura da capital paulista", relatou o artista ao Correio.
Saiba Mais
Inclusão e sustentabilidade
Noções de igualdade de gênero também são inseridos no conceito do sense of place. O Rosewood, por exemplo, possui 53% de mulheres em cargos de liderança. "Temos refugiados no quadro de funcionários, que contratamos por meio de ONGs parceiras. Contratamos ainda pessoas em situação de vulnerabilidade e com menos experiência e arcamos com o treinamento delas", exemplificou Lou Ana Garcia.
Um dos pilares do Rosewood é a sustentabilidade, propósito inserido também como forma de estimular os hóspedes e visitantes a valorizarem o meio ambiente. "Temos pessoas muito influentes aqui, com um alto poder de compra, e a oportunidade de ajudar a criar essa consciência e preocupação com o meio ambiente. Hotelaria de luxo não precisa ser o oposto de hotelaria sustentável", declarou Lou Ana. "Operamos sem plásticos de utilização única, com engarrafamento próprio.
As amenidades do quarto foram feitas de bambu e material reciclável. A energia é limpa e 100% renovável, algo pouco comum no Brasil. Valorizamos o que o país já traz. Tratamos e reciclamos os resíduos orgânicos e inorgânicos", acrescentou a gerente de impacto social.
*A repórter viajou a convite do Hotel Rosewood