Na vida agitada das cidades, onde o vai e vem de pessoas é constante, é comum encontrarmos bichinhos que, apesar de não possuírem um tutor único, estabelecem laços de dependência e afeto com a comunidade em que vivem. São os chamados animais comunitários, aqueles cães e gatos que encontram refúgio em praças, terminais de ônibus, campus universitário e outros espaços urbanos, cativando o coração de todos que os conhecem.
De acordo com o Projeto de Lei nº 275/23 que regulamenta a permanência de animais comunitários em locais públicos e em condomínios fechados, o termo animal comunitário é aplicado a esses peludinhos que, embora não tenham um guardião exclusivo, conquistam um lugar especial no seio das comunidades que os acolhem.
A cada nome atribuído a eles, como Neguinho, Paçoca, Moleque, e tantos outros, a conexão entre humanos e animais se fortalece, tornando esses bichinhos parte integrante da rotina local. Esses companheiros de quatro patas têm seus lugares favoritos para dormir e hábitos tão rotineiros quanto os dos moradores locais. Muitos escolhem se acomodar sob bancos de praças ou dentro das cabines de segurança, chegando até a se juntar às rondas noturnas dos vigilantes.
A generosidade dos comerciantes e residentes que oferecem alimento e carinho é uma prova do amor mútuo compartilhado. Tais animais se integram harmoniosamente à vida urbana, e alguns se tornam verdadeiras celebridades locais.
No entanto, apesar da aceitação da comunidade, a vida nas ruas não é isenta de perigos, pois esse bichinhos correm o risco de acidentes, envenenamento e maus-tratos. Para assegurar o bem-estar desses animais, os protetores garantem ser essencial que o poder público assuma a responsabilidade de garantir o controle reprodutivo e sanitário, por meio da castração, vacinação e vermifugação. A identificação individual, seja por meio de coleiras e plaquetas, seja, preferencialmente, por microchip, também é uma medida de proteção.
A mensagem transmitida por essa iniciativa é clara: todos os animais merecem amor e respeito, independentemente de terem um lar convencional ou não.
Gatos no campus
Larissa Salgado, 24 anos, estudante de gestão ambiental da Universidade de Brasília (UnB), campus de Planaltina, ao lado de Renata Ribeiro, 38, agrônoma que atua no laboratório de biologia da instituição, têm desenhado o projeto Fupelinos (@fupelinos.unb) com o propósito de auxiliar os gatos que encontram sua morada nos domínios universitários.
O embrião desse projeto começou a tomar forma pouco antes da eclosão da pandemia da covid-19. Inicialmente, o foco estava em realizar mutirão de castração e implementar comedouros e bebedouros pelo campus. Contudo, com a chegada inesperada da crise sanitária, os esforços foram momentaneamente interrompidos. "Renata, que tem estado na linha de frente, ao meu lado, durante esse período, assumiu a responsabilidade de manter a chama acesa, provendo alimento e cuidado aos felinos durante o isolamento social", diz Larissa.
O ano de 2022 trouxe um novo capítulo para o projeto, com a volta das aulas presenciais. Foi nesse contexto que as bases foram reforçadas, e o projeto ganhou uma nova dimensão. "O campus, que por muito tempo contou com a presença marcante de vários gatos, levou-nos a compreender a necessidade de estabelecer uma estrutura ainda mais sólida e abrangente, indo além da castração e do fornecimento de alimentos."
Larissa explica que, com o projeto, a população de gatos foi reduzida, devido ao aumento das adoções. "Antes, a população de gatos na UnB excedia 25 felinos. Graças aos nossos esforços, agora cuidamos de 15 gatos adultos e três adoráveis filhotes, que vieram ao mundo recentemente."
Foi elaborada uma tabela detalhada dos gatinhos, incluindo nomes e características individuais, agregando, assim, organização ao projeto. A alimentação passou por aprimoramentos: agora é realizada duas vezes ao dia, para evitar desperdício e acúmulo de formigas. Além disso, as parceiras montaram uma loja temática, vendendo itens com tema de gatinho para arrecadar fundos.
A estudante também ressalta que iniciativas de educação ambiental estão em andamento, com palestras, cartazes e redes sociais, buscando ampliar perspectivas. "A castração abrange a maioria dos gatos, mas os mais ariscos são exceção. Um mutirão de vacinação V5 foi realizado recentemente, porém, a manutenção constante é um desafio, devido à falta de recursos e à relutância dos felinos", afirma Larissa.
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Laços que se formam
Em um gesto de amor e dedicação aos animais, a jornalista Jane Rocha, de 47 anos, compartilha sua jornada de cuidados que começou com a adoção de uma gatinha encontrada por sua vizinha. O que era para ser temporário se transformou em um laço inquebrável, à medida que a gata se tornou parte integrante de sua vida.
Ao descobrir a gravidez da gata e testemunhar o nascimento e a perda de três filhotes, restou apenas um sobrevivente, reforçando ainda mais o vínculo entre eles. Esse vínculo foi o catalisador para uma missão ainda maior. Inspirada pelo espírito de cuidado e solidariedade, ela começou a notar os animais de rua, independentemente de sua condição física.
Isso a levou a oferecer alimentos aos necessitados e até mesmo estabelecer pontos de fornecimento de ração e água com ajuda das amigas Marina Silva e Jeane Rocha, em lugares frequentados por animais desamparados, como no Clube de Remada Kaluanã, na prainha do clube Asbac. Hoje, vários bichanos circulam pelo local e se tornaram mascotes dos frequentadores da escola.
"Já atuei em outros abrigos, fazendo resgates e ajudando nas doações. Hoje em dia, faço meus resgates sozinha, levo para o veterinário e arrumo dono. Essa é uma causa séria, tem muito bicho na rua e, se não tiver políticas públicas, é como enxugar gelo. Mas me sinto mal vendo bicho com fome", afirma.
Cuidados básicos
De acordo com o professor de medicina veterinária do Ceub Bruno Alvarenga, a assistência para os animais comunitários, sejam cães, sejam gatos, são semelhantes aos oferecidos aos animais domiciliados. "Para prevenir as principais doenças, é importante fornecer água e alimentos de qualidade diariamente, vaciná-los e vermifugá-los regularmente, além de observá-los atentamente e buscar atendimento veterinário caso haja alguma alteração."
O especialista destaca que havendo algum ferimento superficial na pele em um desses animais, caso ele seja manso e permita sua manipulação, é possível lavar inicialmente com água e sabão a ferida, prosseguindo com lavagens com soro fisiológico e, se necessário, um atendimento especializado. "Destaco a importância das feridas abertas serem limpas pelo menos duas vezes ao dia para se remover possíveis ovos de moscas, que podem ser postos sobre a lesão ao longo do dia."
Em caso de traumas maiores, feridas profundas ou de difícil cicatrização, ou animais que não permitem a manipulação, o especialista aconselha levá-los a um veterinário, pois, além do tratamento das lesões, é essencial a avaliação do nível de dor e de uma prescrição para controle.
Contratado
No início de agosto, o Correio contou a história de Charles, um vira-lata de aproximadamente 5 anos que foi "contratado" pelos funcionários do posto de gasolina da QND 60, perto da Praça do Bicalho, no Pista Norte. A vida do bichinho, depois de ser abandonado pelas ruas de Taguatinga Norte, era perambular perto do estabelecimento em busca de comida nas lixeiras.
"Aí a gente começou a cuidar do cachorro, nós e os clientes. Tem um deles que vem todo dia deixar comida para o Charles — ele não gosta muito de comer ração, prefere comida de humano. Outro traz roupas para o frio. A casinha dele foi um cliente que doou. Charles é chique", diz Carlos Alberto Nunes Silva, operador de bomba.
Raimundo Alves trabalha no posto há dois anos e meio e destaca que os dias ficaram muito melhores no local com a chegada de Charles. "O carinho que esse cachorro transmite aos frentistas e aos clientes é uma coisa de outro mundo, a chegada dele só nos trouxe alegria."
No início de agosto, o Correio contou a história de Charles, um vira-lata de aproximadamente 5 anos que foi "contratado" pelos funcionários do posto de gasolina da QND 60, perto da Praça do Bicalho, no Pista Norte. A vida do bichinho, depois de ser abandonado pelas ruas de Taguatinga Norte, era perambular perto do estabelecimento em busca de comida nas lixeiras.
"Aí a gente começou a cuidar do cachorro, nós e os clientes. Tem um deles que vem todo dia deixar comida para o Charles — ele não gosta muito de comer ração, prefere comida de humano. Outro traz roupas para o frio. A casinha dele foi um cliente que doou. Charles é chique", diz Carlos Alberto Nunes Silva, operador de bomba.
Raimundo Alves trabalha no posto há dois anos e meio e destaca que os dias ficaram muito melhores no local com a chegada de Charles. "O carinho que esse cachorro transmite aos frentistas e aos clientes é uma coisa de outro mundo, a chegada dele só nos trouxe alegria."
*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte