A calvície é uma condição que afeta milhões de pessoas no Brasil. Segundo a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), mais de 42 milhões de brasileiros têm essa condição. Para além de uma doença dermatológica, a calvície desgasta e, muitas vezes, acaba com a autoestima dos portadores. As causas estão relacionadas com fatores hormonais e genéticos ainda pouco conhecidos.
Para o médico dermatologista Tiago Silveira, a calvície é, na maioria dos casos, uma deficiência no crescimento de novos fios. "Em grande parte das vezes, não há aumento da queda de cabelo. O que há, na verdade, é uma redução na reposição. Os cabelos, quando eles vão caindo, não voltam ao longo dos anos", explica.
Essa condição, também chamada de alopecia androgenética, afeta tanto mulheres quanto homens. Porém, em homens, há mais incidência, pois a calvície tem relação com hormônios masculinos, como a testosterona. "Mais da metade dos homens têm algum grau de calvície. Pode começar ainda antes da fase adulta e, normalmente, ocorre na fase de adulto jovem", detalha o dermatologista.
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Alguns sintomas desse tipo de alopecia são percebidos pela oleosidade acima do normal, caspa em excesso, coceira, ardência ou vermelhidão no couro cabeludo. Segundo o médico dermatologista Ricardo Fenelon, os principais sintomas em homens são o afinamento dos fios e o aparecimento de "entradas", já em mulheres, há esse afinamento dos fios, mas em outras regiões da cabeça. Além disso, ele enfatiza que queda de cabelo e calvície são diferentes, uma vez que a queda de cabelos, sem ser excessiva, é normal e não se enquadra nessa condição. "É importante salientar essa diferença."
A alopecia androgenética afeta mais da metade dos homens, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), e seu tratamento não é um dos mais fáceis. O transplante capilar é o mais recomendado para resolver esse problema, mas existem outros tratamentos, como medicamentos e produtos tópicos. Mas seja qual for o tratamento, remédios ou procedimentos de consultório, o objetivo é restaurar e estimular os fios. "Todos os medicamentos têm essa função: inibir a ação dos nossos hormônios que, geneticamente, fazem os cabelos caírem e afinarem, e estimular o crescimento dos novos fios", explica o dermatologista Tiago Silveira.
Estética
Para além de afetar a saúde da pele e dos fios, a calvície tem reflexo, principalmente, na autoestima das pessoas, podendo atrapalhar nas relações de trabalho, nas saídas com amigos e até em relações amorosas. Foi pensando nisso que o cabeleireiro e dreadmaker Lucas Preto criou uma técnica para aplicar dreads em pessoas com calvície, sem utilizar qualquer substância danosa para o couro cabeludo. Com esse sonho de transformar a vida das pessoas por meio de um penteado, ele não é o único a usar seu dom como aliado do bem-estar desses indivíduos.
Saiba Mais
Ana Paula Pereira, trancista há mais de 18 anos, é uma dessas profissionais que utiliza técnicas parecida em seus clientes. Ela trabalha no salão Afro Rainha de Sabá, no Setor de Diversões Sul, em Brasília, e explica que já realizou trabalhos que lembram a técnica de Lucas, usando próteses para calvície. O procedimento para a aplicação passa por avaliação e medição da área do couro cabeludo. "Tirando as medidas da área sensibilizada pela perda de cabelo, e depois selecionando o modelo de dread escolhido", detalha.
Depois da escolha do penteado pelo cliente, ocorre a aplicação na área. A trancista explica que o material utilizado pode ser natural, cabelo humano, ou orgânico, dependendo do gosto do cliente. Depois, esse cabelo é "costurado em uma tela de filó".
A trancista, de 35 anos, explica que, em alguns casos, quando a pessoa tem um grande grau de calvície, é necessária a utilização de uma cola para a aplicação. Esse produto não danifica o couro cabeludo e é próprio para esse fim. Para aqueles que têm mais volume de cabelo, é possível fazer penteados afros sem a utilização da cola. A duração do penteado varia de cliente para cliente, e depende do tipo de cabelo, dos cuidados e dos materiais usados, mas segundo Ana Paula, sem a utilização de cola, a técnica dura em média 60 dias. O trabalho artesanal que Ana Paula desenvolve também impacta no bem-estar das pessoas com calvície. "Olhar-se no espelho e se sentir você é uma das nossas pequenas missões", conta a trancista.
Autoestima
Em outra região de Brasília, Érika Cardoso também se dedica ao trabalho de trancista. Trabalhando há mais de nove anos nessa área, a trancista atende no Cruzeiro no Studio Érika Braids. A jovem de 29 anos conta que não utiliza a técnica de Lucas Preto, mas que a conhece. "Acho a técnica muito interessante porque ela realmente traz muita autoestima para quem está sofrendo nesse processo de alopecia."
A trancista também faz penteados em pessoas com alopecia. Érika conta que ela e uma das suas clientes, uma mulher que tem a doença, desenvolveram uma técnica para aplicar tranças em áreas do couro cabeludo já bem afetadas pela condição. No caso da cliente, as duas laterais da cabeça já estão afetadas. Usando uma versão adaptada do entrelace, método em que se faz tranças rasteiras em todo o cabelo e depois se costura telas de pano nos fios com auxílio de cabelo sintético, chamado Jumbo, Érika inovou um penteado tão famoso em salões afros. "A gente consegue preencher a cabeça inteira, fica natural e esconde a alopecia."
Érika conta que se especializou nessa área exatamente para trazer bem-estar para a vida das pessoas, principalmente pessoas negras. "A nossa imagem é muito importante." Além disso, acredita que o trabalho do trancista é um processo de fora pra dentro, ou seja, o que pode ser um simples penteado para alguns transforma completamente a vida de uma pessoa, principalmente na questão social. "Sentir-se bonito ajuda na nossa vida para tudo, seja na amizade, no trabalho, até mesmo para quem quer namorar."
*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte
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