Comportamento

Os sete tipos de descanso: buscando o bem-estar para além do sono

Você sabia que existem sete formas de cansaço que podem minar o bem-estar? Mas não se preocupe, pois podemos exercitar também os sete tipos de descanso

Estudo considerou o sono insuficiente dias antes da imunização: em média, dois meses a menos de células de defesa depois da inoculação -  (crédito: Freepik/Dragana_Gordic)
Estudo considerou o sono insuficiente dias antes da imunização: em média, dois meses a menos de células de defesa depois da inoculação - (crédito: Freepik/Dragana_Gordic)
Ailim Cabral
postado em 27/08/2023 10:00

Quando temos um dia muito estressante no trabalho ou passamos por algum problema emocional mais intenso, a vontade de chegar em casa, tomar um banho e se jogar na cama é quase unânime. Dormir e se desligar do mundo parece ser a solução perfeita para recomeçar revigorado. No entanto, nem sempre as horas extras de sono dão conta de restabelecer nosso organismo. Algumas vezes, acordamos ainda mais cansados do que fomos dormir. Mas por que isso acontece?

Quando pensamos no nosso cansaço, tendemos a considerar apenas o físico ou biológico, que, sim, conseguimos diminuir com algumas horas de sono ou descanso. Mas, acredite, não temos apenas um tipo de cansaço, esse incômodo é multiplicado por sete! Eles são o cansaço físico, mental, sensorial, criativo, emocional, social e espiritual. E, para nos sentirmos completamente bem e descansados, todos eles precisam estar em dia.

Mas como diferenciar um do outro e entender o que estamos precisando naquele momento? A psicóloga Vanessa Gebrim indica sinais de cada um deles:

Físico: dores pelo corpo, rigidez e fadiga.

Mental: exaustão mental, confusão e estafa após longos períodos de concentração ou esforço intelectual.

Sensorial: irritabilidade e sensibilidade a sons, luzes e estímulos excessivos.

Criativo: dificuldade para concatenar ideias e pensamentos, bloqueios criativos que envolvem desde atividades lúdicas até a resolução de problemas do cotidiano.

Emocional: ansiedade, autocobrança excessiva, irritabilidade e sensações de não estar fazendo o suficiente.

Social: angústia, sensação de aflição ou cansaço após passar muito tempo em ambientes cheios ou interagir com muitas pessoas.

Espiritual: Falta de sonhos e propósitos, sensação de estar perdido no mundo.

Parece um pouco assustador pensar as diversas maneiras em que podemos perder nossas energias, mas da mesma forma que existem sete tipos de cansaço, há também os sete tipos de descanso que podemos vivenciar, garantindo uma sensação de bem-estar geral e fugindo daquelas noites em que dormimos e acordamos cansados.

Vanessa explica que o descanso é o que garante o equilíbrio do ser humano como um todo, envolvendo tanto o organismo quanto a mente. "Se não temos momentos de pausa, de folga, isso pode potencializar doenças e causar desequilíbrios grandes", comenta.

Entre eles, destaca-se a síndrome de burnout. Em 2019, a Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou o burnout como um "fenômeno ligado ao trabalho" e descreveu os sintomas como sensação de esgotamento, cinismo ou sentimentos negativos relacionados ao trabalho, além de eficácia profissional reduzida.

Uma pesquisa da International Stress Management Association (Isma-BR), divulgada em 2019, apontou que 32% da população economicamente ativa sofria da síndrome, número que todos os profissionais de saúde garantem ter aumentado durante os anos de pandemia.

De acordo com dados publicados em pesquisas feitas pelo ISMA Brasil, unidade nacional da International Stress Management Association (ISMA), o Brasil é o segundo país no mundo com mais casos de burnout: um em cada três trabalhadores sofrem com sintomas da doença. Além disso, segundo a OMS, o Brasil é o país com o maior número de pessoas com ansiedade, sendo quase 10% da população total, na qual quase 90% sofrem com algum transtorno mental.

Nesse cenário, investir em todos os tipos de descanso e na saúde mental de todos os indivíduos é essencial para manter a saúde em dia. E essa busca passa por diversos aspectos, pelos sete tipos de descanso e pela forma como cada pessoa vai encontrar esse equilíbrio. 

Saindo do automático

Psicóloga, psicanalista, hipnóloga e terapeuta holística reikiana, Kélida Marques acredita que o descanso, além de vital para o bem-estar, é uma forma de encontrar o reequilíbrio espiritual. "Quando nosso corpo repousa, não estamos apenas regenerando células ou recuperando energia física. Estamos mergulhando profundamente em um estado de sintonia com o cosmos, nos conectando espiritualmente", acredita.

Kélida ressalta a importância dos tipos de descanso que não estão ligados ao sono, mas são conscientes, como a meditação e a contemplação. "As pessoas estão vivendo de forma automática, logo o corpo não descansa, não faz pausas relaxantes", alerta.

A terapeuta menciona ainda o uso de medicamentos para dormir, que, embora auxiliem pessoas com insônia e distúrbios nos quais o sono não acontece de forma natural, tem sido feito de maneira exagerada, afetando a produção natural dos hormônios do sono, bem como os hormônios da saciedade e da felicidade.

E como colocar em prática cada tipo de descanso? As profissionais de saúde mental dão as dicas e ressaltam que não é necessário chegar ao ponto da exaustão para investir nesses cuidados.

Descanso físico: sono de qualidade, prática de ioga, massagens e terapias ou exercícios que promovam o alongamento e o relaxamento muscular.

Descanso mental: atividades de lazer, pausas ao longo do dia de trabalho para atividades rápidas e prazerosas, cuidar de plantas ou animais de estimação e hobbies que ajudem a espairecer e se desligar um pouco dos pensamentos.

Descanso sensorial: afastar-se dos estímulos geralmente trazidos pelos equipamentos eletrônicos e tecnológicos, como luzes fortes, música alta, internet. Fuja das telas no período da noite e antes de dormir e invista no conforto.

Descanso criativo: invista no ócio, permita-se não fazer nada, não produzir nada mental ou intelectualmente. Invista em atividade automáticas, que não exigem raciocínio ou decisões, como tomar um banho, molhar as plantas ou fazer uma atividade física.

Descanso emocional: separe momentos de solitude para lidar com os seus sentimentos, permita-se sentir, mesmo as emoções negativas, e lide com elas. Tenha um espaço só seu, onde se sinta seguro para explorar as emoções. A terapia é uma das estratégias que pode funcionar como válvula de escape. Desabafar com amigos e fazer atividades que trazem prazer também auxiliam. Escrever os sentimentos é outra estratégia que pode ajudar no autoentendimento.

Descanso social: passe tempo de qualidade consigo mesmo, não se force a frequentar espaços lotados ou interagir com pessoas que não lhe façam bem. Ao ter interações sociais, invista nas que trazem prazer.

Descanso espiritual: não é algo necessariamente atrelado à religião, mas pode ser encontrado em situações que exercitem a fé e a sensação de propósito, de contribuir para um bem maior. Pode ser exercitado com trabalhos voluntários e conexão com a natureza, por exemplo.

 

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