No cenário em constante evolução da moda, a inteligência artificial (IA) emergiu como uma força transformadora, redefinindo a maneira como a indústria opera, desde o design até o varejo. Com algoritmos avançados e capacidades de aprendizado profundo, a IA está moldando a criação, a produção e o consumo de moda de maneiras que eram inimagináveis há apenas alguns anos.
À medida que a indústria abraça as novas possibilidades, encontrar um equilíbrio entre a inovação tecnológica é essencial para a preservação da criatividade humana e dos valores éticos. No futuro da moda, a colaboração contínua entre humanos e máquinas redefine de forma constante o conceito de estilo e elegância.
Empresas líderes da indústria estão colaborando com a inteligência artificial para acelerar o processo de design. A grife britânica Burberry, por exemplo, lançou uma coleção na qual um algoritmo de IA ajudou a criar padrões e cores com base em quase dois séculos de designs anteriores da marca. Isso permitiu aos designers humanos concentrarem-se em aspectos mais criativos e inovadores.
A empresa de roupas esportivas Adidas introduziu um sistema de personalização que permite aos clientes criarem seus próprios designs usando IA para montar padrões exclusivos e materiais únicos, levando a uma sensação de envolvimento direto no processo de criação.
A inteligência artificial está permitindo níveis inéditos de atendimento às preferências individuais. Algoritmos de recomendação analisam os históricos de compras, estilos preferidos e até dados biométricos para oferecer recomendações de produtos altamente relevantes para cada cliente.
Criação, personalização e experiência
Nessa nova dimensão para o processo criativo dos designers de moda, as plataformas alimentadas por IA podem analisar dados de tendências históricas, preferências do consumidor, mídia social e até arte e arquitetura para identificar padrões e inspirações únicas. Além disso, algoritmos de geração de imagens estão sendo usados para criar estampas, designs e até modelos virtuais para exibir roupas.
"Um dos benefícios é a personalização, em que as marcas podem oferecer produtos individualizados com base nas preferências dos clientes. Além disso, a inteligência artificial auxilia os designers na criação de peças únicas e inovadoras, analisando dados de tendências e comportamento dos consumidores", detalha a designer e estilista de moda Danusa Marinho, especialista em visagismo e coloração pessoal, além de mestre em negócios e estética da moda. Ela atua como figurinista para influenciadores e clipes produzidos em estúdio.
Para Danusa, a IA também contribui para a visualização do produto final e a criação de uma linguagem artística e conceitual, permitindo a exploração de novas perspectivas têxteis e a percepção de cores e combinações. "A tecnologia da IA pode ser usada como uma ferramenta complementar, priorizando sempre a voz e o estilo autênticos do criador."
A estilista destaca que explorar novas tecnologias e estar atualizado com as últimas tendências é uma boa alternativa. Além disso, em vez de ver a IA como uma ameaça, é possível colaborar com ela para complementar ideias e abrir novos caminhos criativos, promovendo a autenticidade dos criadores. "É importante dizer que H&M, Adidas e Burberry podem ter abordagens diferentes e estar em diferentes estágios de implementação da IA, e sua integração pode variar de acordo com as necessidades e objetivos de negócios específicos."
Saiba Mais
Um toque autoral
Em um contexto de contínua evolução, a grife de moda brasiliense Airtificial (@airtificialbrand) surge como um farol de criatividade e inovação na capital, desafiando os limites do convencional e traçando um percurso singular no panorama da moda futurista. Os fundadores Max Rocha, Igor Borges e Pedro Hermano imprimiram sua visão, que impulsiona a marca e se destaca na intersecção entre moda, tecnologia e singularidade.
De acordo com os sócios, o nascimento da Airtificial resulta da fusão de três pilares: inteligência artificial (IA), elemento ar e o toque humano. Essa tríade, enraizada na combinação entre máquinas, natureza e criatividade humana, constitui o âmago da narrativa da marca. Com um foco firmemente ancorado no presente e nas páginas do passado, a Airtificial constrói um universo no qual ideias de futuro são exploradas e ganham forma nas criações.
Os fundadores destacam que a busca pela distinção e pela inovação se manifesta nos elementos de design que ultrapassam as fronteiras entre o real e o virtual. Proveniente de Brasília, a marca abraça a versatilidade das peças, adaptando-se aos diversos momentos do cotidiano local. Por meio da combinação de fotografia e inteligência artificial, os editoriais da marca refletem o seu mundo conceitual.
Tecidos tecnológicos, novas silhuetas e estampas exclusivas permeiam as criações, infundindo-lhes um toque futurista. Como exemplo, a calça SoundWave criada com o intuito de transcender o mero apelo estético, representando a cinemática das ondas sonoras através da estampa, imortalizando a geometria do movimento da areia em várias frequências.
Em um setor frequentemente associado ao consumismo exacerbado, o projeto sobressai pela sua abordagem de slow fashion. A marca mantém estoques mínimos e opta por encomendas sob demanda, assegurando a durabilidade das peças e reduzindo o desperdício. "A marca tem o comprometimento com a responsabilidade ambiental, enfatizado pela reutilização de excedentes materiais em futuras criações de reaproveitamento, fomentando a economia criativa local, proporcionando oportunidades para que os profissionais da moda cresçam em conjunto" reforçam os sócios.
A tecnologia transcende a função meramente instrumental, sendo um pilar fundamental da sua narrativa e adotando a inteligência artificial e outras tecnologias nos processos criativos — desde a geração de IA até a produção.
Desafios e ética
Enquanto a IA oferece oportunidades emocionantes, também traz desafios éticos. Questões sobre propriedade intelectual, autoria e genuinidade surgem à medida que algoritmos produzem designs e artigos de moda. Além disso, a transparência no uso de dados do consumidor e o impacto no emprego humano na indústria são tópicos de debate em curso.
Sustentabilidade
A inteligência artificial está desempenhando um papel crucial na produção eficiente e sustentável de roupas. Processos de fabricação orientados por IA podem otimizar o uso de materiais, minimizar o desperdício e melhorar a precisão dos cortes e das costuras. Isso não apenas reduz custos, mas também ajuda a mitigar os impactos ambientais da indústria da moda. Marcas como a H&M estão usando IA para prever a demanda e ajustar suas cadeias de suprimentos, evitando excesso de produção e, assim, reduzindo resíduos.
Fonte: Karen Vellasco, fashion designer, consultora e stylist
*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte
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