Nos primeiros 30 dias de um recém-nascido, eles exploram o mundo ao seu redor. Ouvir as vozes dos pais é reconfortante, pois ele as reconhece desde o período em que estava no útero. A visão começa a se desenvolver, o bebê começa a fazer sons e ter mais controle sobre a própria cabeça. É nos primeiros meses de vida, também, que passa por saltos de desenvolvimento e começa a entender o mundo e a reconhecer as pessoas ao seu redor. E aqui entra a importância das licenças maternidade e paternidade.
No caso das mães, ou de casais homoafetivos, no qual um dos pais assume um papel de cuidador principal, a licença mínima garantida por lei é de 120 dias, ou seja, quatro meses. Embora muito ainda se discuta sobre o assunto, pois profissionais da saúde e mães defendem que ela deveria durar, pelo menos, seis meses, período mínimo de aleitamento materno, a comparação com os dias oferecidos aos pais, de acordo com a legislação trabalhista, chega a ser chocante.
Os pais ou cuidadores secundários, no caso de casais homoafetivos, têm direito a apenas cinco dias de licença-paternidade ou parental. Embora algumas empresas ofereçam o benefício estendido, ele não costuma ser maior do que um mês, e a prática ainda não é bem difundida.
E qual a importância da presença do pai ou dos dois cuidadores nos primeiros meses de vida do bebê? Os aspectos a serem avaliados são diversos, indo desde o social-econômico da sobrecarga feminina, como a saúde do bebê e a criação de um vínculo forte com o pai.
Vinícius Bretz, consultor de parentalidade da Filhos no Currículo, consultoria de empresas no que diz respeito aos direitos e cuidados parentais, reforça que os benefícios de uma licença-paternidade estendida são globais, favorecendo não só a família, mas também todo o sistema.
"Os pais, as mães e as crianças têm um benefício enorme por estarem próximos em momentos únicos no crescimento e desenvolvimento do filho. A empresa cria uma condição de equidade de gênero, eliminando o viés na contratação de mulheres e provocando os pais a ocuparem seu lugar de cuidado. Percebemos melhora em todos os indicadores, como engajamento, turnover, promoções, desempenho, entre outros", elenca Vinicius.
Ele ressalta ainda os aspectos positivos para a sociedade. De acordo com o especialista, filhos e núcleos familiares que se desenvolvem a partir de uma licença familiar estendida estabelecem uma relação diferente entre os papéis entre pais e mães, quebrando a estrutura sexista da divisão do trabalho.
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CEO e cofundadora da Filhos no Currículo, Michelle Levy Terni acrescenta que é nos primeiros meses de vida que a criança estabelece intimidade e um vínculo de apego seguro com os pais. Ela acredita que tanto as empresas quanto a legislação precisam reconhecer esse período como um direito da criança.
"Acredito que a lei das licenças reflete uma defasagem da sociedade como um todo, que não entende os diversos benefícios que esse período com o bebê traz não só para a família, mas também para as empresas e para a equidade de gênero", afirma Michelle.
Ela defende ainda o movimento crescente, mas ainda discreto, da implementação da licença parental. Nesses casos, o período de dias em casa com o bebê pode ser compartilhado pelas diferentes figuras parentais, tirando a carga maior de cuidado da figura materna e trazendo mais protagonismo para as figuras paternas.
A saúde da família
Coordenador da pediatria do Hospital Santa Helena, da Rede D'Or, o pediatra Thallys Ramalho acrescenta o ponto de vista médico no que diz respeito aos benefícios da presença dos dois cuidadores na vida da criança. "A primeira coisa a mencionar, e a mais importante, é a criação do vínculo paterno nos primeiros dias de vida. Isso tem um impacto enorme a médio e longo prazos, uma vez que o pai se torna uma referência para a criança."
Os benefícios, além de afetivos, permitem um desenvolvimento mais pleno dos aspectos cognitivos, neurológicos e psicomotores da criança, que está em um ambiente mais propício para que ela se desenvolva.
Thallys menciona ainda a importância para a saúde da mãe durante o puerpério. Ter uma pessoa com quem dividir as responsabilidades permite que a mulher tenha mais cuidado com a própria saúde e com os cuidados necessários no pós-parto. "Existem estudos que mostram, inclusive, que a presença constante do pai diminui a ocorrência do blues puerperal."
A criança também se desenvolve com uma visão social mais saudável, enxergando a igualdade de gênero no que diz respeito à divisão de tarefas — meninos que crescem com essa configuração costumam ser pais melhores. O pediatra acrescenta os benefícios para o pai, que costuma se reinventar como profissional e rever prioridades na própria vida.
Atualmente, em comparação há 10 anos, quando começou a atuar na área, o pediatra percebe muito mais pais presentes nas consultas médicas e homens que assumem a responsabilidade sozinhos. "Isso pode salvar a vida de uma criança, pois, em situações de emergências, não são poucos os pais que não sabem sobre as alergias ou os detalhes sobre a saúde da criança, que acaba ficando desamparada", alerta.
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