Na pandemia, a mortalidade por doenças infecciosas no Brasil chegou a 17,2% do número total de óbitos em 2020 e 26,6% em 2021. Antes da pandemia, 5% das mortes em nosso país eram decorrentes de doenças infecciosas, mas em 1930 esse número chegava a 50%, e essa proporção deveria ser ainda maior no século 19, antes de Osvaldo Cruz. Neste sábado (5 de agosto), comemora-se o Dia Nacional da Saúde, em homenagem ao dia do nascimento desse grande médico, cientista, epidemiologista, sanitarista e gestor público.
Oswaldo Cruz é um dos maiores pilares da história da saúde no Brasil. Na sua luta patriótica pela saúde, foi uma das mais fortes lideranças no avanço da política sanitária impulsionando definitivamente o progresso do país. Numa pesquisa sobre percepção pública de ciência e tecnologia em nosso país, Oswaldo Cruz foi o cientista mais lembrado pelos entrevistados. É indiscutivelmente um herói nacional. Morreu em 1917, aos 44 anos.
Voltando ao conceito de saúde
Em 1948, a Organização Mundial da Saúde (OMS) formulou uma definição de saúde bem arrojada para a época e que é válida até os dias de hoje: saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não simplesmente a ausência de doença. Já nessa época, o conceito era alvo de muitas críticas. Mesmo assim, nunca foi adaptado pela OMS. Elenco a seguir duas das mais importantes críticas.
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1- O termo “estado de completo bem-estar” colabora para o fenômeno de medicalização da sociedade. Medicalização define o fenômeno em que um comportamento ou uma condição física ou mental passa a ser tratado como se fosse um problema médico, recebendo um rótulo de doença e opções de tratamento. Dessa forma, é difícil olhar para os lados e encontrar alguém que seja tão “completo” assim.
A medicalização não para de crescer. Percebemos limites da normalidade de marcadores biológicos cada vez mais estreitos, além de um crescente número de novas doenças. O que não era diabetes agora se chama pré-diabetes. O que não era pressão alta, agora é pré-hipertensão. Transtorno de déficit de atenção, que tinha que começar na infância, agora já pode ter seu início na vida adulta. Quase não existe mais tristeza. Qualquer sentimento parecido é encarado como depressão. Muitas dessas situações são bem corroboradas por estudos científicos robustos, outras menos.
Saiba Mais
O centro da discussão quando se fala em medicalização é a força da indústria farmacêutica, num processo que impulsiona a sociedade civil, os profissionais de saúde, os órgãos do governo e a mídia a retroalimentarem a cultura de que todo organismo vivo da espécie sapiens, a princípio, deve ter alguma doença ou precisa de algum remédio. Todos esses atores têm seu papel na medicalização.
2- Os tempos mudaram. Hoje em dia, morre-se mais tardiamente, e a chance de desenvolver doenças crônicas é maior, o que dificilmente permite uma situação de “completo bem-estar”. Hábitos de vida modernos estão associados aos alarmantes índices de obesidade atuais e ao aumento da prevalência de diabetes e hipertensão arterial. Envelhecer com alguma doença crônica é quase a regra, e essa não é uma condição restrita aos países ricos.
A definição da OMS não contempla a capacidade humana de adaptação a uma doença crônica com a preservação do bem-estar. Uma forma mais moderna de definir a saúde seria “a capacidade de adaptação para a manutenção da independência e da sensação de bem-estar.” Ao invés de um estado de completo bem-estar, o “equilíbrio dinâmico entre oportunidades e limitações também parece uma definição de saúde mais interessante”.
*Dr. Ricardo Afonso Teixeira é professor do curso de medicina do Unieuro e neurologista do Instituto do Cérebro de Brasília
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