Comportamento

Psicóloga brasiliense usa as redes para acolher brasileiros pelo mundo

Bárbara Andrade desenvolve um trabalho de escuta ativa com imigrantes, expatriados e refugiados brasileiros pelo mundo. Projetos incluem, ainda, assessoria jurídica

Letícia Mouhamad*
postado em 08/08/2023 07:57
A psicóloga Bárbara Andrade é pós-graduanda em Saúde Mental e Desenvolvimento Humano -  (crédito: Divulgação/Bárbara Andrade)
A psicóloga Bárbara Andrade é pós-graduanda em Saúde Mental e Desenvolvimento Humano - (crédito: Divulgação/Bárbara Andrade)

Os contextos migratórios sempre marcaram a vida da psicóloga Bárbara Andrade, que passou a infância presenciando as idas e vindas de seus familiares. Para o avô, por exemplo, vir para Brasília como candango, apesar de desafiador, permitia-lhe um recomeço, com novas oportunidades. Foi, assim, observando as etapas do sonho em mudar-se de país, que nasceu o interesse pelo assunto.

“Ver as consequências da migração de perto pode nos trazer uma compreensão da vida muito ampliada e diversa. Oferecer acolhimento psicológico aos cidadãos do mundo fortalece e dá contorno aos meu valores mais importantes como mulher, cidadã e psicóloga”, comenta. Em sua conta no Instagram (@escutababi), a profissional desenvolve um trabalho de escuta ativa para a mulher que decide imigrar, por meio de textos, lives e informações.

Nessa troca de experiências, as principais queixas se referem a relacionamentos afetivos, a dificuldades em relação à carreira, à jornada de trabalho e à distância da família. Futuramente, Bárbara pretende incluir, em seu atendimento, o conhecimento do direito internacional como uma ferramenta para as mulheres se protegerem no âmbito jurídico.

“Através de meus projetos e redes sociais quero trazer cada vez mais a igualdade de gênero e o empoderamento às mulheres e às meninas. Estou iniciando um projeto com advogadas e temos feitos fóruns de estudo, com troca de informações no âmbito da psicologia e do direito. Muitas vezes, as mulheres imigrantes carregam muitas culpas por deixarem os filhos e a família, somadas a situações de violência e de abuso”, relata.

Recentemente, a psicóloga lançou o podcast Ponto de Partida, com a advogada e também imigrante Nathalia Allaion, que visa dar voz àqueles que estão em movimento. Os ouvintes, segundo ela, sentem-se acolhidos pelas histórias relatadas.

E, o mais legal? Os recados chegam de todos os cantos do mundo. Certa vez, as mensagens vieram de brasileiros na China; noutra, de uma mulher expatriada na Polônia, que disse sentir “um quentinho no coração” com cada episódio. O programa acontece toda quarta-feira, às 10h, no horário do Brasil, e é transmitido pelas principais plataformas de áudio.

A psicóloga Bárbara Andrade é pós-graduanda em Saúde Mental e Desenvolvimento Humano
A psicóloga Bárbara Andrade é pós-graduanda em Saúde Mental e Desenvolvimento Humano (foto: Divulgação/Bárbara Andrade)

Duas perguntas para Bárbara Andrade

É possível migrar e pertencer ao novo sem perder as raízes?

Não só possível, como fortemente encorajado por nós, psicólogos interculturais. Não se trata de um processo tão simples e há situações em que ajuda especializada é indicada. Muito se fala de como migrar é romper com os referenciais conhecidos. Preservar a identidade do país de origem pode ser um importante indicador de saúde para os imigrantes. Eu costumo reforçar que emigrar não exige que você abandone sua cultura de origem, mas também não significa que você deva se isolar ou rejeitar completamente a cultura do país de acolhimento. Descobrir um ponto de apoio mútuo entre a cultura local nova e as tradições brasileiras é o caminho mais seguro.

Quais são as principais demandas psicológicas das mulheres imigrantes e refugiadas?

Atualmente, cerca de 80% dos atendimentos psicológicos individuais que ofereço são para mulheres imigrantes e expatriadas. Nesse contexto, tive convicção de que a atuação ao receber essas mulheres precisa ser numa perspectiva de luta por garantia de direitos, pois elas enfrentam o deslocamento de forma muito particular. A demanda mais recorrente é a de violência de gênero, sobretudo, apoiada no estereótipo da "mulher brasileira”. Já conheci pacientes, por exemplo, que tentam esconder sua nacionalidade para não serem violentadas com comentários e demais agressões tão comuns. Outra demanda frequente diz respeito a mulheres sendo forçadas a trabalhar em condições impróprias, com salários injustos e em atividades que vão contra a descrição de cargo inicial. É comum escutar que os serviços mais oferecidos a elas são aqueles que envolvem cuidado. Por fim, percebo duplas jornadas que também implicam responsabilizar a mulher em relação aos membros da família que migraram, mas também os que permaneceram no país de origem. Mulheres continuam gerenciando papéis que extrapolam seus limites, mesmo diante da mudança de país.

*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte

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