Até 16 de julho o artesanato brasileiro mostra toda a sua força durante a 23ª edição da Fenearte, maior feira do setor da América latina e que reúne mais de 5 mil expositores de todo o Brasil e do mundo no Recife. Com investimento de R$ 8 milhões e expectativa de movimentação financeira superior a R$ 40 milhões, o evento já faz parte do calendário de eventos pernambucano e tem importante impacto socioeconômico na vida dos artesãos.
Os números da Fenearte são superlativos. Em 12 dias de evento, são esperadas 300 mil pessoas circulando na área de 25 mil m² montada no Centro de Convenções de Pernambuco, em um misto de artesanato, cultura, decoração, moda e gastronomia. Logo na entrada da feira, é possível conhecer um pouco do trabalho de grandes nomes do artesanato pernambucano. A Alameda dos Mestres reúne 64 mestras e mestres que têm o seu trabalho reconhecido nacional e internacionalmente.
A exposição As loiceiras de Tacaratu – A arte milenar das mulheres do meu sertão, com fotos de Ana Araújo, convida os visitantes a conhecerem um pouco da arte do povo indígena Pankararu, que produz loiças – como se fala louça no português arcaico – de barro usadas nos rituais religiosos da aldeia. O município de Tacaratu fica no sertão pernambucano a 444 quilômetros do Recife.
Saiba Mais
No Espaço Janete Costa, localizado antes da entrada da feira, é possível ver como o artesanato pode ser inserido em projetos arquitetônicos. As peças que compõem os ambientes estão tanto em exibição quanto à venda. Já a moda é representada tanto nas peças expostas na loja do Mape (Moda Autoral de Pernambuco) quanto nos desfiles produzidos por coletivos e estudantes de moda.
Há ainda uma vasta programação de shows em dois palcos. Pelo palco de Cultura Popular passarão mais de 40 artistas e grupos, e pelo Palco Alternativo duas apresentações diárias movimentam a programação cultural. O Salão de Arte Popular Ana Holanda, o Salão de Arte Popular Religiosa e a Galeria de Reciclados são mostras que reúnem trabalhos inscritos em todo o país e previamente selecionados. O público também poderá votar os melhores projetos.
Presença de Brasília
O Distrito Federal está presente na Fenearte com um estande ocupado por sete artesão locais. Escolhidos por meio de edital da Secretaria de Turismo do DF, eles representam um pouco da arte brasiliense. A artesã Verônica Brilhante, do Núcleo Rural Boa Esperança, em Ceilândia, participa da feira desde 2011, vendendo suas flores desidratas. “No primeiro ano que vim, não tinha noção da grandiosidade do que era isso aqui e vendi tudo o que trouxe em dois dias”, conta. “A Fenearte mudou a minha vida. Teve um ano em que, ao sair daqui, comprei um carro.”
A florista aprendeu o ofício com a mãe, Maria Daho. “Aos 3 anos, fiz o meu primeiro arranjo”, lembra. Hoje, Verônica vive de sua arte. “As pessoas precisam entender que nós vivemos disso. É o meu ganha-pão. Com o meu trabalho, coloco comida na mesa, pago as faculdades das minhas filhas. E eventos como este são fundamentais para dar visibilidade ao artesão.”
Além da banca que mantém na Torre de TV, a Via Aromática (@viaaromatica) aceita encomendas pelas redes sociais. O trabalho de Verônica consiste na criação de buquês e arranjos com flores do cerrado desidratadas. “Eles duram até cinco anos”, detalha. Para esta edição, ela levou pequenos arranjos em potes de cerâmica, também produzidos por ela, e sementes desidratadas, que representam Brasília. Outros dois artesãos brasilienses levaram flores desidratas para a Fenearte.
Estreante na feira, o artesão Murilo De Paula expõe orixás em cerâmica. Seguidor do candomblé, ele começou a criar as peças há um ano e meio, quando criou a Marru Arte Cerâmica, e costuma vendê-las em feiras locais, além de receber encomendas pelas redes sociais (@marruarteceramica).
Ator de formação, Murilo conta que começou a fazer cerâmica há três anos quando morava em São Paulo. Há um ano e meio se mudou com a companheira para Brasília e decidiu investir na carreira de artesão. Além dos orixás, a Marru produz porta-incenso e lamparinas a óleo de azeite em cerâmica, assim como colares com a espada de São Jorge.
Já Selma Carvalho (@biojoiasselmacarvalho) levou suas biojoias, feitas com sementes do cerrado, como baru, buriti, sucupira, jatobá, uva da Índia e outras, colhidas, muitas vezes, das árvores próximas à Torre de TV, onde ela mantém uma banca. Antes de trabalhar com biojoias, Selma era tecelã. Ela explica que, como as sementes do cerrado são mais menores, suas peças fazem sucesso em quem procura peças mais delicadas. Um expositor com utensílios em marchetaria e cipó completa o estande brasiliense.
Durante os 12 dias de feira, diversas oficinas são realizadas com o público interessado. Estão disponíveis aulas técnicas em cerâmica, com a fabricação de utilitários; têxteis, como macramê e renascença; e reaproveitamento de materiais, como bordados com sacolas plásticas e instrumentos percussivos a partir de sucatas.
A jornalista viajou a convite da Agência de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco (Adepe)
Serviço
23ª Feira Nacional de Negócios do Artesanato (Fenearte)
De 5 a 16 de julho, no Centro de Convenções de Pernambuco, das 14h às 22h