Durante a adolescência, quem nunca usou alguma peça de roupa com as estampas da bandas como Guns N' Roses e The Rolling Stones? Quando retorna-se ao passado, pensar nessa possibilidade é quase impossível, ainda que não haja tanto apreço assim pelos respectivos grupos musicais. E mesmo que a sua vibe não seja baseada em algo relacionado à música, um personagem de filme ou série, certamente, já fez parte do seu look.
Esse elemento sempre se fez presente na identidade visual de muitos. Não somente pela admiração ou carinho pelo artista em si, mas pela forma como o item agrega e traz um estilo muito diferente. Para entender um pouco como esse movimento atemporal surgiu, é preciso pegar carona em uma máquina do tempo e analisar alguns aspectos. Mábel De Bonis, CEO da Fashion Campus, explica que a camiseta nasceu como peça íntima e, no início do século 20, ganhou mais visibilidade ao se tornar um item interno para absorção de suor e frio.
Um tempo depois, já na década de 1950, seu protagonismo dá as caras no corpo do ator Marlon Brando no filme Uma rua chamada desejo e torna-se um item principal, deixando de lado o seu propósito natural quando surgiu na moda. "A partir desse momento, passa a ser uma roupa que representa a rebeldia jovem", detalha Mábel. Sinônimo desse movimento, em 1955 James Dean aparece como um precursor dessa trajetória entre a peça e o universo jovem, uma relação que calharia bem, já que o item seria uma peça panfletária do vestuário, externando preferências, paixões ou contestações.
Paixão pelo tempo
De acordo com Mábel, as camisetas viraram aliadas da publicidade, em especial na década de 1970. "Ativistas se apropriaram das t-shirts estampadas em protestos e explodem as camisetas de bandas, como peça básica representativa da contracultura. Ela passou a ser usada por grupos políticos, hippies e punks como forma de comunicação, por meio de mensagens estampadas. As mulheres também passaram a usar as t-shirts em modelagens que iniciam a estética agênero", ressalta. Tal comportamento também propiciou, como descreve a profissional, o nascimento dessa idolatria por alguma banda ou algum artista.
Fazendo uma longa viagem para o futuro e rompendo uma linha temporal, a contínua paixão por esse tipo de camiseta, sobretudo em 2022, reacendeu ainda mais, acredita Mábel. Ela e muitos outros blogs especializados defendem que a vontade de usar tais peças, dessa vez de times ou personagens de futebol, veio com o desfile da Balenciaga dois anos antes. Essa ruptura, para muitos, vem crescendo ainda mais. Não somente pelo mundo, mas, também, nacionalmente. Afinal, o Brasil também dispõe de seus ídolos.
À moda brasileira
Nos Estados Unidos, uma camiseta com o rosto do rapper Tupac ou do trapper Travis Scott é sinônimo de elegância e ousadia. Em terras brasileiras, obviamente, esse gosto também é importado. No entanto, outras caras bem conhecidas e diferentes começaram a estampar o look de muitas pessoas. Não somente para externar um gosto pessoal, mas para ser o diferente entre os iguais.
A consultora de imagem Pamella Guimarães Flores acredita que o desejo pelo item vem do público mais jovem. Uma forma de ser mais descolado e esportivo. "Hoje, com a febre de consumo por essas peças que se popularizaram e viraram moda, podemos encontrá-las não só em lojas especializadas e em shows, mas em camelôs, fast-fashion e e-commerce", ressalta.
Seu crescimento imediato também está relacionado ao uso do material por meio de merchandising para divulgar bandas, empresas, artistas, políticos e jogadores. Com o tempo, o que era usado pelos fãs somente nos show virou algo tradicional do dia a dia, como uma maneira de se autoexpressar e prestar um papel de insatisfação contra a sociedade. Além disso, as peças com frases de músicas pop e populares não são algo apenas dos mais novos. A velha guarda também adora essa moda.
Saiba Mais
Compondo os looks
Para quem é fã do streamer Casimiro Miguel, fenômeno da Twitch, abrir sua live e vê-lo com uma camisa que estampa seu rosto ou de outros jogadores de futebol — e até outros esportes — virou algo normal. O rapper Matuê também já foi visto várias vezes com, acredite se quiser, uma peça que leva seu próprio rosto. Essa ideia, certamente, ajudou a fomentar e estimular o uso entre quem os admira. Ainda que seja algo simples, Pamella destaca que o item pode ser mesclado com várias outras roupas.
"A camiseta é um item essencial no guarda roupa e cabe em todos os estilos, do mais esportivo ao mais clássico. Só depende da composição e dos acessórios certos para cada ocasião. Com a famosa calça jeans, a peça com estampa já foi símbolo de rebeldia e jovialidade. Com uma calça de alfaiataria e um blazer pode deixar uma mulher elegante e moderna", afirma a profissional.
O importante, na visão de Pamella, é saber qual o seu maior desejo na hora de montar a própria identidade visual. A imagem que passamos está muito além do que falamos e fazemos, ela está no que vestimos e como usamos essa vestimenta. A camiseta com estampa diz muito sobre quem as adota, então usá-la de qualquer banda, artista e pessoa sem entender o que realmente isso significa pode passar uma imagem irreal do que você realmente é", finaliza.